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Em seu discurso anual, o presidente russo ressaltou a capacidade demonstrada pelo país de enfrentar sanções e garantir o desenvolvimento soberano em níveis superiores à média europeia. “Não iniciamos a guerra no Donbass, mas tudo faremos para acabar com ela e erradicar o nazismo”. Aos recém-ressurgidos aspirantes a intervencionistas, Putin lembrou “o destino daqueles que outrora enviaram seus contingentes ao território do nosso país” e advertiu que as consequências agora seriam “muito mais trágicas”.
Em seu discurso anual à Assembleia Federal da Rússia, o presidente Vladimir Putin convocou o país a se desenvolver com soberania, domínio da alta tecnologia e elevados valores civilizacionais; agradeceu aos cidadãos russos pela unidade diante da tarefa de desnazificar e desmilitarizar o regime de Kiev e dar fim à guerra no Donbass, apesar dos sacrifícios e sanções, saudou o avanço dos BRICS frente ao G7 e a conquista, pela economia da Rússia, da primeira posição na Europa em paridade de poder de compra.
O presidente russo estabeleceu metas estratégicas para o país, inclusive aumentando o prazo de planejamento para seis anos, e chamou a aumentar a participação dos salários no PIB e a digitalização da economia.
Também advertiu aos aprendizes de Napoleão e Hitler sobre recentes arroubos, ameaças e acusações. Além, claro, de lembrar aos afoitos da conhecida condição de maior potência nuclear e dotada de armas hipersônicas.
E, diante das recentes provocações sobre o possível “envio de tropas” contra a Rússia, Putin fez lembrar “o destino daqueles que outrora enviaram seus contingentes ao território do nosso país.” “Mas agora as consequências para possíveis intervencionistas serão muito mais trágicas”, ele enfatizou.
“Cada Discurso à Assembleia Federal é, antes de mais, um olhar para o futuro”, disse o presidente russo. “E hoje falaremos não só dos nossos planos imediatos, mas também das tarefas estratégicas, daquelas questões cuja solução considero de fundamental importância para o desenvolvimento confiante e de longo prazo do país.”
“Vocês e eu já provamos que somos capazes de resolver os problemas mais complexos e responder a quaisquer desafios mais difíceis. Por exemplo, repelimos a agressão do terrorismo internacional, preservamos a unidade do país e não permitimos no devido tempo que fosse despedaçado.”
“Apoiamos os nossos irmãos e irmãs, a sua vontade de estar com a Rússia, e este ano marca o décimo aniversário da lendária ‘Primavera Russa’. Mas mesmo agora, a energia, a sinceridade, a coragem dos seus heróis – crimeanos, Sebastopol, residentes do rebelde Donbass, o seu amor pela Pátria, que carregaram através de gerações, certamente causa orgulho”, acrescentou Putin.
“Foi assim que, com o mundo inteiro, não só forçamos o retrocesso da ameaça mortal de uma epidemia global, mas também mostramos que valores como a misericórdia, o apoio mútuo e a solidariedade prevalecem na nossa sociedade.”
“E hoje, quando a nossa Pátria defende a sua soberania e segurança, protege a vida dos compatriotas no Donbass e Novorussia, o papel decisivo nesta luta justa pertence aos nossos cidadãos, à nossa unidade, à devoção ao nosso país natal, à responsabilidade pelo seu destino.”
“Apesar de todas as provações e da amargura das perdas, as pessoas são inflexíveis nesta escolha e confirmam-na constantemente com o desejo de fazer o máximo possível pelo país e pelo bem comum.”
“Na produção eles trabalham em três turnos – tantos quantos a frente precisar. Toda a economia, e esta é a base industrial e tecnológica da nossa vitória, tem demonstrado flexibilidade e resiliência. Gostaria agora de agradecer aos empresários, engenheiros, trabalhadores e trabalhadores rurais pelo seu trabalho responsável e árduo no interesse da Rússia.”
Putin se dirigiu aos partidos representados no parlamento, aos quais agradeceu pela coesão em torno dos interesses nacionais. “O sistema político russo é um dos pilares da soberania do país. Continuaremos a desenvolver instituições democráticas e não permitiremos que ninguém interfira nos nossos assuntos internos.”
O OCIDENTE E SEUS HÁBITOS COLONIAIS
O chamado Ocidente – afirmou Putin -, “com os seus hábitos coloniais, o seu hábito de incitar conflitos nacionais em todo o mundo, procura não apenas restringir o nosso desenvolvimento – em vez da Rússia, eles precisam de um espaço dependente, descarnado e moribundo, onde possam fazer o que quiserem”.
“Em essência, gostariam de fazer à Rússia a mesma coisa que fizeram em muitas outras regiões do mundo, incluindo a Ucrânia: trazer a discórdia para a nossa casa, para enfraquecê-la a partir de dentro. Mas calcularam mal – isto já é algo absolutamente óbvio hoje: foram confrontados com a posição firme e a determinação do nosso povo multinacional.”
“Todos nós, cidadãos da Rússia, defenderemos juntos a nossa liberdade, o direito a uma vida pacífica e digna, determinaremos o nosso próprio caminho nós próprios e apenas nós próprios, protegeremos a ligação entre gerações e, portanto, a continuidade do desenvolvimento histórico, resolveremos os problemas que o país enfrenta, com base na nossa visão de mundo, nas nossas tradições, nas crenças que passaremos aos nossos filhos.”
“A defesa e o fortalecimento da soberania acontecem hoje em todas as direções e, sobretudo, claro, na frente, onde os nossos soldados lutam com firmeza e abnegação”, acrescentou Putin, sublinhando que todo o povo “se curva diante de sua façanha, lamenta os mortos e a Rússia sempre se lembrará de seus heróis caídos” – o que foi acompanhado por um minuto de silêncio.
“Não iniciamos a guerra no Donbass, mas, como já disse mais de uma vez, tudo faremos para acabar com ela, erradicar o nazismo, resolver todas as tarefas da operação militar especial, proteger a soberania e a segurança dos nossos cidadãos.”
KINZHAL, ZIRCON, AVANGARD E SARMAT
“As forças nucleares estratégicas estão em estado de total prontidão para uso garantido. O que planejamos no domínio dos armamentos, de que falei no discurso de 2018 , foi tudo feito ou está sendo concluído”, disse Putin, nomeando os mísseis hipersônicos Kinzhal, Zircon e Avangard, além dos sistemas laser Peresvet. Os primeiros mísseis balísticos pesados Sarmat também foram entregues às tropas.
“A Rússia está pronta para dialogar com os Estados Unidos da América sobre questões de estabilidade estratégica”, disse Putin, questionando, dadas as medidas hostis contra a Rússia, se irão “discutir seriamente conosco questões de estabilidade estratégica, ao mesmo tempo que tentam infligir, como eles próprios dizem, uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha”.
Putin se referiu a outro exemplo de hipocrisia, as acusações infundadas de que a Rússia iria colocar armas nucleares no espaço. “Essas falsidades são um estratagema apenas para nos arrastar para negociações nos seus próprios termos, que são exclusivamente benéficas para os Estados Unidos.”
“Ao mesmo tempo, bloqueiam a nossa proposta, que está na sua mesa há mais de 15 anos, o projeto de tratado sobre a prevenção da colocação de armas no espaço exterior, que preparamos em 2008.”
Putin acrescentou que a Rússia tem “todas as razões” para considerar que os acenos das atuais autoridades americanas para negociações sobre estabilidade estratégica são “demagogia”. “Na véspera das eleições presidenciais dos EUA, eles apenas querem mostrar aos seus cidadãos e a todos os outros que ainda governam o mundo.”
ARAPUCA ARMAMENTISTA
Putin disse que o Ocidente está tentando arrastar a Rússia “para uma corrida armamentista, esgotando-nos, repetindo o truque que conseguiram nos anos 80 com a União Soviética”. “Deixem-me lembrá-los: em 1981-1988, os gastos militares da URSS representaram 13% do produto nacional bruto.”
“Portanto, nossa tarefa é desenvolver o complexo industrial de defesa de forma a aumentar o potencial científico, tecnológico e industrial do país. É necessário distribuir os recursos da forma mais racional possível e construir uma economia eficaz das Forças Armadas, para atingir o máximo por cada rublo de gastos com defesa.”
É importante – sublinhou o presidente russo – que “aceleremos o ritmo de resolução de problemas sociais, demográficos, de infra-estruturas e outros e, ao mesmo tempo, alcancemos um nível qualitativamente novo de equipamento para o exército e a marinha”.
Putin acrescentou que é urgente reforçar os agrupamentos na direção estratégica ocidental, a fim de neutralizar as ameaças associadas à expansão da Otan para leste e envolvimento da Suécia e da Finlândia na aliança.
CONSEQUÊNCIAS MUITO MAIS TRÁGICAS
“O Ocidente provocou conflitos na Ucrânia, no Oriente Médio e em outras regiões do mundo e continua a mentir. Agora, sem qualquer constrangimento, declaram que a Rússia alegadamente pretende atacar a Europa. E, ao mesmo tempo, eles próprios escolhem os alvos para atacar o nosso território, escolhem os meios de destruição mais eficazes. Começaram a falar sobre a possibilidade de enviar contingentes militares da Otan para a Ucrânia.”
“Lembramos o destino daqueles que outrora enviaram seus contingentes ao território do nosso país. Mas agora as consequências para possíveis intervencionistas serão muito mais trágicas”, enfatizou Putin.
“Em última análise, eles têm de compreender que também temos armas – sim, eles sabem disso, acabei de dizer – que podem atingir alvos no seu território.”
“E tudo o que eles estão inventando agora, como assustam o mundo inteiro, que tudo isso realmente ameaça um conflito com o uso de armas nucleares e, portanto, a destruição da civilização – eles não entendem isso, ou o quê?”, questionou o presidente russo.
“Estas, vocês sabem, são pessoas que não passaram por provações difíceis – já esqueceram o que é a guerra. Nós, mesmo a nossa geração atual, passamos por provações tão difíceis durante a luta contra o terrorismo internacional no Cáucaso, e agora, no contexto do conflito na Ucrânia, está acontecendo a mesma coisa. Para eles tudo isso é algum tipo de desenho animado.”
RACISMO, SUPREMACIA E EXCEPCIONALISMO
“De fato, a russofobia, como outras ideologias de racismo, superioridade nacional e excepcionalismo cega e priva a razão”, destacou Putin. “As ações dos Estados Unidos e dos seus satélites levaram, na verdade, ao desmantelamento do sistema de segurança europeu. Isso cria riscos para todos.”
“É óbvio que é necessário trabalhar para formar um novo contorno de segurança igual e indivisível na Eurásia num futuro próximo. Estamos prontos para uma conversa substantiva sobre este tema com todos os países e associações interessadas.”
“Ao mesmo tempo, voltarei a sublinhar o que penso que é importante para todos hoje: sem uma Rússia soberana e forte, não é possível nenhuma ordem mundial duradoura.”
BRICS E ORDEM MULTILATERAL
“Esforçamo-nos por unir os esforços da maioria mundial para responder aos desafios globais, incluindo a rápida transformação da economia mundial, do comércio, das finanças e dos mercados tecnológicos, quando muitos antigos monopólios e os estereótipos a eles associados estão em colapso”, assinalou Putin.
Já em 2028 – apontou o presidente -, “os países BRICS, tendo em conta os Estados que recentemente se tornaram membros desta associação, criarão 37% do PIB global, enquanto o número do G7 cairá para menos de 28%”.
“Há 10-15 anos a situação era completamente diferente. A participação no PIB mundial em paridade de poder de compra do G7 em 1992 era de 45,7%, e do BRICS, mesmo sem levar em conta a expansão – em 1992 essa organização não existia, mas os países do BRICS – apenas 16,5%”.
“Em 2022 , os BRICS já têm 31,5% e o G7, 30,3%. Em 2028, a situação mudará ainda mais em relação aos BRICS: será de 36,6%. Para os “sete”, a previsão é de 27,8%. Não há como escapar disso, esta é uma realidade objetiva, assim será aconteça o que acontecer, inclusive na Ucrânia.”
“Nós, juntamente com os Estados amigos, continuaremos a criar corredores logísticos eficientes e seguros e a construir uma nova arquitetura financeira global, livre de interferências políticas, numa base tecnológica avançada”, destacou Putin.
CORTANDO O GALHO DO DÓLAR
Ele assinalou que é o próprio Ocidente está desacreditando as suas próprias moedas e o seu sistema bancário – “estão cortando o ramo em que estiveram sentados durante décadas”.
“Interagimos com os parceiros com base nos princípios da igualdade e do respeito pelos interesses de cada um e, portanto, cada vez mais Estados estão aderindo ativamente ao trabalho da Comunidade Eurasiática, da OCX, dos BRICS e de outras associações com a participação da Rússia”.
“Vemos grandes perspectivas na construção de uma grande parceria eurasiática, combinando processos de integração no âmbito da União Econômica Eurasiática e da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ da República Popular da China”.
“O diálogo Rússia-ASEAN está evoluindo positivamente. As cúpulas Rússia-África foram um verdadeiro avanço. A Rússia tem boas relações de longa data com os Estados árabes, com os quais busca aprofundar todo o leque de parcerias, assim como com a América Latina, disse Putin.
Ele também chamou a aumentar os esforços para promoção da língua russa e sua cultura multinacional, em primeiro lugar, claro, na CEI [Estados ex-soviéticos] e no mundo como um todo.
RÚSSIA CRESCE MAIS QUE G7
Putin revelou que, no ano passado, a economia russa cresceu a uma taxa superior à mundial: “neste indicador, estamos à frente não só dos países líderes da União Europeia, mas também de todos os Estados do chamado G7”.
“Hoje, a percentagem de indústrias não relacionadas com recursos na estrutura de crescimento ultrapassa confiantemente os 90%, ou seja, a economia está se tornando mais complexa, tecnologicamente avançada e, portanto, muito mais sustentável. Hoje a Rússia é a maior economia da Europa em termos de produto interno bruto, em termos de paridade de poder de compra, e a quinta maior do mundo.”
“O ritmo e, sobretudo, a qualidade do crescimento permitem-nos ter esperança e até afirmar que num futuro próximo seremos capazes de dar mais um passo em frente: tornar-nos-emos numa das quatro maiores potências econômicas do mundo. Esse desenvolvimento deverá traduzir-se diretamente em um aumento dos rendimentos das famílias dos nossos cidadãos.”
“Nos próximos seis anos, a participação dos salários no PIB do país deverá aumentar. A partir de 2020, o salário mínimo aumentou uma vez e meia – de 12 mil para 19 mil rublos por mês. Até 2030, o salário mínimo deverá quase duplicar novamente – para 35 mil, o que certamente afetará o valor dos benefícios sociais, dos salários no setor público e em setores da economia.”
Putin também se debruçou sobre os desafios internos à frente da Rússia, como a implementação de uma reforma tributária progressiva e a reforma do ensino universitário em curso, até recentemente atrelado ao sistema europeu, depois de abandonada a excelência do tempo soviético. Ele anunciou a expansão de 25 para 40 da meta de construção de novos campi no país e a criação de 70 novas escolas avançadas de engenharia até 2030, que devem ter como objetivo aumentar a produtividade e reequipar a produção.
ESCOLHA MORAL FUNDAMENTAL
“Apoiar famílias com crianças é a nossa escolha moral fundamental. Uma família numerosa e com muitos filhos deve tornar-se a norma, a filosofia da vida social, a diretriz de toda a estratégia do Estado”, afirmou Putin, sob aplausos.
“Nos próximos seis anos, devemos alcançar um crescimento sustentável da taxa de natalidade. Para conseguir isso, tomaremos decisões adicionais no sistema de educação e no desenvolvimento regional e econômico”.
Ele chamou a combater a pobreza, lembrando que em 2000 mais de 42 milhões de pessoas viviam abaixo do limiar da pobreza na Rússia, número que caiu para 13,5 milhões de pessoas no ano passado, quando foi introduzido um benefício único mensal para famílias de baixos rendimentos, desde a gravidez da mulher até o filho completar 17 anos.
No ano passado, mais de 11 milhões de pessoas receberam esse benefício. Putin convocou a garantir que o nível de pobreza no país caia abaixo de 7% e, entre as famílias mais numerosas, caia em mais de metade, para pelo menos 12%. Ele anunciou a criação de um programa nacional “Família” para apoiar as famílias com crianças.
A CIÊNCIA RUSSA
O presidente russo reiterou que “a infra-estrutura científica nacional é a nossa poderosa vantagem competitiva, tanto no domínio da ciência fundamental como na criação de bases para a indústria farmacêutica, a biologia, a medicina, a microeletrônica, a indústria química e a produção de novos materiais, para o desenvolvimento de programas espaciais” e chamou a elevar o investimento em pesquisa e inovação para 2% do PIB até 2030.
Putin reiterou que “devemos ser independentes, ter todas as chaves tecnológicas em áreas tão sensíveis como a preservação da saúde dos cidadãos e a segurança alimentar” e que é necessário “alcançar a soberania tecnológica em áreas transversais que garantam a sustentabilidade de toda a economia do país. São meios de produção e máquinas-ferramentas, robótica, todos os tipos de transporte, aeronaves não tripuladas, sistemas marítimos e outros, economia de dados, novos materiais e química”.
Ele convocou a “criar produtos globalmente competitivos baseados em desenvolvimentos nacionais únicos, nomeadamente no domínio do espaço, da energia nuclear e das novas tecnologias energéticas”.
“É também necessário estabelecer cadeias de cooperação interna e plataformas tecnológicas internacionais, lançar a produção em série dos nossos próprios equipamentos e componentes e concentrar a exploração geológica na procura de terras raras e outras matérias-primas para a nova economia. Nós temos tudo”.
REINDUSTRIALIZAÇÃO
“Os projetos de soberania tecnológica devem tornar-se o motor de renovação da nossa indústria, ajudando toda a economia a atingir níveis avançados de eficiência e competitividade. Proponho estabelecer aqui um objetivo: a quota de bens e serviços nacionais de alta tecnologia no mercado interno durante os próximos seis anos deverá aumentar uma vez e meia, e o volume das exportações não relacionadas com recursos e não-energéticas deverá aumentar pelo menos dois terços”, disse o presidente.
Putin também revelou alguns números sobre a reindustrialização. “Em 1999, a nossa quota de importações atingiu 26% do PIB – importávamos quase 30% de tudo do estrangeiro. No ano passado já representava 19% do PIB. E no período até 2030 é necessário atingir um nível de importações não superior a 17% do PIB.”
“E isto significa que nós próprios devemos produzir bens de consumo e outros bens em volumes muito maiores: medicamentos, equipamentos, máquinas, veículos, e assim por diante. Não podemos fazer tudo; não precisamos nos esforçar para produzir tudo. Mas o Governo sabe o que precisa ser trabalhado.”
“Tendo em conta os desafios demográficos que enfrentamos, a elevada procura e, falando francamente, a escassez de pessoal, é extremamente importante para nós aumentarmos radicalmente a produtividade do trabalho – esta é uma das tarefas principais.”
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
“As pequenas e médias empresas estão dando uma contribuição cada vez mais significativa para o crescimento econômico”, disse Putin, com sua participação na indústria transformadora, no turismo e em TI “ultrapassando os 21%”.
“Precisamos criar todas as condições para que as pequenas e médias empresas se desenvolvam de forma dinâmica e para que a qualidade desse crescimento aumente devido às áreas de alta tecnologia da indústria transformadora”, acrescentou.
Putin também se referiu as PME nas zonas rurais e no agronegócio. “Agora não apenas nos abastecemos totalmente de comida. A Rússia é líder no mercado global de trigo. Somos um dos vinte principais países exportadores de alimentos. Agradeço aos trabalhadores agrícolas, aos agricultores, aos especialistas envolvidos na agricultura em geral – obrigado pelos resultados impressionantes”.
Até 2030, o volume de produção do complexo agroindustrial russo ainda deverá aumentar pelo menos 25% em relação a 2021, e as exportações deverão aumentar uma vez e meia.
FINANCIAMENTO À PRODUÇÃO
“Já formamos uma espécie de “cardápio” industrial”, destacou Putin, apontando que as empresas podem escolher medidas de apoio como acordos sobre a proteção e promoção de investimentos de capital, contratos especiais de investimento e uma plataforma de investimento em cluster.
Para estimular a renovação das capacidades de produção das empresas industriais, Putin propôs aumentar a base de cálculo da depreciação das mesmas para 200% dos custos de equipamentos e P&D russos. Se uma empresa comprar máquinas nacionais por 10 milhões de rublos, poderá reduzir a base tributária em 20 milhões.
“Continuaremos o desenvolvimento de parques tecnológicos industriais com ênfase na localização de pequenas e médias empresas de acordo com as nossas prioridades tecnológicas”.
A taxa de crescimento acumulada dos investimentos em 2021 foi de 8,6% e o plano foi de 4,5%. Em 2022 – 15,9% com um plano de 9,5%. E nos nove meses do ano passado, com um plano para o ano de 15,1%, o aumento foi de 26,6%.
O significado deste mecanismo é que a Corporação de Desenvolvimento VEB.RF, com a participação de bancos comerciais, entra no capital das empresas de alta tecnologia e presta assistência durante a fase de seu crescimento ativo.
ECONOMIA DIGITAL
“Até 2030 é necessário criar plataformas digitais em todos os setores-chave da economia e da esfera social”, afirmou Putin, apontando que estas e outras tarefas complexas serão resolvidas no âmbito do novo projeto nacional “Economia Digital”.
Ele reiterou que a Rússia já é um dos líderes mundiais na implementação de serviços governamentais em formato eletrônico e chamou a ser “autossuficientes e competitivos” nos algoritmos de inteligência artificial.
Também até 2030, a capacidade total dos supercomputadores domésticos deverá ser aumentada em pelo menos 10 vezes.
Putin pediu que as instâncias de governo proponham medidas específicas de apoio às empresas e start-ups que produzem equipamentos para armazenamento e processamento de dados, e também criam software. “É necessário que a taxa de crescimento do investimento em soluções informáticas nacionais seja pelo menos duas vezes superior à taxa de crescimento da economia.”
CONSTRUÇÃO CIVIL
Outro número positivo revelado pelo presidente foi que, no ano passado, mais de 110 milhões de metros quadrados de habitações foram construídos na Rússia. O que é uma vez e meia mais do que o valor soviético mais elevado, alcançado em 1987, quando foram 72,8 milhões de metros quadrados.
Putin anunciou também a ampliação do programa de hipoteca familiar, com taxas mais baixas, que primeiro estava disponível para famílias com dois filhos ou mais, e já é acessível as famílias de 1 filho.
Outro programa, o fundo maternidade, garante a uma família no nascimento do primeiro filho um pagamento de 630 mil rublos e, no do segundo filho, 202 mil rublos. A vigência do programa foi ampliada até pelo menos 2030.
Putin apontou que a esperança média de vida na Rússia ultrapassou os 73 anos, ou seja, voltou ao patamar anterior à pandemia do coronavírus. Até 2030, a expectativa de vida na Rússia deverá ser de pelo menos 78 anos. Ele pediu especial atenção às zonas rurais, regiões onde a esperança de vida ainda é inferior à média russa.
Ele anunciou que foram prolongados até 2030 programas especiais de desenvolvimento para regiões como o Norte do Cáucaso, Kaliningrado, Donbass, Novorossia, Crimeia, Sebastopol, Ártico e Extremo Oriente.
Ele considerou necessário, para reduzir o peso da dívida dos entes da Federação Russa, anular dois terços da dívida das regiões em empréstimos orçamentais, o que irá liberar 200 bilhões de rublos anualmente entre 2025 e 2028, que devem ser direcionados para apoiar investimentos e projetos de infraestrutura.
O presidente russo propôs também a ampliação do programa Cartão Pushkin, com a ajuda do qual crianças em idade escolar e jovens têm entrada gratuita em cinemas, museus, teatros e exposições, e as próprias instituições culturais recebem um incentivo para desenvolver e lançar novos projetos.
INFRAESTRUTURA
A ferrovia de alta velocidade, que já liga Moscou e Kazan, será estendida este ano a Yekaterinburg e no próximo ano a Tyumen, disse Putin. No futuro, uma rota moderna e segura passará por todo o país, até Vladivostok.
Pelo menos 75 aeroportos serão modernizados em seis anos – mais de um terço da rede aeroportuária da Rússia. Também será atualizada a frota aéreas das linhas aéreas russas com aeronaves de fabricação nacional.
O gás natural terá seu fornecimento ampliado para Yakutia, Buriácia, Khabarovsk, Primorsky, Territórios Transbaikal, regiões de Murmansk e Amur, à Região Autônoma Judaica, Carélia e a uma grande cidade russa como Krasnoyarsk.
Complexos hoteleiros modernos também aparecerão nas costas dos mares Cáspio, Báltico, Azov, Negro e do Japão. Projetos que aumentará o fluxo turístico interno em mais 10 milhões de pessoas por ano. Ao mesmo tempo, a contribuição do turismo para o PIB da Rússia também duplicará – para 5%.
VANGUARDA
“Você sabe, eu olho para essas pessoas corajosas, às vezes muito jovens, e sem exagero posso dizer: meu coração está cheio de orgulho pelo nosso povo e por essas pessoas em particular”, disse o presidente, referindo-se aos soldados e comandantes na linha de frente no Donbass.
“Devem assumir posições de liderança tanto na educação e formação dos jovens, como nas associações públicas, nas empresas estatais, nas empresas, na administração estadual e municipal, e liderar regiões, empresas e, em última análise, os maiores projetos nacionais”, convocou Putin.
Putin acrescentou que a palavra “elite” se desacreditou de muitas maneiras. “Aqueles que, sem nenhum mérito para a sociedade, se consideram uma espécie de casta com direitos e privilégios especiais, principalmente aqueles que em anos anteriores encheram os bolsos devido a todo tipo de processos na economia dos anos 90, definitivamente não são a elite. Repito, a verdadeira e real elite são todos que servem a Rússia, trabalhadores e combatentes, confiáveis, comprovados, que provaram sua devoção à Rússia, pessoas dignas”.
Ele anunciou que veteranos, soldados e oficiais da operação militar especial poderão se inscrever para participar no programa ‘Tempo dos Heróis’, que terá como padrão a Escola Superior de Administração Pública, a chamada ‘escola de governadores’, bem como o concurso ‘Líderes da Rússia’”. Veteranos e participantes da operação militar especial poderão receber prioritariamente ensino superior e uma especialidade civil nas principais universidades russas.
PLANO HEXAGENAL
“Quero enfatizar: o principal resultado dos nossos programas não se mede em toneladas, em quilômetros ou em quantidade de dinheiro gasto. O principal é avaliar as pessoas, como suas vidas mudam para melhor. A escala dos desafios históricos que a Rússia enfrenta exige um trabalho extremamente claro e bem coordenado por parte do Estado, da sociedade civil e das empresas”.
“Considero necessário agora não só preparar um projeto de orçamento para o próximo triênio, mas também definir todas as principais despesas e futuros investimentos – para o período até 2030. Isto é, em essência, precisamos formular um plano financeiro de seis anos e longo prazo para o desenvolvimento do país. Apesar do período difícil, apesar das provações e dificuldades atuais, estamos fazendo planos de longo prazo.”
“Agradeço a todos vocês, caros amigos e cidadãos russos. Estamos juntos e faremos tudo como planejamos e queremos fazer, como sonhamos. Acredito nas nossas vitórias, nos sucessos, no futuro da Rússia!”