
“Milei, você mesmo operou como isca para um golpe digital”, denunciou Cristina Kirchner, apontando o desastre em que o fascista tornou a Argentina “um cassino onde o crupiê é o próprio presidente”.
O escândalo do colapso de uma criptomoeda, a $LIBRA, na sexta-feira (14), que havia sido propagandeada pelo próprio presidente Milei em sua conta no X, em que argentinos perderam milhões de dólares, o atinge em cheio, contra quem a oposição peronista pede a abertura de um processo de impeachment e até mesmo a oposição moderada exige uma investigação.
“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, conclamava a postagem sobre a moeda digital e sem valor em moeda real. Segundo o endosso de Milei, a $LIBRA era “um projeto privado” dedicado a “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.
Após a inflada de Milei, a $Libra subiu exponencialmente de poucos centavos a US$ 4.978, arrastando incautos, que perderam milhões de dólares na arapuca assim que esta, em questão de minutos, desabou para quase zero. Golpe conhecido entre os vigaristas digitais como “puxada de tapete”.
“Uma criptomoeda é criada, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas”, explicou o influencer digital Javier Smaldonte, conhecido por denunciar esquemas de pirâmide,.
“À medida que as pessoas começam a comprar, o valor do ativo aumenta (…) até que, em algum momento, aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro e a coisa desanda”, acrescentou. Corroborando essa análise, a revista de mercados de capitais The Kobeissi Letter afirmou que cerca de 80% do ativo $LIBRA estavam nas mãos de poucos antes do apoio de Milei.
Como denunciou a ex-presidente Cristina Kirchner, a “isca” foi exatamente Milei. O chamariz ficou por mais de cinco horas no perfil de Milei, com um link para um assim chamado “projeto Viva a Liberdade” – aliás, o mote de campanha do fascista que se diz ‘libertário’.
“A partir da sua conta oficial X, você promoveu uma criptomoeda privada, criada por sabe-se lá quem. Você inflou seu valor tirando vantagem de sua posição presidencial. Milhares confiaram em você, compraram preços altos e em questão de horas perderam milhões, enquanto alguns (aposto que eram todos libertários) fizeram fortunas com informações privilegiadas. Milei… VOCÊ MESMO OPEROU COMO ISCA PARA UM GOLPE DIGITAL!”, disse Cristina
“Olha onde você nos trouxe com sua loucura! Vocês transformaram essa que é a sua liberdade de mercado…a do cassino. Sua máscara caiu.”
PÂNICO NA CASA ROSADA
Diante do escândalo provocado pelo estouro da pirâmide, Milei tentou por volta da meia noite de sábado se distanciar da fraude, alegando não estar “ciente dos detalhes” do projeto, anunciou ter decidido “não continuar o difundindo” e, ainda, uma “investigação urgente” anticorrupção sobre o caso.
Apesar do recuo, Milei acusou a “casta política” de tentar prejudicá-lo. “Aos ratos imundos da casta política que querem se aproveitar dessa situação para me atacar, só digo que confirmam diariamente o quão rasteiros são os políticos, e reforçam nossa convicção de tirá-los à força”.
Antes da admissão de Milei, seus apoiadores chegaram a alegar que sua conta no X teria sido hackeada.
Curiosamente, como registrou o The New York Times, a criptomoeda de Milei lembra a que o próprio Trump lançou há duas semanas, até aqui sem contratempos e seria apenas a mais recente de uma série de medidas que ela tomou em paralelo com Trump ”, dando como exemplos dessas medidas que “Milei retirou a Argentina da Organização Mundial da Saúde no início deste mês, e sua equipe disse que o governo está examinando sua retirada do acordo climático de Paris”.
RECALCITRANTE
Mesmo setores vacilantes da oposição manifestaram indignação com a fraude em que Milei está envolvido. O senador Martín Lousteau (União Cívica Radical), lembrou pelo X que “esta é a segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude”.
O que se refere a uma fraude de 2021. Então deputado, Milei promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros de 8% ao mês em dólares, que teve 23 escritórios fechados e quatro diretores presos. Na época, Milei alegou que apenas havia dado uma “opinião profissional” sobre a companhia e que não via irregularidades.
Também o deputado Maximiliano Ferraro (UCR) denunciou que o que aconteceu com a $LIBRA “foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do Presidente e no uso de informações privilegiadas”. Ele pediu a criação de uma CPI para “esclarecer os fatos e determinar as responsabilidades”.
Em socorro de Milei, a empresa Kip Protocol, responsável pelo lançamento da $Libra, garantiu a idoneidade do presidente. “Hoje lançamos o projeto Viva La Libertad. O presidente Milei não esteve nem está envolvido no desenvolvimento deste projeto, como ele mesmo já mencionou. Trata-se de uma empresa totalmente privada.”
DIGITAIS DE MILEI EM PROFUSÃO
Como assinala o Página 12, a versão da falta de conexão esbarra nos fatos, e as digitais de Milei e dos vigaristas nem são assim tão difíceis de achar. Como a reunião em outubro passado de Milei com Julian Peh, cofundador da KIP Network Inc , durante a conferência TechForum, cuja foto o investidor divulgou nas redes sociais.
Além de tentar inocentar Milei, a KIP passou a atribuir a responsabilidade pela criptomoeda a outra empresa, a Kelsier Ventures.
De novo os caminhos se cruzam. Em sua conta X, a Kelsier Ventures fixou um retuíte de uma postagem de Milei de 30 de janeiro deste ano. “Estamos orgulhosos de aconselhar a @JMilei na execução deste objetivo na Argentina e continuar mudando o mundo para melhor”, comentaram. O tuíte do presidente o mostrou em seu escritório com um jovem desconhecido chamado Hayden Mark Davis , que, segundo ele, estava “aconselhando-o sobre o impacto e as aplicações da tecnologia blockchain e da inteligência artificial no país”.
“Ou seja, Milei havia se encontrado nos últimos meses com os responsáveis pelas duas empresas ligadas ao golpe”, conclui o jornal.