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O avanço da indústria brasileira está em xeque com a retomada do ciclo de aumentos da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central (BC), que já impacta negativamente os investimentos e as atividades produtivas no Brasil, revela o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), em carta publicada na última sexta-feira (28).
Em 2024, a produção industrial cresceu 3,1%, após estagnação em 2023, ano que variou em alta de +0,1%. “Essa foi a primeira vez nos últimos dez anos em que o setor se expandiu sobre uma base não fortemente deprimida”, observa o IEDI.
“Já o faturamento real dos serviços praticamente repetiu seu resultado (+2,9% em 2023 e +3,1% em 2024), enquanto as vendas do varejo aceleraram de +2,3% em 2023 para +4,1% em 2024”, ressalta a entidade.
No entanto, o IEDI avalia que “o problema é que uma inflexão destas trajetórias já se avizinha, como resultado do aumento da taxa básica de juros, a Selic, que desde set/24 subiu 2,75 pontos percentuais, atingindo 13,25% ao ano em jan/25”, alerta o instituto, ao destacar que os efeitos negativos do aperto monetário já começam a aparecer nas principais atividades econômicas do país.
“Na comparação com o mês imediatamente anterior, descontados os efeitos sazonais, a indústria recuou nos três últimos meses de 2024, acumulando perda de -1,2% no período, o varejo e os serviços, por sua vez, recuaram em nov/24 e dez/24, somando quedas de -2,6% e -1,9%, respectivamente”, destaca a entidade na nota.
“Como resultado desta perda de fôlego, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, caiu -0,9% desde set/24. Com isso, o dinamismo que sinalizava nos primeiros trimestres do ano (+1,7% no 1º trim/24 e +1% nos dois trimestres seguintes) deu lugar à estabilidade (0%) na passagem do 3º para o 4º trim/24, descontados os efeitos sazonais”, afirma o IEDI, que segue.
“Entre outros indicadores que apontam para um esmorecimento na virada do ano está a confiança dos agentes econômicos. Segundo as pesquisas da FGV, a confiança do consumidor recuou -3,1% em dez/24, -5,1% em jan/25 e -2,6% em fev/24, para o menor nível desde ago/22. Já a confiança empresarial, considerados indústria, comércio, serviços e construção, caiu -0,5% em nov/24, -0,3% em dez/24 e -1,8% em jan/25”, constatou.
CRÉDITO
Segundo um levantamento feito pelo IEDI, a média dos juros do crédito livre total subiu para 40,6% ao ano, no quarto trimestre de 2024, em termos nominais. Esse indicador havia caído de 41,4% no quarto trimestre de 2023 para 39,8% no terceiro trimestre de 2024.
“O aumento do final do ano passado se mostrou mais intenso no caso do crédito livre às empresas, que passou de 20,9% a.a. para 21,7% a.a. do 3º para o 4º trim/24. Nas operações junto às famílias, o patamar de juros já é muito elevado e mesmo assim também subiu no período, de 52,2% a.a. para 52,9% a.a”, afirma o IEDI.