
Economia fica praticamente estagnada (0,2%) no final de 2024. No ano, expansão do PIB foi de 3,4%. Novas altas na taxa Selic “já contratadas, possa estar se assemelhando a um ‘tratamento de choque'”, diz Iedi
A economia brasileira ficou paralisada no último trimestre de 2024, com a variação de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao terceiro trimestre do mesmo ano, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (7).
No ano passado, o PIB cresceu 3,4% frente a 2023 (alta de 3,2%), um avanço puxado pelo desempenho da Indústria (3,3%) e Serviços (3,7%), enquanto a Agropecuária recuou (-3,2%).
Pelo lado da demanda, a ajuda veio da melhora nos investimentos (7,3%) e do consumo das famílias (4,8%). As exportações brasileiras fecharam o ano de 2024 com alta de 2,9%, enquanto as importações aumentaram 14,7%.
No entanto, a recuperação econômica brasileira voltou a ser colocada em risco pelo Banco Central (BC), que retomou o ciclo de aumentos na taxa básica de juros (Selic) em setembro de 2024, a pretexto de combater o crescimento da inflação, que está sendo impulsionada, principalmente, por fatores como condições climáticas adversas e pressões externas, como a valorização do dólar e a especulação nos preços de commodities em mercados internacionais.
Esses elementos não podem ser diretamente impactados pela política monetária mais restritiva. Mesmo assim, entre setembro de 2024 e janeiro deste ano, o BC resolveu elevar em 2,75 pontos percentuais o nível da Selic, que atingiu os 13,25% ao ano. A expectativa dos bancos agora é que a taxa nominal de juros supere a casa dos 15% ao ano em 2025, o maior nível em 19 anos, mantendo o Brasil campeão mundial de juro real.
Com os investimentos e o consumo arrochados pelos juros altos, no quarto trimestre do ano passado a produção industrial marcou três meses seguidos de queda (out, -0,2%; nov, -0,7%; dez -0,3%) e o volume de serviços registrou perdas de -1,9% nos dois últimos meses de 2024.
As vendas do comércio varejista recuaram em dezembro -0,1% em relação a novembro (-0,2%), enquanto, o varejo ampliado – que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção, etc. -caiu -1,1%, no mesmo período.
Desta forma, o PIB da Indústria e de Serviços apresentaram variação positiva próximas de zero, 0,3% e 0,1%, respectivamente, em relação ao trimestre imediatamente anterior. A Agropecuária recuou 2,3% no mesmo período.
No último trimestre, ainda, a demanda das famílias recuou em 1% e os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceram apenas 0,4%. Já o consumo do governo variou em alta de 0,6%.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, destacou a queda no consumo das famílias no quarto trimestre: “Continuamos tendo melhoria no mercado de trabalho, mas com uma taxa já não tão alta. E os juros começaram a subir em setembro do ano passado, o que já impactou no quarto trimestre”.
Com os juros do BC restringindo os investimentos públicos e privados, a taxa de investimento em 2024 foi de 17,0% do PIB. Apesar de representar uma melhora em relação ao ano de 2023 – entre 2021 e 2023 a taxa caiu de 17,9% para 16,4% em 2023), a taxa de investimento segue muito aquém das necessidades do país. Economistas e empresários apontam uma taxa acima de 22% como partida ideal para suprir as demandas do país.
“Conforme esperado, o 4º trimestre de 2024 sinalizou uma desaceleração da atividade econômica, após crescimento de 1,0%, 1,3% e 0,7% no 1º, 2º e 3º trimestres, respectivamente. Para 2025, esperamos continuidade desse quadro de desaceleração do PIB, devido, em grande medida, à política monetária contracionista, às condições financeiras mais restritivas e ao menor impulso fiscal esperado para os próximos trimestres”, avaliou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), destacando que o PIB da indústria de transformação cresceu 3,8% em 2024, após dois anos consecutivos de retração.
“TRATAMENTO DE CHOQUE”
Para o Iedi, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria, “os sinais de acentuada desaceleração econômica já são evidentes”.
“Na série livre de efeitos sazonais, o PIB do país ficou praticamente estagnado na passagem do 3º trim/24 para o 4º trim/24 ao variar apenas +0,2%. O consumo das famílias recuou -1,0% no período, sendo o pior resultado desde o 2º trim/21, quando a atividade econômica sofria com o aumento de casos de Covid-19 em função do atraso na vacinação, aceleração inflacionária e desarranjos das cadeias produtivas”, analisa o Iedi.
“Este desempenho também freou as importações, que apresentaram variação de -0,1%, seu primeiro sinal negativo desde a entrada de 2023. Por sua vez, os investimentos também progrediram menos, saindo de um patamar de expansão de +2,3% no 2º e 3º trim/24 para apenas +0,4% no 4º trim/24”, diz a entidade da indústria. “Estes são sinais de que o aperto atual da política monetária, que levou a taxa Selic de 10,5% a.a. em set/24 para os atuais 13,25% a.a., com novas altas já contratadas, possa estar se assemelhando a um ‘tratamento de choque'”, continua o órgão.
A taxa de poupança caiu de 15% do PIB em 2023 para 14,5% do PIB em 2024 – nível também muito baixo para a economia brasileira.
Com os juros altos do BC e o orçamento engessado por regras e metas fiscais orçamentárias – que servem na prática para garantir os pagamentos dos juros da dívida pública, que chegou a 1 bilhão no ano passado – para este ano as projeções de crescimento do PIB são menores, com grande parte dos economistas apontando para a possibilidade de o país entrar em recessão a partir do segundo semestre.
Nesta sexta-feira, o Ministério da Fazenda divulgou nota em que mantém sua projeção otimista de crescimento de 2,3% do PIB em 2025 – o que já é uma desaceleração em comparação à alta de 3,4% em 2024 e de 3,2% em 2023.
A nota da Fazenda afirma que, “a partir do segundo trimestre de 2025, a contribuição do setor agropecuário para o crescimento deverá se tornar negativa, junto com a redução na expansão de atividades cíclicas. Para a segunda metade do ano, a perspectiva é que o ritmo de crescimento se mantenha próximo à estabilidade, refletindo menores impulsos vindos dos mercados de crédito e de trabalho em função do patamar contracionista da política monetária (alta de juros)”.