
Polícia prendeu mais de 150 manifestantes
O fotógrafo Pablo Grillo, que cobria na quarta-feira (12) a brutal repressão do governo Milei ao protesto de aposentados contra os cortes nas pensões, em frente ao Congresso da Argentina, e foi atingido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo, está hospitalizado em estado crítico, apontou o jornal argentino Página 12.
Por ordem da ministra da ‘Segurança’ e ex-candidata a presidente, Patrícia Bullrich, os manifestantes foram agredidos com canhões de água, balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta mal chegavam às proximidades do Congresso, com mais de 150 presos, inclusive duas crianças de 12 e 14 anos, além de dezenas de feridos.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra o momento em que um policial atirou em Grillo, que estava agachado para tirar as fotos. O fotógrafo foi atingido na cabeça pelo cartucho e caiu instantaneamente.
Ele foi socorrido por populares e depois transferido para o Hospital Ramos Mejía, onde passou por cirurgia. Os médicos conseguiram reduzir a pressão intracraniana e reconstruir algumas partes do tecido afetado. Após a cirurgia, ele foi internado em terapia intensiva com prognóstico reservado. Ele sofreu traumatismo craniano grave, múltiplas fraturas e perda de massa cerebral.
Uma idosa de 87 anos e de bengala, que tentava se proteger ao ser atacada por um policial com gás lacrimogêneo, foi empurrada e jogada no chão, conforme vídeo que viralizou nas redes sociais.
Com o país sob o tacão do FMI e do fascista adorador do superávit primário e das criptomoedas, Javier Milei, e com a pobreza afetando quase 53% dos argentinos, os aposentados têm ido às ruas todas as quartas-feiras, para repelir o arrocho das parcas pensões, cada dia mais insuficientes.
Nessa quarta-feira, torcidas argentinas aderiram ao protesto, após um torcedor idoso ser maltratado pela polícia de Milei. A manifestação estava convocada para as 17h, mas uma hora antes o local já estava transformado pela tropa de choque de Milei em uma praça de guerra.
JORNALISTAS EXIGEM RENÚNCIA DE BULLRICH
Nesta quinta-feira (13), a Associação de Repórteres Gráficos da República Argentina (ARGRA) em conjunto com o Sindicato da Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA) e a Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (FATPREN), realizou um protesto no local onde Grillo foi ferido e exigiram a renúncia da ministra Bullrich. “Fora, fora, fora, Bullrich fora!”.
“O direito de protestar é um direito constitucional e está sendo violado na República Argentina, assim como o direito à liberdade de expressão”, advertiu Agustín Lecchi, secretário-geral do SiPreBA. Comunicado da ARGRA denunciou como “ilegal e inconstitucional” o ‘protocolo anti-piquete’ da ministra Bullrich, que em 50 dias de vigência “causou ferimentos a dezenas de repórteres, fotojornalistas e trabalhadores da imprensa”.
“Grillo foi aluno da ARGRA em 2018, e lamentamos que a ministra (Patricia) Bullrich, cuja renúncia pedimos, tenha dito no La Nación+ que Pablo foi detido, enquanto lutava por sua vida no Hospital Ramos Mejía”, protestaram. Eles acrescentaram: “Iniciaremos a ação legal apropriada para que isso não fique impune. Dissemos que não queremos outro Cabezas”, referindo-se ao fotógrafo assassinado em 1997.
Os aposentados estão entre os mais afetados pela onda de cortes implementada pelo governo Milei, que priorizou o déficit fiscal como a base de sua política econômica. Na Argentina, 63,5% dos aposentados recebem a pensão mínima, que é de 279.121 pesos (R$ 1.519,37). Embora tenham recebido bônus adicionais, eles perderam poder aquisitivo diante da inflação, que chegou a 117,8% em 2024.
JUÍZA MANDA LIBERTAR OS PRESOS
De acordo com um relatório da Polícia da Cidade de Buenos Aires, mais de 150 pessoas foram presas e os feridos são 46, segundo as autoridades médicas. Um tribunal ordenou a libertação das pessoas presas durante o protesto. As informações recebidas pelo tribunal eram “absolutamente deficientes ”, omitindo detalhes como a hora e o local das prisões, e o crime específico que as validou, disse a juíza Karina Andrade.
A juiza destacou que “com base nas informações fornecidas pela promotoria e nas qualificações legais dos acusados, nenhum dos indivíduos presos foi acusado de porte de arma de fogo, ferimento ou incêndio criminoso em propriedade pública.”
Andrade, em sua decisão assinalou ainda que estavam em jogo “direitos constitucionais fundamentais”, que assumem especial relevância quando “uma parcela da sociedade se manifesta em apoio ao exercício da liberdade de expressão de membros de um dos setores mais vulneráveis da nossa República: os idosos. O Judiciário deve dar atenção especial a isso”.
O que contradiz a declaração de Bullrich de que a marcha dos aposentados foi “organizada por gangues, vândalos e grupos violentos de esquerda que buscam desestabilizar nosso governo” e de que os detidos teriam “antecedentes criminais”. As entidades anunciaram que levarão o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU.
A agressão aos aposentados repercutiu em amplos setores argentinos e a principal central sindical, a CGT, deu por encerrada a “trégua” com o governo Milei, e anunciou que irá se reunir na próxima semana para discutir a convocação de uma greve geral em abril.
A central acusou o governo Milei de atuar “como promotor e instigador da mais abjeta violência, deixando um lamentável número de feridos e lesionados devido à brutalidade exercida pelas forças policiais, incluindo aposentados, manifestantes, trabalhadores da mídia e até mesmo alguns pedestres desavisados na área”.
“Essa intimidação governamental não pode esconder que constitui um complemento indispensável e necessário à execução de um plano econômico que entregará bens públicos, saqueará nossos recursos e empobrecerá socialmente a maioria”, conclui o comunicado.