
Refletindo o desespero, o volume dos empréstimos pessoais em relação a 2024 foi multiplicado por cinco, saltando de 2,01 trilhões de pesos (US$ 1,69 bilhões) para 10,7 trilhões de pesos (US$ 8,9 bilhões)
A Argentina registrou em abril um preocupante aumento no número de cheques devolvidos por insuficiência de fundos, alcançando seu maior patamar desde a pandemia de 2020. De acordo com o próprio Banco Central, foram mais de 64.000, com uma taxa de rejeição de 1,3% do total compensado, refletindo o crescente arrocho financeiro e a pressão da crise sobre as famílias, que amargam o avanço do desemprego, os salários achatados e uma inflação persistente, que permanece em dois dígitos.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT), a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) e a Central dos Trabalhadores da Argentina Autônoma (CTA-A) têm realizado constantes manifestações contra a política de “austericídio” implementada pelo governo de Javier Milei. Conforme denunciam as centrais, a concepção ultraneoliberal de Milei tem prejudicado o crédito e o consumo, espraiando a recessão para o conjunto da economia. No cotidiano do país isso se traduz no fechamento de postos de trabalho e em empresas quebrando ou lutando desesperadamente para sobreviver frente a uma demanda cada vez mais enfraquecida e margens de lucro reduzidas.
Os nebulosos indicadores refletem a desconfiança e deterioração da capacidade de pagamento dos argentinos: em março, a inadimplência no cartão de crédito atingiu 2,8%, o maior nível em três anos, enquanto a inadimplência no empréstimo pessoal pulou para 4,1%, o maior índice em nove meses. O aumento se explica pelo uso de cartões para financiar até mesmo despesas essenciais, como a alimentação, um bem cada vez mais caro, em um contexto em que a renda real segue acelarada ladeira abaixo. Exemplo disso pôde ser comprovado em maio na queda de 2,7% no consumo de carne e no aumento dos preços de 60,1% em relação ao ano anterior, o que explica a razão de tantos argentinos terem sido forçados a recorrer a empréstimos pessoais. E a deixar de lado o tão apreciado churrasco de final de semana.
Sendo assim, no desespero, o volume dos empréstimos pessoais em relação ao ano passado foi multiplicado por cinco, saltando de 2,01 trilhões de pesos (US$ 1,69 bilhões) para 10,7 trilhões de pesos (US$ 8,9 bilhões). Uma tábua de salvação em meio ao maremoto que vai se convertendo em tsunami. A vertiginosa escalada também levantou enormes preocupações quanto ao superendividamento, especialmente entre as pessoas que foram obrigadas a recorrer a instituições não bancárias, aquelas que forçam taxas de juros ainda mais altas a quem busca por socorro imediato.
MULTIPLICAM-SE AS EMPRESAS MERGULHADAS EM “ESTRESSE FINANCEIRO”
Pequenas, médias e até mesmo grandes empresas também apresentam sinais de “estresse financeiro”, particularmente em setores como o industrial, de varejo, construção e entretenimento. Gigantes como a Albanesi SA – que oferece serviços de fornecimento e transporte de gás natural, além de energia elétrica – e a Celulosa Argentina SA – líder no setor industrial argentino, com atuação no Uruguai e internacionalmente -, têm amargado a inadimplência e enfrentado dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras.
Referência no setor, a produtora de cítricos San Miguel AGICI declarou inválida sua última emissão de dívida no mercado local em 13 de maio, enquanto a Petrolera Aconcagua Energía SA buscou captar US$ 250 milhões com investidores internacionais, mas encontrou grandes dificuldades.
“É um sinal de alerta. A cobrança de crédito está se tornando mais difícil”, reconheceu Gastón Rossi, diretor do Banco Cidade de Buenos Aires, um dos maiores do país, expressando publicamente o que só Milei se nega a admitir: sua política ultraneoliberal representa um atentado contra a nação argentina como um todo.