
“Acabem com as receitas do FMI”, afirma a Confederação de Sindicatos Industriais da Argentina, denunciando o retrocesso vivido com o governo e seu modelo subserviente aos ditames externos
“Mais de mil empresas industriais fecharam desde 2023, com a perda de mais de 31.000 empregos formais no setor. A perda total de empregos chega a quase 100.000, se incluirmos os da construção e mineração”, aponta o estudo elaborado por um grupo de economistas para a Confederação dos Sindicatos Industriais (Csira). O relatório dá a dimensão do revés vivido pelo setor fabril desde que Javier Milei assumiu a presidência e adverte que a atividade manufatureira sofreu uma queda de 9,4% em 2024 e a construção civil despencou 27%.
Em seu “demolidor pronunciamento”, a Confederação alerta que o “colapso produtivo” e o iminente “industricídio” na Argentina, provocado pela política de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), trará um retrocesso industrial “sem precedentes, que vão piorar ainda mais a já crítica situação econômica e trabalhista”.
A contundente manifestação dos sindicatos industriais faz uma conclamação a que as forças vivas da nação se mobilizem para forçar o governo a “mudar o rumo” e a “romper com as receitas do FMI”, enfatizando que somente uma estratégia nacional “orientada à produção argentina, ao consumo interno e às exportações com maior valor agregado” permitirá que o país saia do ciclo de endividamento, recessão e desindustrialização.
A organização sindical atribui esse cenário catastrófico à combinação da “abertura indiscriminada de importações”, promovida por Milei, com uma taxa de câmbio que prejudica a competitividade, crédito inacessível e um mercado interno paralisado. A entidade avalia que a continuidade dessa tendência levará ao aprofundamento da desindustrialização, enfraquecendo as pequenas e médias empresas (PMEs) e condenando o país a importar tecnologia e mão de obra. O documento reitera que “não há desenvolvimento sustentável sem uma indústria nacional forte e diversificada que gere valor agregado”.
A declaração da CSIRA também critica veementemente a desregulamentação da cabotagem doméstica imposta pelo Decreto nº 340/2025. Segundo a organização, essa regulamentação, ao permitir que embarcações estrangeiras substituam as argentinas no transporte de combustível, alimentos e insumos essenciais, compromete a segurança econômica e a soberania do país. A implementação dessa medida, denuncia a CSIRA, levará a um “aumento imediato do desemprego, à fuga de divisas e a uma maior precarização do emprego”.
GOVERNO ARROCHA SALÁRIOS, UTILIZADOS COMO ÂNCORA ANTI-INFLACIONÁRIA
No âmbito trabalhista a lógica ultraneoliberal igualmente prevalece, assinala a entidade, pois o governo “usa os salários como âncora anti-inflacionária em uma economia com preços totalmente liberados”. Seguindo à risca este modelo comprovadamente fracassado, o salário mínimo perdeu 32% do seu poder de compra entre dezembro de 2023 e abril de 2025, enquanto o aumento constante dos valores multiplicou os gastos das famílias.
A Confederação também expressou sua “rejeição categórica” à tentativa de flexibilização de direitos, precarização do trabalho e criminalização do protesto por meio de normas como o Decreto de Necessidade Urgência (DNU) 70/23, a Lei Básica, e o DNU 340/25, que “visam exterminar o direito constitucional à greve”. De forma clara, reafirma que a ação sindical e o protesto social são “pilares dos direitos constitucionais” e conquistas “inalienáveis”. Além disso, critica as Resoluções 1066/2025 e 1071/2025 da Comissão Nacional de Valores Mobiliários, que buscam substituir o regime de verbas rescisórias por uma abordagem de capitalização individual que viola direitos adquiridos.
De forma categória, a Confederação também denuncia a “manipulação arbitrária das contribuições dos trabalhadores” que, segundo a organização, desfinancia os fundos da previdência social dos sindicatos. Nesse sentido, reivindica a atualização dos custos dos benefícios, a racionalização e aumento dos reembolsos do Fundo de Solidariedade, e o fim das regulamentações que permitem o desvio de contribuições para o sistema privado, defendendo o sistema de saúde solidário como uma “conquista fundamental”.
Finalmente, o encontro repudiou a “proscrição” da ex-presidente Cristina Kirchner, principal líder oposicionista, denunciando a “perseguição judicial” como parte de um “plano de disciplinamento político e social”, assinalando que “sem uma justiça independente não há democracia real”.
Integrada pelas entidades sindicais mais importantes do país, a Confederação está composta, entre outras, pela União Operária Metalúrgica (UOM), Associação de Supervisores da Indústria Metalmecânica, Metalúrgica e de Mineração (Aoma), Sindicato dos Mecânicos e Trabalhadores Similares do Transporte Automotivo (Smata), União Operária da Construção da República Argentina (Uocra) e Federação Argentina de Petróleo, Gás e Biocombustíveis.