
Em novo depoimento ao STF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro reforçou que houve pedido de financiamento para ações golpistas. Depoimento antecedeu ao dos demais réus dos “núcleos” 2, 3 e 4
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, voltou a ser ouvido, nesta segunda-feira (14), no STF (Supremo Tribunal Federal) na ação sobre a tentativa de golpe de Estado, em 2022, no Brasil.
O colaborador foi ouvido na condição de informante dos outros “núcleos” denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República). Ele foi ouvido antes, já que tinha sido ouvido como colaborador, pela PF (Polícia Federal) e no Supremo, e no interrogatório, como réu.
Nessa nova audiência, ele foi ouvido como informante e não como testemunha por também ser réu. Gravações das oitivas estão proibidas. Leia mais em “STF ouve testemunhas dos núcleos 2, 3 e 4 da trama golpista”.
CONFIRMAÇÃO DOS PONTOS PRINCIPAIS
Cid confirmou e reforçou os principais pontos que vem dizendo: existência da minuta golpista, pedido de financiamento das ações golpistas, entrega de dinheiro por Braga Netto, ideia do senador Marcos do Val (Podemos-ES) de tentar gravar o ministro Alexandre de Moraes, reunião de Bolsonaro com a deputada foragida Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti e cogitação de trocar comandantes a favor da ruptura institucional — golpe de Estado.
Cid voltou a detalhar que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu o ex-assessor Filipe Martins e jurista, em novembro de 2022, no Palácio do Alvorada para discutir a minuta golpista.
Segundo o colaborador, Bolsonaro não só leu a minuta golpista, como deu sugestões. Inclusive, tirando do texto a possibilidade de prisão de ministros do STF. O ex-presidente teria deixado apenas a prisão de Alexandre de Moraes. “Ele enxugou o documento”, reforçou.
REUNIÕES SOBRE MINUTA GOLPISTA
Ele contou que foram feitas reuniões em que a minuta golpista foi levada ao ex-presidente. O texto teria 2 partes: a inicial, com “considerandos” levando em conta as interferências do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no governo Bolsonaro e nas eleições; e a segunda parte mais jurídica, que trazia opções de estado de defesa, de sítio, prisão de autoridades, além da criação de conselho eleitoral para refazer as eleições de 2022, que seriam anuladas.
Ele também afirmou que houve encontro de Bolsonaro com o bisbilhotador de internet Walter Delgatti, intermediado pela deputada Carla Zambelli, no Palácio da Alvorada, em 2022.
O colaborador disse ainda que o major Rafael Oliveira pediu o monitoramento de Moraes e ele perguntou para o militar Marcelo Câmara se era possível.
Cid também citou que o senador Marcos do Val propôs gravar o ministro Alexandre de Moraes porque eles seriam próximos. O ex-ajudante de ordens também destacou que a cúpula do governo Bolsonaro chegou a cogitar trocar os comandantes após o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Jr. negarem qualquer ruptura institucional.
REUNIÃO EM GOIÂNIA
O ex-ajudante de ordens relatou que, em reunião em Goiânia, militares indignados com a derrota de Bolsonaro nas urnas pediram a ele para marcar encontro com o general Braga Netto para pensarem em algo.
Depois, esses militares se encontraram no apartamento do general, em Brasília. Eles eram integrantes dos chamados “kids pretos”, esquadrão de elite das Forças Armadas.
Segundo a denúncia da PGR, os “kids pretos” tinham planos de sequestrar e matar autoridades e tomar o poder.
DINHEIRO PARA AÇÕES GOLPISTAS
Cid afirmou que o major Rafael Oliveira pediu dinheiro para as ações golpistas e ele brincou: “R$ 100 mil?”. Depois, contou novamente que o PL (Partido Liberal) negou o dinheiro.
Então, o ex-ajudante de ordens confirmou que recebeu do general Braga Netto dinheiro dentro de sacola de vinho para que fosse repassado ao major do Exército Rafael de Oliveira, integrante dos “kids pretos”, mas ele disse que não sabia precisar os valores.
Os depoimentos das testemunhas e do informante Mauro Cid estão ocorrendo por videoconferência com a participação de réus, advogados, membros do gabinete de Moraes e da PGR.