

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) com os integrantes da redação da Hora do Povo
O deputado Orlando Silva, líder do PCdoB na Câmara Federal, afirmou, nesta segunda-feira (28), durante visita à redação da Hora do Povo, que Jair Bolsonaro mostrou fraqueza ao não conseguir, em início de governo, viabilizar um nome seu, de seu partido, para a presidência da Câmara. Segundo o parlamentar, “historicamente o presidente recém eleito sempre faz o comando das casas do parlamento”. “O PSL foi malandro. Quando perceberam que perderiam, eles correram para apoiar o atual presidente da Câmara, que é um candidato competitivo”, avaliou. Para Orlando Silva, Jair Bolsonaro se apresentou como o anti-político, apesar de ser um tremendo “velhaco da política”.
O líder do PCdoB falou também sobre o trágico crime ambiental cometido pela Vale em Brumadinho, na última sexta-feira, em Minas Gerais. “O que aconteceu em Brumadinho é uma daquelas tragédias anunciadas”, disse ele. “A Vale, depois que foi privatizada, adotou a lógica do lucro máximo. Tornou-se insensível aos interesses nacionais e aos interesses do povo brasileiro”, denunciou. Orlando Silva estava acompanhado por Fernando Borgovoni, assessor parlamentar. Leia a entrevista na íntegra.
“O PSL foi malandro. Quando perceberam que perderiam, eles correram para apoiar o atual presidente da Câmara”
Hora do Povo – Como você está analisando a disputa pelo comando da Câmara Federal?
Orlando Silva – Todo o governo no começo, seja ele um governo municipal, governo estadual ou nacional, sempre elege o presidente do parlamento, no caso do Congresso Nacional, o presidente da Câmara e o presidente do Senado. É só olhar a história. É natural que um governo que começou a andar tenha força política, força eleitoral, apoio popular e, durante algum período inicial, há sim um espaço para que ele eleja os comandantes da Câmara e do Senado. No caso do Jair Bolsonaro, ele se apresentou como o anti-político, apesar de ser um velhaco da política, se apresentou negando os partidos políticos, que, no limite, é negar a democracia, porque não existe democracia sem partidos políticos”.
HP – Jair Bolsonaro saiu enfraquecido ao ter que se aliar a Rodrigo Maia para entrar na disputa?
OS – “Certamente. O PSL foi malandro. Ele, percebendo que corria risco de uma derrota, correu para apoiar o candidato que é o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que é um candidato muito competitivo, de modo a não ser derrotado”, afirmou.
HP – Por que você acha que o governo não conseguiu viabilizar uma candidatura?
OS – Ele bem que tentou. Saiu na Câmara, listou alguns nomes, e saiu também no senado, mas não pôs de pé nenhuma alternativa. Aí, eles aprenderam com a lição de 2015, quando a Dilma Rousseff tentou enfrentar na força o candidato do PMDB e foi derrotada. Ela amargou graves consequências por isso. No Senado ele até ensaiou algum tipo de movimento, mas a tendência é que Jair Bolsonaro não elegerá dos seus diretamente, nem na Câmara e nem no Senado.
HP – Sobre este crime ambiental que ocorreu de Brumadinho, em Minas Gerais. Qual é a avaliação que você faz?
OS – O Brasil sente uma dor enorme. Mas, infelizmente, essa é uma daquelas tragédias anunciadas. Depois de Mariana, cerca de três anos depois, as famílias ainda estão abandonadas e as empresas não cumpriram o Termo de Ajuste de Conduta. Famílias de Bento Rodrigues, que é uma das áreas mais atingidas de Mariana, não foram reassentadas. O que nós vimos agora é o repeteco de Mariana.
Tem que ficar claro que temos as estruturas do Estado que deveriam fiscalizar as grandes corporações, as grandes companhias, mas são sequestradas pelos interesses de mercado. O que Brumadinho e Mariana demonstram é isso. O lucro acima de tudo, o desrespeito aos trabalhadores, ao povo e ao meio ambiente. E o que é mais grave, o Estado brasileiro está sequestrado por grandes corporações nacionais e internacionais.
HP – Durante muito tempo disseram que a gestão privada era mais eficiente, mais capaz do que as estatais. A Vale foi privatizada e, já são dois grandes acidentes como este. Como você relaciona essas coisas?
OS – Claro. A Vale era um grande companhia, um grande patrimônio do Brasil. Aliás, houve uma resistência importante contra a sua privatização, pelo potencial econômico que tinha para estimular o desenvolvimento do Brasil. O Estado abriu mão quando privatizou. E, agora, é a lógica do capitalismo, o lucro máximo, não importa em quais condições. Então, a Vale aplica hoje essa lógica de lucro máximo. Abre mão de usar tecnologias e outros métodos que permitiriam uma mineração segura, portanto uma atividade econômica com a proteção da vida das pessoas e do meio ambiente. Mas isso impactaria na lógica do lucro máximo. Por isso, eu creio que a privatização tornou a Vale uma empresa insensível aos interesses nacionais e insensível ao povo brasileiro.
HP – Diante desse quadro, há quem defenda a re-estatização da Vale. Como é que você vê isso?
OS – É muito importante que o Brasil tenha instrumentos para o seu desenvolvimento nacional, a Vale do Rio Doce é um deles. Esses acontecimentos, essas duas tragédias demonstram que o Estado tem que tomar medidas duras. Não sei se existem condições políticas para re-estatizar, já que a lógica que impera no Brasil hoje é a lógica privatista. Mas eu tenho certeza que essa tragédia, esse desastre vai fazer a sociedade brasileira refletir sobre a liquidação do patrimônio público.
Porque ao mesmo tempo, com a privatização, nós impedimos que o Estado possa ser um dínamo da economia brasileira. No mundo inteiro nenhuma nação se transformou numa nação potente sem uma colaboração potente e efetiva do Estado. Nenhum país do planeta tem essa experiência em seu desenvolvimento econômico. E, ao mesmo tempo, o Brasil tem que refletir e romper com essa lógica que pressiona o governo atual, que pressiona as empresas públicas atuais.
Aliás, o atual governo perdeu a vergonha. Eles falam em privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES. E é uma privatização daquele jeito, como um crime comum. Muitas vezes um bandido assalta um carro e o que ele faz? Ele vende aos pedaços para que as digitais do crime não fiquem tão claras assim. O que eles sinalizam agora é vender as empresas estratégicas aos pedaços, como um criminoso comum, já que é um crime contra o interesse nacional.
SÉRGIO CRUZ