
O ex-gerente de Recursos Humanos da Odebrecht, Ênio Augusto Pereira e Silva, afirmou à Polícia Federal que o ex-presidente da divisão de infraestrutura do grupo, Henrique Valladares, reuniu-se com o ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, “para tratar a respeito de pagamentos” para o deputado federal Aécio Neves (PSDB/MG).
Segundo o ex-executivo, Henrique Valladares e Dimas Toledo se encontraram “para tratar a respeito de pagamentos” para “Mineirinho”. “Mineirinho” é o codinome dado pela Odebrecht ao ex-senador e atual deputado federal tucano para que este influenciasse no andamento dos projetos referentes à construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia.
O depoimento de Ênio Pereira, que fechou acordo de colaboração com a Lava Jato, ocorreu no inquérito que investiga o pagamento de R$ 30 milhões da Odebrecht para Aécio – R$ 28,2 milhões em dinheiro vivo entregues em uma sala comercial em Ipanema, no Rio de Janeiro, e US$ 900 mil em pagamentos no exterior. A quantia era para que ele “influenciasse o andamento” dos Projetos do Rio Madeira.
O inquérito apura repasses de R$ 50 milhões de propina pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez nas obras de Jirau e Santo Antônio. Na denúncia, a Odebrecht ficou responsável por pagar R$ 30 milhões a Aécio e a Andrade Gutierrez R$ 20 milhões.
Os investigadores da Lava Jato informaram ter localizado os empresários que alugaram a sala no bairro de Ipanema, zona sul do Rio, onde houve a entrega dos R$ 28,2 milhões em espécie.
A PF citou 20 repasses a um intermediário de nome “Antônio”, em endereço na rua Visconde de Pirajá. As entregas ocorreram entre junho de 2009 e dezembro de 2010. Também consta um número de telefone celular ao lado do intermediário.
No endereço estava sediada a SOA & W Serviços de Digitação Ltda., representada por José Antonio Estevão Soares. O empresário faleceu em 2012. Segundo a PF, ele “possivelmente era a pessoa conhecida por Antônio”, que é citada nos sistemas de contabilidade paralela da empreiteira. Já o telefone para contato registrado ao lado de “Antonio” estaria em nome de Eduardo Luiz Alvarenga Lima.
Com relação aos depósitos no exterior, a maioria ocorreu em uma conta em Cingapura controlada por Alexandre Accioly, empresário amigo do tucano, que é dono da rede de academias Bodytech.
Ênio Pereira contou à PF que “além das atividades relacionadas à gerência de recursos humanos, recebeu a incumbência de realizar a programação dos pagamentos de ‘caixa 2’ da área de energia da Odebrecht”.
“Acerca do programa pagamentos realizados no Projeto Madeira, tendo como destinatário o senador Aécio Neves, afirma que ao chegar na área de energia, o declarante recebeu uma planilha de José Carlos Grossi contendo pagamentos relacionados ao Projeto Madeira, que estava em andamento”, afirmou.
Ao verificar a programação de pagamentos de codinome ‘Mineirinho’, Ênio verificou que, em 2009, ‘já haviam feito pagamentos, mas que ainda restava uma parte’.
“O declarante se recorda que, em pelo menos duas oportunidades, o sr. Henrique Valladares solicitou que o declarante verificasse a situação dos saldos de pagamentos feitos a Mineirinho; que nestas oportunidades o sr. Henrique Valladares estava reunido com o sr. Dimas Toledo para tratar a respeito desses pagamentos”, afirmou.
A Polícia Federal pediu mais 60 dias para continuar as investigações, ressaltando a necessidade de ouvir Walter Mesquita, que foi sócio de José Antonio Soares, além de Eduardo Luiz Alvarenga Lima e outros delatores e testemunhas.
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