
A candidata a deputada estadual, Zuleide Oliveira, pelo PSL de Minas Gerais, afirmou que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, a convidou pessoalmente para ser candidata laranja e desviar dinheiro do fundo eleitoral, devolvendo uma parte do recurso público dado a ela.
“Ele [o ministro] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. (…) Para o repasse ser feito, você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais'”, relatou Zuleide.
“Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo [para registrar a candidatura], eu não tirei uma certidão minha, eles tiraram por lá, eu só enviei meu documento e eles fizeram tudo. Acredito, sim, que fui mais uma candidata-laranja, porque assinei toda a documentação que era necessária e não tive conhecimento de nada que eu estava fazendo (…) Fui usada, a minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido”, diz Zuleide, afirmando que não sabe se foi depositado algum dinheiro para ela pelo partido.
O ministro do Turismo foi presidente do PSL mineiro e foi reeleito deputado federal. O Ministério Público Eleitoral MPE-MG suspeita que o dinheiro desviado do fundo eleitoral financiou a campanha de Álvaro Antonio.
Zuleide Oliveira é a primeira candidata a dizer que Álvaro Antonio conversou pessoalmente com ela para fazer parte do esquema de desvio de dinheiro do fundo pelo PSL, partido de Bolsonaro. Além disso, ela fez uma denúncia do esquema já em setembro do ano passado à Justiça Eleitoral.
Zuleide diz ter se encontrado com Álvaro Antônio em seu escritório parlamentar, em Belo Horizonte, em 11 de setembro, na companhia do marido e de um amigo.
Em nota, Marcelo Álvaro Antonio tem uma surto de amnésia seletiva e declara não se lembrar de ter reunido com Zuleide.
A reportagem do jornal Folha de S. Paulo afirma que teve acesso a emails e mensagens de áudio trocados por ela com cinco dirigentes do PSL mineiro, incluindo um recado escrito por Rodrigo Brito, então assessor parlamentar do ministro, com o endereço do escritório do político em Belo Horizonte.
Além de Rodrigo, os dirigentes do PSL mineiro que aparecem nas mensagens de WhatsApp de Zuleide são Aguinaldo Mascarenhas, então chefe de gabinete de Álvaro Antônio em Minas e hoje presidente do partido no estado, Michelle Paim, tesoureira, Gustavo Graça, também da direção do PSL em Minas, e Leonardo Andrade, advogado da sigla.
Ela conta que o ministro lhe ofereceu inúmeras vantagens para colaborar com o esquema. “Marcelo ofereceu um monte de coisa”, diz Zuleide, afirmando que o hoje ministro prometeu que ela ganharia uma vaga na Funai ou na secretaria de Saúde da região onde mora, em Santa Rita de Caldas, a cerca de 50 km de Poços de Caldas, no sul do estado.
O pedido de registro da candidatura de Zuleide foi indeferido pela Justiça Eleitoral devido a uma condenação em 2016, transitada em julgado, por uma briga com outra mulher. Ela enviou a sentença ao PSL de Minas por email no final de agosto.
“Eles já sabiam que não ia dar em nada [a candidatura, por ser ficha suja]. Hoje eu sei que eles sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer às eleições porque eu estava com os direitos políticos suspensos. Eles sabiam de tudo isso. Ele [o ministro] quis falar para mim que não ia dar em nada [a condenação não seria problema] pra mim poder preencher a chapa”.
Ela relata que foi contatada no fim de julho com um telefonema de uma assessora de Álvaro Antônio, Cláudia, perguntando se ela não gostaria de sair candidata pelo PSL. Após o convite, foi para a convenção estadual do partido, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 28 de julho, ocasião em que teve o primeiro contato com Álvaro Antônio. Após isso, Rodrigo, o assessor do ministro, passou a enviar mensagens solicitando documentos.
Em uma das mensagens enviadas a Zuleide, Rodrigo Brito enviou a ela o telefone de Mateus Von Rondon, hoje assessor especial do ministro e que prestou serviços ao gabinete de Álvaro Antônio até 2018.
Além de Zuleide, outra candidata usada como laranja, Cleuzenir Barbosa, também denunciou o grupo do atual ministro do Turismo de Bolsonaro pelo esquema de desvio de recursos do fundo eleitoral em depoimento ao Ministério Público Eleitoral, que investiga outras quatro candidatas laranjas do PSL mineiro.
Ela afirmou que foi pressionada pelo grupo de Álvaro Antonio a devolver parte dos R$ 60 mil que recebeu do fundo. Contou ainda que sofreu ameaças após sua denúncia e foi obrigada a fugir para Portugal, onde vive.
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