O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou nesta quarta-feira (5), em entrevista à GloboNews, que o governo está cometendo muitos erros. “Esse modelo que o presidente [Bolsonaro] implantou de não se aproximar da política não está dando certo. Ele foi eleito com esse discurso que ia mudar e ia ser diferente, mas acabou a eleição. Ele precisa se aproximar da política”, disse o senador.
“O governo [Bolsonaro] comete, todos os dias, algum tipo de trapalhada na coordenação política, na gestão e na relação política. […] É muito desencontro ao mesmo tempo, em uma mesma semana”, disse o presidente do Senado, que se fortaleceu ao derrotar Renan Calheiros no início do ano na eleição da Casa. Segundo o parlamentar do DEM, há muito “desencontro” na articulação política do Palácio do Planalto.
Alcolumbre também criticou, na entrevista, os ataques direcionados à classe política, principalmente, por meio de redes sociais, por simpatizantes de Bolsonaro. Na avaliação do presidente do Senado, usuários de redes sociais e seguidores do presidente estão “agredindo a democracia”.
Para o senador, o presidente deveria tomar a iniciativa de tentar conter as agressões aos políticos protagonizadas no mundo virtual por seus seguidores. “A reciprocidade no tratamento é fundamental na política. A gente precisa que o governo faça gestos ao parlamento. O parlamento está fazendo gestos todos os dias”, reclamou.
Ao dar exemplos do que ele chama de “desencontros de Bolsonaro”, o senador citou a carta que recebeu na qual o presidente defendia a votação pelo Senado da medida provisória 870, da reforma administrativa. Ao tramitar na Câmara, deputados incluíram uma mudança no texto para devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Economia.
No início do mandato, o governo havia transferido o órgão de controle para o Ministério da Justiça, pasta comandada pelo ex-juiz federal Sérgio Moro, porém, depois que Flávio Bolsonaro passou a ser investigado por conta de uma denúncia do Coaf sobre movimentações financeiras suspeitas em seu gabinete, Bolsonaro achou melhor colocar o órgão sob controle de Paulo Guedes. Ao que tudo indica, Guedes é mais confiável do que Moro para por em prática o plano de “controlar” o Coaf.
Nesta época, Bolsonaro já dava sinais do que pretendia fazer com o órgão ao colocá-lo sob o comando de Guedes. Em entrevista à Band no dia 23 de maio, ele diria que “o Coaf tem que ter suas limitações. Não pode vazar como vem… (…)” “O ano passado vazou muita coisa ao arrepio da lei. O Coaf é um órgão de assessoramento não é de investigação de nada”, disse ele.
Para espanto dos bolsonaristas, que tinham feito manifestações atacando o Congresso Nacional e exigindo que o Coaf ficasse com a pasta de Moro, viram uma carta de Bolsonaro, assinada por ele, por Guedes, por Onyx Lorenzoni e por Sérgio Moro, dirigida a Alcolumbre, pedindo que o Coaf fosse mantido na pasta da Economia. A carta foi entregue durante café da manhã oferecido pelo presidente da República, no Palácio da Alvorada, aos chefes dos três poderes.
“Imagina só o presidente da República ser obrigado a assinar um documento apelando ao presidente do Senado, com a assinatura do ministro da Casa Civil, do ministro da Justiça, do ministro da Economia, dizendo ‘por favor, eu peço ao Senado que aprove para não corrermos o risco de perder a reestruturação do governo’. O governo foi obrigado a fazer isso porque o Senado Federal precisava de um sinal do governo de que ele confia na política”, ressaltou.