O monarca é aquele que mandou esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi em 2018, dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia. “Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres”, disse ele
Jair Bolsonaro ficou deslumbrado com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, aquele que mandou esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi em 2018, dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia.
“Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje. Nós dois temos certa afinidade”, disse Bolsonaro a jornalistas na terça-feira (29), na saída do hotel onde estava hospedado.
A tarde com o “príncipe”, tão esperada por Bolsonaro, e que, segundo ele, as mulheres adorariam, serviria, entre outras coisas, para falar sobre armas. O saudita gosta de facas e serras e o ex-capitão de submetralhadoras e bombas de baixa potência.
“A defesa é a área mais importante nas conversas com os sauditas”, explicou Bolsonaro. O país árabe produz muito pouca coisa a não ser petróleo. É abastecido de armas de todos os tipos pelos EUA, em troca de petróleo. Mas, segundo Bolsonaro, as perspectivas são de “bons negócios”.
Bolsonaro explicou ainda que sua “tarde maravilhosa” com o príncipe tem como objetivo solicitar aos sauditas que eles façam investimentos no Brasil. “Acredito que vai ser uma tarde bastante proveitosa”, prometeu. “Tem uma certa afinidade entre nós dois, desde o ultimo encontro em Osaka (na reunião do G20, no Japão)”, repetiu Bolsonaro.
“O Brasil é um mar de oportunidades e eles descobriram isso. É um novo governo que está transmitindo confiança para eles e que os encoraja a investir no Brasil. Estamos muito bem com a Arábia Saudita”, garantiu Bolsonaro. Apesar do príncipe e dos “empresários sauditas” serem tão paparicados por Bolsonaro, só acordos de liberação de viagens foram assinados na ocasião.
Aos 34 anos, Mohammed bin Salman acumula as posições de ministro da Defesa, vice-primeiro ministro e herdeiro do trono saudita. Bolsonaro deve estar extasiado com a monarquia saudita, afinal, tenta praticar vários aspectos dela no Brasil, principalmente os relacionados ao “governo familiar”. A discriminação das mulheres, que têm poucos direitos no país árabe, também devem tê-lo empolgado.
Mas, o que deve ter entusiasmado mesmo a Bolsonaro é a forma com que o príncipe saudita resolve suas diferenças com a mídia de oposição.
O jornalista Jamal Khashoggi que o diga. Ele também era visto pelo monarca esquartejador como sendo uma “hiena” cercando os seus podres poderes. Ele só não pensou em leão, porque por lá esse mamífero das selvas não é muito popular.
Como outros chefes de estado que têm familiares e súditos envolvidos em crimes, o príncipe nega que tenha mandado matar o jornalista. Provavelmente usou suas milicias palacianas. Mas, em entrevista à rede de TV americana CBS, em setembro, Mohammed bin Salman disse não ter ligação com o assassinato, mas assumiu a responsabilidade pelo ocorrido “como líder da Arábia Saudita”. O crime foi cometido por agentes do governo saudita.
Durante a entrevista concedida nesta terça-feira, enquanto Bolsonaro tentava passar otimismo na obtenção de acordos bilaterais sobre segurança alimentar e defesa com o sauditas, ele se irritou com uma pergunta sobre o Brasil. Quando foi perguntado sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, que classificou o comportamento de Bolsonaro como “atrevimento” e falta de “limites”, Bolsonaro rapidamente abandonou a entrevista.
A declaração do decano do STF nesta segunda-feira se referia a um vídeo publicado no perfil pessoal do presidente no Twitter que mostrava um leão associado ao nome do presidente e um grupo de hienas associadas ao STF, a jornais e televisões, órgãos como a ONU, a OAB e a CUT, e partidos como o PT, PSDB, PDT, PCdoB e até o PSL, que vive um racha com o presidente, eleito pela sigla.