O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que disputou a eleição presidencial de 2018, afirmou na segunda-feira (11), em entrevista ao jornal O Globo, que o ex-presidente Lula demonstrou não ter tirado lições do período que passou na cadeia, onde ficou 580 dias: “Ele não aprendeu rigorosamente nada (na cadeia) ao se colocar como candidato sem poder ser”.
Para Ciro, o petista estaria tentando enganar o povo “com a presunção de que o povo é ignorante, é idiota” e a “farsa de 2018”, quando Lula lançou candidatura mesmo barrado pela Lei da Ficha Limpa, está se repetindo e, agora, será uma “tragédia”.
Ao comentar a libertação do ex-presidente, Ciro disse que “ao lado do judicial e do político, você tem um lado humano. Quem comemora que um cidadão esteja preso? O cara saiu da cadeia, acho que é hora dele. Eu não sei se eu aguentaria ficar preso, embora eu me comporte. É um negócio de maluco”, avaliou.
Para o pedetista, Lula “não tem nada de inocente”, já que ele que escolheu Dilma Rousseff, Michel Temer, deu poder a Eduardo Cunha, nomeou Geddel Vieira Lima e loteou a Petrobrás e o Banco do Brasil.
“O (Nelson) Mandela foi preso por luta armada contra o apartheid (regime de segregação racial da África do Sul), o Lula foi preso por corrupção, condenado por corrupção passiva”, acrescentou o ex-governador.
“Você pode até discutir, como eu já falei um milhão de vezes, o devido processo legal. Eu não acho que ele tenha tido o direito (a julgamento justo), agora que ele seja inocente, estou cansado de saber que ele nunca foi, (vi isso) de perto, testemunhadamente. Achei melhor ficar calado, deixar acontecer para ver”, disse Ciro.
Indagado se concorda com a avaliação do PT que considera Lula um preso político, Ciro Gomes contestou: “Preso político? O último preso político notável da América Latina foi o (ex-presidente do Uruguai Pepe) Mujica. Preso (durante a ditadura em seu país) que nunca viu um promotor ou juiz, sumiu. Ficou um ano numa fazenda dormindo num silo, quase enlouqueceu. O nome disso é preso político”, observou.
“Agora o outro lá é preso político. Aí de repente o Supremo manda soltar e pronto, não é mais preso político? Percebe? É um negócio de doido. Se você entrar nisso, é a tragédia brasileira”, prosseguiu o líder pedetista.
Ciro considerou “loucura o que está acontecendo no Brasil”, ao avaliar o discurso de Lula em São Bernardo.
“Vejo basicamente que a história se repete como farsa, e se houver repetição de novo, será como tragédia. É isso que está acontecendo neste momento. O Lula não saiu da cadeia inocente, nem inocentado pelos tribunais como eles estão, de novo, enganando e explorando a boa fé da população brasileira”, destacou.
“O Lula foi devolvido às ruas”, acrescentou Ciro, “porque está pendente um conjunto de recursos. Ele tem direito de aguardar em liberdade como qualquer outro cidadão. Aí o Lula sai imediatamente demonstrando que não aprendeu rigorosamente nada, sai o mesmo: candidato sem poder ser. Já foi assim em 2018. E deu-se a farsa do Haddad, que se submeteu a uma fraude”.
“Eles diziam que eleição sem Lula era fraude, depois já não era mais fraude. O que eles dizem de manhã não serve para de tarde. Sempre com a presunção de que o povo é ignorante, que o povo é idiota, que cabe manipular, mentir, enganar porque o que importa é o projeto de poder. Agora, vai se repetir como tragédia, se persistir nesse caminho”, complementou.
Para Ciro a soltura de Lula “é tudo que o bolsonarismo, empurrado para o gueto de onde nunca deveria ter saído, está ardorosamente comemorando”.
“Desde o episódio da judicialização do caso Lula todo cidadão tem um sentimento de justiça. E o que faz nossa mais Alta Corte, perante esse sentimento de justiça? Por 6 votos a 5 diz que a prisão em segunda instância vale”, lembra Ciro. “Um ano depois”, prossegue, “nenhuma inovação ou mudança institucional, pelos mesmos 6 a 5, vai na direção contrária”.
“Isso na cabeça do povo é absolutamente deletério em matéria de confiança, porque, quem gosta do Lula, vai sempre acusar o Supremo de ter feito política ao sancionar uma prisão precoce do Lula naquela data”, avaliou Ciro Gomes.