“O risco à democracia existe e nós temos que ficar atentos. Por isso o Parlamento obrigar o governo a ficar dentro das leis é tão fundamental”
O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que disputou a eleição presidencial de 2018, afirmou, na quarta-feira (04), em entrevista à jornalista Andreia Sadi, da Globo News, que a democracia está ameaçada no governo Bolsonaro e que o papel de Rodrigo Maia na presidência do Parlamento tem sido fundamental para obrigar o presidente a obedecer, mesmo a contragosto, as regras da democracia.
“Rodrigo Maia é muito importante. O PT quis transformar a eleição da mesa da Câmara em um terceiro turno. Eu disse na época que essa eleição estava perdida, pelo simples fato de que eles são 300 e nós 130. O Maia é conservador, mas ele é filho de dois exilados. Ele é um democrata, filho de Cesar Maia, que foi exilado. A mãe dele foi exilada. Ele nasceu no exílio”, lembrou.
“Ele não queria ser candidato do Bolsonaro. Ele queria ser candidato do parlamento. Vimos então um espaço para obrigar Bolsonaro ao jogo democrático. Foi isso o que fizemos e acho que estávamos certos”, disse Ciro Gomes.
O ex-governador gravou o programa dentro de um teatro no Rio, onde ele costuma reunir personalidades que “pensam o Brasil”. Segundo ele, para “encontrar os caminhos para o Brasil superar a crise”. Mas Ciro disse que o teatro simboliza também a resistência da cultura brasileira ao arbítrio. “Em tempos de obscurantismo a primeira vitima é a cultura e a primeira convocação deve ser àqueles que pensam o Brasil de forma livre e independente”, afirmou o pré-candidato do PDT.
Questionado sobre o que acha do desempenho do governo Bolsonaro, Ciro enfatizou que “o governo Bolsonaro é uma fraude”. “Nos 28 anos de deputado ele era contra a reforma da Previdência. Ele era contra tudo isso que ele está fazendo”, disse.
Ciro destacou que as taxas de investimentos são as menores da história, que a Saúde e a Educação estão sendo sucateadas, que o desemprego é alarmante, que o país não produz, etc. Em suma, para ele, “o governo Bolsonaro é trágico”.
Instado a dizer se via alguma coisa de positivo, Ciro citou a taxa selic, que, “poderia ser menor”, mas, segundo ele, “é menor do que as taxas praticadas nos governos anteriores”. E disse também que a decisão da transferência dos chefes do crime organizado para presídios federais foi acertada.
Sobre a atual polarização política, ele disse que ela é alimentada pelos dois polos. “Bolsonaro é cria do lulopetismo. Lula e Bolsonaro são as duas faces da mesma moeda”, afirmou. Ele explicou. “Você viu que houve uma queda violenta de popularidade de Bolsonaro. Aí ele diz assim ‘tudo bem, que não consigo acertar tudo, eu cometo alguns erros, mas, presta a atenção, se apertar muito contra mim, o PT vai voltar’. No dia seguinte Gleisi Hoffmann diz que ‘não existe centro no Brasil, o que existe é o Bolsonaro e nós, então 2022 vai ser de novo’”, afirmou Ciro.
Em tom de ironia, Ciro disse que “só falta a gente ficar sabendo da combinação dos dois para acertar a polarização que lhes interessa”. “É uma simbiose ou um parasitismo recíproco”, destacou.
“Aí, o Lula sai da cadeia e diz ‘nós vamos apostar na polarização. É isso mesmo que nós queremos, é a polarização’. Para eles não interessa o Brasil, interessa cevar a máquina de poder deles. E é o poder pelo poder”, avaliou o líder pedetista.
Sobre Sérgio Moro, Ciro disse que “o povo estava cansado da impunidade dos poderosos”. “Ele surfou na luta contra a corrupção e a sensação de impunidade. “O lulopetismo não pode fazer de conta que não corrompeu-se. O Palocci, a Petrobrás, o Banco do Brasil, a CEF, isso tudo foi pilhado”, lembrou o ex-governador.
“Quando Moro foi juiz, fez com que a população achasse bom. O povo achava que a Justiça havia começado. ‘Jovem talentoso, valente, corajoso. Não quer nem saber quem é está metendo na cadeia. Empresário, grande empresário, etc, Até o Lula foi para a cadeia para pagar as coisas dele’, pensavam. “É natural o grande apoio”, observou Ciro Gomes.
“A corrupção e a debacle econômica transformaram o anti-petismo na força dominante no Brasil”, avaliou. “Quem eles (PT) apoiarem simplesmente vai aperfeiçoar o caminho da direita mais tosca, que, infelizmente, o Brasil tem”, acrescentou.
“No entanto, quando Moro deixa de ser juiz, virou ministro, já é candidato ao Supremo. Agora está aliado de um e o povo percebe que ele tirou o adversário do caminho. Isso é trágico”, disse. “Com toda a minha opinião contra o lulopetismo corrompido, o Lula não teve o devido processo penal”, afirmou Ciro.
“Tem que haver equilíbrio e tem que se dizer o que é certo e o que é errado e deve-se combater os erros dentro da lei”. “Não estou dizendo que o Lula é inocente, mas acho que ele tem direito ao devido processo legal”, avaliou.
Sobre as próximas eleições e a possibilidade de obter apoio do PT, Ciro foi taxativo. “Eu penso e represento coisa muito diferente do que representa o lulopetismo. A possibilidade dele me apoiar não existe, Lula prefere Bolsonaro do que eu”, afirmou o ex-governador. Ciro não descartou uma aliança com Rodrigo Maia. “Ele é conservador nas questões de política econômica, mas tem garantido o jogo democrático tão importante para o Brasil”, avaliou.