O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na quinta-feira (12), em Genebra, na Suíça, após encontro com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, “não defende os interesses práticos” do Brasil.
Maia está em viagem ao exterior para, entre outras coisas, tentar minimizar os estragos causados ao Brasil pela política externa submissa, obscurantista e confusa do governo Bolsonaro, particularmente de seu Ministério das Relações Exteriores. Uma política que, segundo Maia, enfraquece a posição brasileira no cenário mundial.
Recentemente o governo dos Estados Unidos desferiu ataques aos interesses comerciais brasileiros e o Itamaraty não tomou nenhuma providência para defender o país. O primeiro ataque foi o anúncio da sobretaxa do aço brasileiro, feito sob o pretexto de que o Brasil estaria praticando uma política de valorização do dólar em prejuízo dos produtos americanos.
Jair Bolsonaro afirmou na ocasião que o Brasil era o “lado pobre” da relação com os EUA, dando a entender que não haveria nenhuma reação à sobretaxa.
O segundo golpe foi a extinção, por iniciativa dos Estados Unidos, do Órgão de Apelação (OA) da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Órgão de Apelação da OMC teve suas funções paralisadas a partir da quarta-feira (11) por causa de um veto mantido pelo governo americano nos últimos dois anos.
A manobra de Trump privou o Brasil de um dos principais mecanismos para garantir um comércio internacional justo e que, ao longo dos últimos 20 anos, permitiu vitórias diplomáticas e êxitos para a agricultura nacional, para o setor siderúrgico e para a Embraer. Também nesse caso a reação de Ernesto Araújo e do próprio Bolsonaro foi pífia.
“O presidente (Jair Bolsonaro) foi eleito e a política externa é do governo. Agora, a minha posição em relação ao ministro das Relações Exteriores é uma posição muito crítica. Acho que ele é muito ideológico e não defende os interesses práticos, pragmáticos dos brasileiros na relação com outros países”, disse Maia.
“Fez mudanças em embaixadores só do ponto de vista ideológico, só porque tinham sido ministros da Dilma, uma besteira, os embaixadores são funcionários de carreira, vão atender a todos os governos respeitando a orientação do governo eleito”, acrescentou o presidente da Câmara dos Deputados.
Em mais uma dura crítica ao comportamento do governo Bolsonaro nas relações internacionais, o presidente da Câmara também questionou os resultados de uma relação que seria próxima demais entre Brasil e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Eu acho que há uma relação do Brasil com os EUA e não há uma relação dos EUA com o Brasil. E é normal. O presidente americano já está em campanha. O eleitor dele (Donald Trump) é nacionalista e basicamente anti-América do Sul, pelo menos é o que vejo à distância”, disse Maia.
Ele acrescentou ainda que a relação entre Brasil e Argentina não pode ser contaminada por essa ideologia do governo. “Do ponto de vista pragmático, com o Brasil mais próximo da Argentina, teríamos mais possibilidade de crescimento. Brasil e Argentina no mercado de grãos, se operassem juntos, teriam um peso muito maior na economia”, avaliou.
Pela primeira vez em muitos anos o Brasil não contou com o chefe de governo na posse de um presidente argentino. Aliás, se não fosse a pressão de setores militares e empresariais, Bolsonaro seguiria em sua birra e não enviaria ninguém à solenidade de posse no país vizinho. Acabou sendo obrigado a mandar o vice-presidente, Hamilton Mourão.