Disse ainda que TV Escola “deseduca”
Governo retrógrado é inimigo do ensino, da ciência e da cultura
Jair Bolsonaro agrediu o educador Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, chamando-o de “energúmeno”, na manhã da segunda-feira (16), ao sair da residência oficial, no Palácio da Alvorada.
“Tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire, esse energúmeno aí, ídolo da esquerda”, disse ele, acrescentando que a TV Escola do Ministério da Educação “deseduca”.
Bolsonaro insiste no desmonte da atual estrutura da Educação brasileira, com cortes sistemáticos de verbas, porque, segundo ele, “a educação tem desempenho ruim”. A solução que ele apresenta para melhorar a educação é estrangular financeiramente as estruturas do Ministério – isto é, nenhuma educação. Sem educação pública – isto é, sem educação para o povo – certamente a educação será muito melhor…
. “Queriam que assinasse agora um contrato, o Abraham Weintraub [ministro da Educação], de R$ 350 milhões. Quem assiste a TV Escola? Ninguém assiste. Dinheiro jogado fora”, afirmou.
Paulo Freire, a quem Bolsonaro chamou de “energúmeno”, é simplesmente um dos autores brasileiros mais citados em todo o mundo. O educador, que foi auxiliar do governo progressista de João Goulart antes do golpe de Estado de 1964, desenvolveu uma estratégia de ensino baseada nas experiências de vida das pessoas, em especial na alfabetização de adultos – esta é a essência do Método Paulo Freire de alfabetização, aplicado no Rio Grande do Norte, e, depois em Pernambuco, Estado natal do educador, durante o primeiro governo de Miguel Arraes.
Seu método é elogiado em universidades de todo o mundo. A “Pedagogia do Oprimido”, seu principal livro, foi traduzido em mais de 20 idiomas. Em 2016, estudo do professor Elliott Green, da London School of Economics, apresenta-a como a terceira obra mais citada em trabalhos da área de ciências humanas em todo o mundo.
Trata-se, portanto, de uma glória nacional. Um antípoda da estupidez e ignorância bolsonarista.
A ofensa de Bolsonaro ao educador foi feita para sustentar a decisão de fechamento da TV Escola, anunciada na última sexta-feira (13), por outra sumidade bolsonarista, o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ele informou que não faria a renovação do contrato com a TV Escola, que vigorava desde 1995. A decisão, que segue a linha de desmonte da Educação, recebeu o apoio de Bolsonaro, que apresentou como pretexto para o corte a “baixa audiência” do canal. Como se um canal educativo fosse obrigado a ter a mesma audiência que os programas de auditório…
Há, de fato, um energúmeno em todo este episódio. Energúmeno significa, além de “possuído”, segundo os dicionários, “desatinado”, “violento”, “fanático”, “pessoa exaltada, desequilibrada”, “indivíduo ignorante”, “boçal”, “imbecil”.
Palavras que se encaixam como luva no agressor – e não no laureado professor.
Todas as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro desde que assumiu o poder, dos cortes de verbas das Universidades, Institutos Federais e Centros de Pesquisa, passando pelas perseguições obscurantistas a professores e alunos, e agora o fechamento da TV Escola, visam à destruição da Educação brasileira. Só um energúmeno completo pode ter como objetivo, a ser alcançado por sua administração, a destruição da Educação de seu país. Não é outra coisa que está sendo feita por esse governo.
A educadora Ana Maria Freire, de 86 anos, viúva de Paulo Freire, rebateu indignada a declaração de Bolsonaro: “A palavra [energúmeno] não se adequa a Paulo. Paulo não é isso. Paulo não é nenhum demônio que veio à Terra. Pelo contrário, Paulo veio à Terra para pacificar o mundo”.
A viúva acrescentou que o tipo de crítica feita por Bolsonaro não é “postura de um presidente” e que ele é um homem “nefasto”. “Paulo está lá sossegado no lugar dele, está lá no céu. Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter, sem nenhuma autocensura”, destacou. “Tudo o que ele tem na cabeça contra as outras pessoas, ele só tira das ofensas os três filhos, nem os outros dois ele tira. É um homem nefasto, uma coisa absolutamente terrível”, prosseguiu.
Ela destacou que Bolsonaro critica o educador por “inveja” e por não conseguir ser como o marido. “No fundo, ele [Bolsonaro] pensa que Paulo é um grande homem, como é. Ele destrata, dizendo que Paulo é um ser diabólico. Paulo foi um ser da paz. No fundo, ele tem um pouco de inveja também, [queria] ser como Paulo foi, mas não pode, não consegue. Tem de estar o tempo todo de pontaria armada para atingir alguém”, disse Ana Maria.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), repudiou as declarações do mandatário. “Nunca antes um educador incomodou tanto um presidente. Arrisco dizer que Paulo Freire se sentiria orgulhoso de não ter o apreço de Bolsonaro. Um presidente que desmonta a Educação e despreza a História, não pode mesmo saber a importância que Freire tem”, afirmou.
O senador capixaba Fabiano Contarato (Rede) lembrou o prestígio internacional do educador. “Bolsonaro passará e Paulo Freire não! Ele ataca o nosso maior professor por mesquinhas razões: trata-se do autor que nos ensina a pensar. E isso não interessa ao desmonte desumano e capitalista do seu governo subserviente. Cabe dizer que Paulo Freire não precisa pedir passagem a Bolsonaro”, afirmou o senador.
SÉRGIO CRUZ
Ora um patrono de verdade não prioriza apenas uma classe, e idiotice outras para fazer de massa de manobra.. com aconteceu .. que patrono é esse que estamos em penúltimo lugar em qualidade de ensino,, no mundo,,.é vergonhoso a qualidade de ensino, muitas coisas estão erradas.. ou mal planejadas, não é dando notas a quem NÃO quer estudar que se ensina..
Você quer dizer que o Paulo Freire, que faleceu há 22 anos, é o verdadeiro responsável pelo arraso que Bolsonaro está fazendo na Educação? Taí, eis uma hipótese que não tinha nos ocorrido. Mas é muito inovadora. Por ela, o verdadeiro responsável pelos 39kg de cocaína no avião presidencial é o Pedro Álvares Cabral.