Entidades de saúde divulgaram nota conjunta, no domingo (29), em que consideram “intolerável e irresponsável o ‘discurso da morte’ feito pelo Presidente da República, na noite de 24 de março, em cadeia nacional de rádio e TV”.
“Nossas entidades, representativas da comunidade brasileira de sanitaristas, epidemiologistas, planejadores e gestores de saúde, cientistas sociais e outros profissionais da área de saúde pública, vêm a público denunciar os efeitos nocivos das posições do presidente da República sobre a grave situação epidemiológica que estamos vivendo. Seu pronunciamento perverso pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulnerabilizados em nosso país”, diz a nota.
“Nessa manifestação, incoerente e criminosa, o Sr. Jair Bolsonaro, no momento ocupante do principal cargo do Executivo Federal, nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da COVID-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde”, afirmam as entidades.
As críticas ao discurso de Bolsonaro, feitas por vários segmentos da sociedade, foram completamente ignoradas. Dias depois, ele voltou a defender a volta das atividades normais em todo o país, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde.
Neste domingo, ele desrespeitou novamente as orientações do Ministério da Saúde e saiu às ruas de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, onde promoveu aglomerações de pessoas, atacou as autoridades sanitárias, a mídia e os governadores e defendeu o fim das medidas de controle da propagação do vírus.
Para as entidades, além de desrespeitar “o excelente trabalho da imprensa e de numerosas redes de difusão de conhecimento, essenciais para o esclarecimento geral sobre a COVID-19”, Bolsonaro “desmobiliza a população a dar seguimento às medidas fundamentais de contenção para evitar mortes, medidas estas cruciais encaminhadas com muito esforço pelas autoridades municipais e estaduais, implementadas por técnicos e profissionais do SUS, os quais vêm expondo suas vidas para salvar pessoas”.
A entidades afirmam ainda que não é apenas um recurso de retórica afirmar que o presidente comete um crime contra a saúde pública, uma vez que suas atitudes infringem medida sanitária preventiva, estabelecida por “determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa” e confere crime de acordo com o Art. 268 do Código Penal Brasileiro.
A nota encerra conclamando: “As instituições da República precisam reagir e parar a irresponsabilidade do ocupante da cadeira de presidente antes que o caos se torne irreversível”.
Assinam esta nota as seguintes entidades:
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Centro Brasileiro de Estudos da Saúde – Cebes
Associação Brasileira de Economia da Saúde – ABrES
Associação Brasileira da Rede Unida
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn
Associação Paulista de Saúde Pública – APSP
Sociedade Brasileira de Bioética – SBB
Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares – RNMMP
Associação Brasileira de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – ABRASTT
Frente Ampla em Defesa da Saúde dos Trabalhadores
Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais – ABRATO
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS
Federação Nacional dos Psicólogos -FENAPSI
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde- CNTS
Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro – SinMed-RJ
Movimento Nenhum Serviço de Saúde a Menos
Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD