O presidente russo Vladimir Putin equiparou o cerco de Leningrado, agora São Petersburgo, durante a Segunda Guerra Mundial, ao Holocausto, ao se pronunciar no dia 27 de janeiro, dia do 81º aniversário da quebra do cerco de tropas nazistas à segunda maior cidade russa e também Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no mundo.
A libertação completa de Leningrado do cerco das tropas de Hitler ocorreu em 1944. No mesmo dia, mas em 1945, o Exército soviético libertou o campo de concentração de Auschwitz.
“É absolutamente claro que o cerco a Leningrado está entre os crimes hediondos contra a humanidade, como o Holocausto, os campos de extermínio e as ações punitivas dos colaboradores nazistas contra civis. O bloqueio custou mais de um milhão de vidas”, disse Putin na cerimônia de homenagem aos moradores e aos defensores da cidade.
Desde 2005, o 27 de janeiro marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Foi o povo soviético que trouxe “vida, paz e liberdade” para a humanidade, o que foi feito à custa de enormes sacrifícios e graças ao heroísmo durante a Segunda Guerra Mundial, disse o presidente russo.
A tragédia de Leningrado durou quase dois anos e meio, e esse bloqueio foi sem precedentes em termos de crueldade e cinismo, enfatizou Putin.
“O inimigo [Alemanha nazista] planejava varrer a cidade da face da Terra, cercá-la em um anel e destruí-la por meio de bombardeios e ataques de artilharia, além de matar os civis de fome. Essas eram intenções conscientes e documentadas dos nazistas, planos de destruição sistemática, extermínio de milhares e milhares de pessoas indefesas.”
ROSAS VERMELHAS NA CHUVA
Putin foi ao memorial da “Pedra da Fronteira”, lugar sagrado para os habitantes de Leningrado de todas as gerações. Neste pedaço de terra, em setembro de 1941, soldados soviéticos cercados mantiveram suas posições sob fogo pesado, repelindo 16 ataques por dia. Sua façanha tornou-se um símbolo de sacrifício pela Vitória, registrou o jornal Konsomolskaya Pravda.
O pai do presidente, Vladimir Spiridonovich, também derramou sangue ali e ficou gravemente ferido. Sua vida foi salva por um velho conhecido que milagrosamente carregou o combatente através do gelo do Neva.
Com a cabeça descoberta e sob uma chuva torrencial, Putin colocou um buquê de rosas vermelhas no pedestal, enquanto o corneteiro da guarda de honra executava um trecho da música “O Silêncio”.
A segunda parada de Putin foi no famoso monumento à Pátria, o Cemitério Memorial Piskarevskoye, onde ele colocou uma coroa de flores. Em 186 valas comuns e 6 mil sepulturas individuais, estão enterrados ali 420 mil habitantes que morreram de fome, doenças, bombardeios e 70 mil defensores.
O irmão de Putin também está enterrado ali – no jazigo comum nº 27. Victor, de dois anos, foi levado de seus pais para um orfanato para evacuação. Mas não houve tempo de levá-lo embora – o bebê morreu.
Em seguida, o presidente assistiu ao concerto “Vitória de Leningrado”. Os veteranos já esperavam Putin no palco: avós em cadeiras confortáveis.
“Para nós, habitantes de Leningrado, 27 de janeiro de 1944 é uma data especial. Ela é reverenciada em todas as famílias cujos parentes passaram pelas provações terríveis e inimagináveis do bloqueio. O enorme feito da cidade sitiada nunca será esquecido. Eles, nossos veteranos, deixaram aos seus descendentes por séculos um exemplo de altruísmo, misericórdia, unidade e verdadeiro patriotismo”, soou profunda e sincera a voz de Putin.
Ele prometeu que a Rússia preservará cuidadosamente a memória da coragem e do sacrifício de cada defensor. E, curvando-se cuidadosamente sobre cada veterano, ele prendeu medalhas “80 anos de vitória na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945” em suas jaquetas.
“Para todo o nosso país, a vitória de Leningrado permanecerá para sempre um triunfo da vida, da coragem e do poder espiritual do nosso povo. Este ano celebraremos o 80º aniversário da Grande Vitória. Foi declarado o Ano do Defensor da Pátria – como sinal da nossa memória imorredoura dos acontecimentos da Grande Guerra Patriótica, em homenagem ao grandioso feito da geração de vencedores e em homenagem aos nossos heróis de hoje, os participantes na operação militar especial”. “Eles estão aqui no corredor”, anunciou Putin, chamando a recebê-los.
Os presentes se levantaram, enquanto os veteranos aplaudiram com lágrimas nos olhos, acrescentou o jornal. E sete jovens soldados russos mal conseguiam se conter, sentindo a continuidade da luta das gerações de forma mais aguda do que nunca. Sob aplausos, também foram condecorados.