O documento começou a circular e receber apoios da categoria após vídeo, repercutido por Bolsonaro, com ataques do presidente do CFM à CPI da Pandemia
Margareth Dalcolmo, Paulo Niemayer, Daniel Tabak, Ligia Bahia e centenas de outros médicos brasileiros “comprometidos com a melhoria da saúde no país” lançaram um manifesto cotestando as posições adotadas recentemente pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro, em relação ao uso de drogas ineficazes no tratamento da Covid-19.
O documento aponta que o CFM adota postura acrítica em relação aos errros grosseiros do governo federal na condução da pandemia e contrária “à apuração das responsabilidades e omissões” para o enfrentamento da maior crise sanitária dos últimos cem anos. O manifesto defende ainda que “nesse momento em que o padrão de transmissão da Covid-19 segue elevado, nossa atenção seja a necessidade de políticas baseadas na ciência e em boas práticas.”
A iniciativa se deu logo após o presidente do CFM ter divulgado um vídeo, amplamente repercutido por Jair Bolsonaro e toda a sua rede de milícias digitais, onde Mauro Ribeiro aparece dizendo estar falando em nome dos médicos e afirmando que “não sabemos nada, temos todas as dúvidas do mundo” sobre o novo coronavírus, o que abriria precedente para tratamentos diversos. A afirmação anticientífica do médico foi criticada por diversos especialistas em todo o Brasil.
Muitos médicos brasileiros, inclusive os que estão na linha de frente no cuidado de pacientes graves, discordam do que disse o presidente do CFM e dizem que sabem sim, por exemplo, que o denominado tratamento precoce não é o recomendado. O vídeo atacou ainda, de forma virulenta a CPI da pandemia que investiga a inação do governo e a sabotagem de Bolsonaro à compra de vacinas.
Os ataques à CPI se intensificaram após a médica bolsonarista Nise Yamaguchi ter sido desmascarada pelos senadores após defender o uso de cloroquina e criticar as vacinas para o combate à Covid-19. Nise chegou a repetir argumentos inteiros de Bolsonaro a favor da imunidade de Rebanho, tese genocida que foi abandonada em todo o mundo, e que é a principal causadora de milhares de mortes de brasileiros que poderiam ser evitadas.
O médico bolsonarista Mauro Ribeiro, que tem se alinhado automaticamente ao governo federal em todas as suas ações anti-vacinas e pró-vírus, é acusado pela 31ª Promotoria de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul de ter se ausentando no trabalho na Prefeitura de Campo Grande por 28 meses entre de junho de 2013 a outubro de 2015.
A médica Luana Araújo, que esteve na CPI da Pandemia na terça-feira (1), um dia após a presença da doutora Nise, contestou todas as afirmações da médica paulista e de outros integrantes do gabinete paralelo que derrubou dois ministros da Saúde. “Todos nós somos favoráveis a uma terapia precoce que exista. Quando ela [essa] não existe, não pode ser uma política de saúde pública. Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e antiproducente.”
“Estamos na vanguarda da estupidez”, disse ela ao criticar o fato de que até hoje ainda se discuta esse assunto quando o mundo inteiro já sabe que não funciona. “Ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular. Não tem lógica”, afirmou a médica à CPI.
Luana foi anunciada no dia 12 de maio pelo ministro Marcelo Queiroga para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Ea não chegou a ser nomeada por interferência direta de Bolsonaro. Durante os dias em que a médica atuou na pasta foram reveladas declarações dela contra o chamado “tratamento precoce” e o uso de medicações como a cloroquina, procedimentos defendidos por Jair Bolsonaro.
S.C.