“O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus, pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos”, diz o coletivo Vozes Judaicas por Libertação
O grupo Vozes Judaicas por Libertação defende, em nota, que o presidente Lula acertou ao aumentar o tom contra Israel, e afirma que o país está “promovendo um massacre contra palestinos”.
O coletivo defendeu que o Brasil rompa as relações diplomáticas com o governo sanguinário de Israel.
“A contradição do povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós”, afirmou o grupo judeu.
No domingo (18), o presidente Lula afirmou que Israel está fazendo na Faixa de Gaza igual “quando Hitler resolveu matar os judeus”. Em quatro meses, Israel já assassinou mais de 29 mil pessoas.
“Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática”, continua a nota do grupo.
O pedido de impeachment protocolado pelos deputados bolsonaristas é uma medida descabida, assim como as acusações de antissemitismo – cujo real objetivo é deslegitimar o governo e a diplomacia brasileira. Não acreditamos que judeus brasileiros estão em risco por causa de sua declaração
A declaração de Lula traz “uma comparação que causa muita dor a judias e judeus de todo mundo, que tiveram as suas vidas cindidas pelo genocídio dos judeus na Europa, e agora veem um crime similar sendo cometido, supostamente em seu nome”.
“Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus, pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos”, acrescenta.
O grupo Vozes Judaicas por Libertação ressalta que “a comparação entre genocídios é sempre complicada” pela impossibilidade de “estabelecer qualquer hierarquia”.
No entanto, Lula conseguiu “atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel”, o que ganha importância “frente à incapacidade da ONU e de várias organizações internacionais em conter a violência perpetrada por Israel em Gaza”.
O coletivo ainda destaca que os atos criminosos de Israel são “a maior fonte de insegurança para todos os judeus do planeta ao usar nossa identidade como fachada e justificativa para sua campanha de terror”.
Entre os membros do grupo estão Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, a historiadora Branca Zilberleib, mestre em História Social pela USP, a pesquisadora Beatriz Kalichman, também da USP, e Yuri Haasz, mestre em Ciências Sociais pela Universidade de Chicago, nos EUA.
Leia a íntegra do manifesto:
Dando um passo além nas contínuas denúncias dos crimes cometidos por Israel contra os palestinos, o presidente Lula causou furor ao fazer uma comparação entre o que ocorre hoje em Gaza e o que Hitler fez com os judeus durante o nazismo.
A comparação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável. Cada um representa uma narrativa singular e dolorosa na história das comunidades vitimadas. Logo, não há como estabelecer qualquer hierarquia entre genocídios. É impossível estabelecer uma métrica objetiva para determinar o ‘pior’ genocídio da história. Categorizar historicamente vítimas maiores ou menores é uma perigosa armadilha de reprodução de racismo.
A contradição do povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós. Uma comparação que causa muita dor a judias e judeus de todo mundo, que tiveram as suas vidas cindidas pelo genocídio dos judeus na Europa, e agora veem um crime similar sendo cometido, supostamente em seu nome. Enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa.
Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos.
As lideranças israelenses seguem promovendo um massacre contra palestinos e ainda ameaçam a vida de judeus e judias em todo o mundo. Israel representa hoje a maior fonte de insegurança para todos os judeus do planeta ao usar nossa identidade como fachada e justificativa para sua campanha de terror.
Por isso, defendemos e acreditamos que as palavras de Lula são de grande importância pois levantam questões relacionadas à urgência da ação, como um chamado definitivo dirigido a todos para agir diante do que ocorre em Gaza neste momento. Frente à incapacidade da ONU e de várias organizações internacionais em conter a violência perpetrada por Israel em Gaza, destaca-se a importância vital da postura demonstrada por líderes internacionais como Lula, que levantam suas vozes contra o que é já considerado por incontáveis especialistas como um genocídio contra o povo palestino.
As palavras têm poder. Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa – tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas – sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel. O pedido de impeachment protocolado pelos deputados bolsonaristas é uma medida descabida, assim como as acusações de antissemitismo – cujo real objetivo é deslegitimar o governo e a diplomacia brasileira. Não acreditamos que judeus brasileiros estão em risco por causa de sua declaração.
Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática. Seria um gesto diplomático de relevância gigantesca romper todas as relações entre o estado brasileiro e Israel, em especial as relações militares que também fortalecem a barbárie em terras brasileiras, com a compra de armas e tecnologias de controle social que são usadas para atingir a vida do povo negro nas favelas. Convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv foi um passo ainda insuficiente nessa direção.
Por fim, convidamos a todas e todos, mas principalmente ao governo brasileiro a atender as demandas do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), liderado pelas bases da sociedade civil palestina. O povo palestino tem pressa e nossas ações têm poder.
Lula fez a fala certa, condensou o crime do grupo terrorista Hamas, como também condena a atrocidade de Israel contra o povo palestino já se tornou vingança do governo e não a justiça, é legal a defesa de Israel precisa sim proteger seu povo, mas será que com tanta tecnologia era necessário esse massacre atirando em todos que vem na frente, um pente fino minuciosa dava jeito no Hamas.