O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou na quarta-feira (14) que o governo federal vai restringir os voos operados no aeroporto Santos Dumont, no centro da cidade. O anúncio foi feito após reunião do prefeito carioca com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.
Pela decisão do presidente, de acordo com o prefeito, o Santos Dumont só vai operar voos para dois destinos: os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e o de Brasília. Ainda não há prazo para que as mudanças entrem em vigor e o Paes estimou que isso deve ocorrer a partir de janeiro de 2024.
“Hoje, o presidente decidiu que vai fazer. O aeroporto Santos Dumont passará a ser tão somente para a ponte aérea Rio – São Paulo/Congonhas e Rio-Brasília, e o aeroporto internacional do Rio de Janeiro volta a receber os voos domésticos que sempre teve, o que permite que o Galeão seja um hub internacional. Isso é uma mudança importantíssima”, destacou Paes a jornalistas após a reunião com Lula.
Segundo o prefeito, que entregou uma proposta de portaria, a mudança vinha sendo pedida há mais de dois anos e meio, sem sucesso. Além da limitação de voos, Paes afirmou que o governo deve editar uma norma impedindo que passageiros de voos internacionais a partir de outras cidades (como São Paulo e Brasília) façam check-in a partir do Santos Dumont.
Obrigado @LulaOficial ! VITÓRIA HOJE EM BRASÍLIA! O Rio é um lugar muito especial e com muito potencial. Os últimos anos foram difíceis e faltava o mínimo de sensibilidade política e amor ao Rio para darmos a volta por cima! Uma das faces mais absurdas e inaceitáveis do… pic.twitter.com/slOgspgFu6
— Eduardo Paes (@eduardopaes) June 14, 2023
Atualmente, muitos turistas realizam o check-in do seu voo internacional no aeroporto Santos Dumont, mas na sequência embarcam de lá para outro destino no Brasil e só então partem para o exterior.
A mudança tem o objetivo de dar um novo impulso na operação internacional do Galeão. Se um turista que vai ao exterior quiser sair do Santos Dumont, agora precisará fazer uma viagem até Congonhas ou Brasília e nesses locais realizar um novo check-in e despachar as bagagens novamente nesses locais.
A situação dos dois aeroportos tem sido discutida há alguns meses. Governo do estado do Rio de Janeiro e prefeitura da capital criticam o fato de que o Aeroporto Santos Dumont – administrado pela União através da Infraero – aumentou muito o número de voos. Isso provocou um esvaziamento do Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, administrado pela concessionária Changi, de Cingapura.
Em 2022, o Galeão recebeu menos de 6 milhões de passageiros, enquanto o Santos Dumont teve mais de 10 milhões.
Para se ter uma ideia, em 2014, quando o Aeroporto do Galeão foi concedido à iniciativa privada, o número de passageiros chegava a quase 17 milhões por ano, nível que despencou principalmente após o período da pandemia, quando as companhias aéreas deixaram de operar no local e migraram grande parte das operações para o Santos Dumont.
Em 2014, o Galeão era o segundo aeroporto mais movimentado do Brasil. Em 2021, o terminal despencou para a 11ª posição, sendo ultrapassado pelos aeroportos de Brasília, Congonhas, Viracopos, Recife, Confins, Santos Dumont, Salvador, Porto Alegre e Fortaleza.
Além disso, segundo um levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o esvaziamento do Aeroporto Internacional Tom Jobim representou uma perda de R$ 4,5 bilhões para a economia do Rio de Janeiro.
Frente a isso, a operadora chegou a pedir a quebra do contrato de concessão e devolver ao Estado a administração do Galeão. O pedido foi feito durante o governo Bolsonaro que topou a devolução e começou especular criar um pacote para privatizar os dois aeroportos da cidade do Rio de Janeiro juntos, mas com o fim do governo, a ideia não foi pra frente.
Na prática, a fala de superlotação do Santos Dumont e o esvaziamento do Galeão resvalam no fato de Congonhas, por exemplo, também ser um aeroporto no meio da cidade e que despacha voos domésticos para praticamente todo o Brasil. Com isso, talvez o problema real que é a queda de voos no Galeão não esteja diretamente relacionada ao aumento de voos no Santos Dumont, visto que Guarulhos, o aeroporto mais distante do centro da capital paulista, não é afetado pelo alto índice de decolagens em Congonhas.
Na última segunda-feira (12), o governador do estado do Rio, Cláudio Castro, também se reuniu com Lula em Brasília e conversou sobre uma gestão compartilhada dos aeroportos Santos Dumont (doméstico) e Galeão (internacional). A administração dos dois terminais aéreos seria feita em parceria entre União, Estado e prefeitura do Rio. Eduardo Paes afirmou que a questão da concessão está em andamento e será tomada posteriormente, independente da limitação de voos.