Alexandre seria autor de “estudo” citado pelo presidente Jair Bolsonaro, segundo o qual metade das mortes confirmadas no Brasil por covid-19 não teria ocorrido. Marques disse que a divulgação do documento por parte de Bolsonaro foi uma “irresponsabilidade”
A CPI da Covid-19 deve ouvir, nesta terça-feira (17), a partir das 9h30, o auditor do TCU (Tribunal de Contas da União), Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques. Ele teria elaborado “estudo paralelo”, segundo o qual metade das mortes confirmadas no Brasil por Covid-19 não teria ocorrido.
Em 7 de junho, o presidente Jair Bolsonaro disse, para apoiadores, no chamado cercadinho do Alvorada, que o suposto estudo do TCU mostrava que metade das mortes por Covid-19 no ano passado não foram causadas pela doença:
“Primeira mão para vocês. Não é meu, é do tal do Tribunal de Contas da União, questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. O relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União”.
TCU DESMENTE BOLSONARO
Bolsonaristas chegaram a divulgar nas redes sociais documento com timbre do TCU com os dados.
No mesmo dia, o TCU esclareceu que não há informações em relatórios do tribunal que apontem a afirmação do presidente Bolsonaro e reforçou que não era o autor do documento.
O TCU acrescentou, ainda, que o documento citado por Bolsonaro era análise pessoal feita pelo servidor Alexandre Marques, afastado das funções para responder a processo administrativo.
FALSIFICAÇÃO DO PLANALTO
Contudo, ao ser investigado, o auditor Alexandre Marques disse que Bolsonaro falsificou o documento.
Em depoimento, Marques afirmou que o documento citado por Bolsonaro para desdenhar a pandemia e atacar governadores, prefeitos e autoridades sanitárias foi alterado no Planalto. Marques informou ainda que a divulgação do documento por parte de Bolsonaro foi uma “irresponsabilidade”.
“Quando eu vi o pronunciamento do presidente Bolsonaro, eu fiquei totalmente indignado, porque achei total irresponsabilidade o mandatário da nação sair falando que o tribunal tinha um relatório publicado, que mais da metade das mortes por Covid não era por Covid. Eu achei bem, uma afronta a tudo que a gente sabe que acontece, a todas as informações públicas, à ciência, etc”, disse Alexandre Marques no depoimento.
EX-SECRETÁRIO DA SAÚDE DO DF
Os senadores ouvem ainda o ex-secretário da Saúde do Distrito Federal Francisco de Araújo Filho, denunciado por irregularidades na compra de testes rápidos para detecção do coronavírus.
A convocação do auditor Alexandre Marques foi sugerida pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
O parlamentar sergipano quer “esclarecer os detalhes da participação” do auditor na produção do “estudo paralelo”, que chegou a ser citado pelo presidente Jair Bolsonaro como documento oficial do TCU. Em junho, o auditor foi afastado do cargo.
O depoimento do ex-secretário Francisco de Araújo Filho atende requerimento do senador Eduardo Girão (Podemos-CE). Ele lembra que a Operação Falso Negativo, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal, descobriu irregularidades na aquisição de testes para o coronavírus. Francisco de Araújo Filho chegou a ser preso e denunciado por organização criminosa, fraude à licitação e desvio de dinheiro público.