“Vá tomar vacina”, gritou um dos manifestantes. Na missa, na presença de Bolsonaro, padre José Ulisses homenageou as famílias das 600 mil vidas perdidas para a Covid-19 e criticou a situação do país com milhões no desemprego
Jair Bolsonaro foi recebido com vaias e gritos de “genocida”, “assassino” e “ladrão” em Aparecida (SP), nesta terça-feira (12), dia de Nossa Senhora de Aparecida. O público também pedia “Fora Bolsonaro”. “Vá tomar vacina, vagabundo!”, gritou alguém na multidão.
Para contrabalançar a avalanche de gritos contra Bolsonaro, alguns tentavam gritar “mito”, “mito”.
Ele chegou no Santuário Nacional de Aparecida às 14h, em uma visita que não constava na agenda oficial.
Bolsonaro tirou e abaixou a máscara em diversos momentos para tirar fotos com apoiadores.
Nos vídeos que registram a chegada de Bolsonaro, parte do público presente estava vaiando e o chamando de “genocida”, “assassino” e “ladrão”. As pessoas entoaram gritos de “Fora Bolsonaro”.
Na missa das 9h, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, fez críticas à política de Bolsonaro, mesmo sem citar seu nome, e defendeu a democracia.
“Para ser Pátria amada, não pode ser Pátria armada”, declarou o arcebispo.
“Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma República sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção, e pátria amada com fraternidade. Todos irmãos construindo a grande família brasileira”, continuou.
“Respeitamos as autoridades mesmo discordando e falamos com a doutrina da igreja. Nós estamos quebrando a aliança com o ódio e a corrupção e para confirmarmos a nossa República e a democracia”.
O arcebispo também homenageou os 600 mil brasileiros mortos pela Covid-19 e defendeu a vacina e a ciência como ferramentas de combate à pandemia.
Na presença de Bolsonaro, o padre José Ulisses, diretor da Academia Marial de Aparecida, fez um discurso em referência à atual situação do país, homenageando as vítimas da Covid-19.
“Você que está aqui hoje, neste 12 de outubro de 2021, pode agradecer por estarmos aqui, vivos. Ela [Nossa Senhora] enxuga as lágrimas de muitas famílias. Muita gente morreu, mas hoje é o momento de olhar a imagem da nossa Mãe e dizer obrigada.”
O padre dirigiu-se aos familiares das mais de 600 mil vítimas da Covid-19. “Ela [Nossa Senhora] nos ensinou a seguir em frente. Se ela pudesse, chegaria perto de cada um de nós para dar um abraço fraterno.”
O religioso abençoou todos os agentes de saúde “que se desdobraram para dar seu melhor nesses tempos difíceis”. Bolsonaro desdenhou dos agentes de saúde e dos médicos, linha de frente contra a Covid-19, e nunca lhes dirigiu uma palavra de estímulo.
“Há várias mesas vazias, desemprego. Mas Nossa Senhora está aqui hoje para repartir o bolo do seu aniversário, sem distinção. Somos o povo de Deus. E a maior dignidade que temos deve prevalecer ao povo de Deus. Só assim poderemos construir um país e, assim, sonhar com a paz e a justiça”.
Em sintonia com o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, que pela manhã criticou a pregação pelas armas de Bolsonaro, o padre José Ulisses, ainda elogiou os “bem aventurados” que promovem a paz. “Que haja mais desarmamento, mais felicidade e mais humanidade”, disse ele olhando na direção de Bolsonaro e de seus ministros. “Em seu aniversário, tudo que Nossa Senhora deseja é a vida”, arrematou.
“Que a vida, esse presente de Deus, seja algo a ser defendido antes de qualquer projeto de sociedade. O dragão da pandemia assolou nosso país, assim como da ganância, para que uns tenham uma vida de luxo. Esses dragões devem ser vencidos”, continuou o padre Ulisses.
Bolsonaro já se disse católico, mas sempre aparece em celebrações e está sempre próximo de lideranças evangélicas, que o apoiam.
Em aceno aos evangélicos, ele até prometeu indicar um “terrivelmente evangélico” para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). O indicado é André Mendonça, que tem grande rejeição entre os senadores e, até agora, sua sabatina não foi marcada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.