Carla Zambelli já gastou meio milhão do dinheiro público sem trabalhar

Carla Zambelli presa na Itália (Foto: Reprodução - TV Globo)

Foragida, condenada em múltiplas frentes e ainda assim preservada pela Câmara. Deputada simboliza a degeneração bolsonarista

A deputada Carla Zambelli (PL-SP), que fugiu do Brasil para escapar das condenações relacionadas à fraude, atos golpistas de 8 de janeiro e outras frentes judiciais, já gerou R$ 521 mil em despesas à Câmara dos Deputados desde que se evadiu.

Mesmo fora do País, sem comparecer às sessões, votações ou atividades parlamentares, a estrutura de gabinete segue funcionando como se nada tivesse ocorrido. Salários de assessores, verbas de gabinete, serviços e auxílios continuam sendo pagos integralmente com recursos públicos.

O dado expõe contradição grave: enquanto a parlamentar foge de responsabilidades políticas e judiciais, o contribuinte continua financiando a representação que não existe.

É mais um capítulo da crise de eficiência, transparência e autocorreção que corrói o Parlamento brasileiro.

CONDENAÇÕES E HISTÓRICO DE GOLPISMO

Zambelli é uma das parlamentares com maior acúmulo de decisões judiciais desfavoráveis na atual legislatura. No TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), foi condenada por impulsionamento irregular de conteúdos durante o período eleitoral. Prática que afronta a lisura democrática e que integra o modus operandi da extrema-direita digital.

Ela também foi condenada no STF (Supremo Tribunal Eleitoral) como mentora intelectual da invasão do sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O objetivo era desmoralizar o Sistema de Justiça brasileiro.

Mas o episódio mais emblemático continua sendo a perseguição armada ao jornalista negro Luan Araújo, registrada um dia antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

A cena, que viralizou em todo o País, mostra a deputada correndo armada por rua de São Paulo enquanto ameaça o eleitor. A Justiça a condenou por porte ilegal de arma, ameaça e outros delitos. Trata-se de caso que sintetiza a escalada de violência política no período bolsonarista, além de demonstrar o desprezo da parlamentar pelas normas mínimas de convivência democrática.

Zambelli ainda responde a outros processos relacionados à disseminação de fake news, incitação ao ódio e participação em redes antidemocráticas.

A trajetória pública dela tornou-se símbolo de exercício de mandato baseado na confrontação permanente, na desinformação e na ruptura institucional.

GASTO PÚBLICO SEM RETORNO

Mesmo diante desse conjunto de condenações e da ausência prolongada, a Presidência da Câmara mantém ativa a estrutura completa de gabinete da deputada. Funcionários continuam trabalhando, a verba parlamentar segue sendo executada e nenhuma sanção administrativa foi aplicada.

Para além do valor de R$ 521 mil já pagos, o caso evidencia a cumplicidade da direção da Câmara em suspender remunerações e benefícios de parlamentares que deixam de cumprir as obrigações mais elementares. O caso mais emblemático foi o do ex-deputado Chiquinho Brazão. Acusado de mandar assassinar a vereadora Marielle Franco, ele perdeu o mandato em abril por faltas e não pelo assassinato.

Na prática, o Parlamento chancela sistema em que a ausência injustificada e o descrédito institucional não impedem o fluxo contínuo de recursos públicos.

IMPACTO POLÍTICO

O caso Zambelli amplia a percepção, já consolidada na sociedade, de que a Câmara protege os próprios integrantes mesmo diante de condutas graves e incompatíveis com o exercício do mandato.

Em momento de forte questionamento à representatividade política, a manutenção de gastos, estruturas e privilégios para deputada ausente e condenada reforça a sensação de impunidade e distanciamento entre a instituição e o eleitorado.

Especialistas em direito público e análise legislativa apontam que episódios como este corroem a confiança na democracia e exigem reformas internas urgentes. Tanto nos mecanismos de controle quanto nos critérios para responsabilização parlamentar.

DESMORALIZAÇÃO

Apesar do histórico de condenações, do episódio armado que chocou o País e do acúmulo de processos judiciais, Zambelli acaba de receber parecer pela não cassação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara.

O relatório, do deputado bolsonarista Diego Garcia (Republicanos-PR), ao optar pela preservação do mandato, oficializa a proteção política à deputada.

O gesto, somado aos mais de R$ 521 mil já desembolsados durante a ausência da ainda deputada do País, intensifica a percepção de que os bolsonaristas se fingem de moralizadores, mas ávidos por uma mamata. Não é à toa que brigam por anistia para seus criminosos aliados.

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