Levantamento mostra que manifestações favoráveis à vacina em crianças de 5 a 11 anos levaram o tema a ser o mais debatido nos primeiros dias de 2022
A carta escrita pelo diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, contra Jair Bolsonaro (PL) teve 74% de aprovação nas redes sociais.
É o que aponta levantamento feito pela agência de análise de dados .MAP. No documento, Barra Torres rebate insinuações de Bolsonaro sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos de idade.
O levantamento ainda identificou que a confiança em relação ao imunizante entre perfis à direita, à esquerda e até mesmo entre os não militantes atingiu índice de 73% e fez o tema ser o mais debatido nos primeiros 10 dias de 2022.
Em contrapartida, segundo informações da coluna de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo, o posicionamento de Bolsonaro não angariou muito apoio nas redes sociais, tendo apenas 16% das intervenções realizadas no período como favoráveis ao presidente da República.
Segundo a Folha, a análise da .MAP considerou universo diário de 1,4 milhão de postagens no Twitter e em perfis abertos do Facebook.
ENTENDA A CONTROVÉRSIA
Segundo o chefe da Anvisa, Antônio Barra Torres, que já atuou em alinhamento com o governo federal, no início da pandemia, as declarações de Bolsonaro sobre a vacinação infantil incentivariam crimes contra a agência reguladora.
Foi o que ele disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Após a Anvisa aprovar o uso das doses reduzidas da Pfizer contra a covid-19 para o grupo de 5 a 11 anos, o presidente da República se manifestou em ‘live’ e sugeriu que fossem divulgados os nomes de quem liberou a vacina para crianças.
Segundo Barra Torres, isso contribuiu para aumentar o número de ameaças de morte, agressão física e violências contra servidores da Anvisa e respectivos familiares, que chegaria a 170 casos.
Na ocasião, Barra Torres também declarou que considerava inadequada a consulta pública e a proposta do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de cobrar prescrição médica para imunizar os mais jovens. Em ambas as situações, o governo foi derrotado.
A consulta pública foi amplamente favorável à vacinação das crianças de 5 a 11 anos de idade. E a prescrição médica para vacinação dessa faixa etária também foi amplamente não recomendada ou desconsiderada.
Leia a carta do presidente da Anvisa:
CARTA DE BARRA TORRES A BOLSONARO
“Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 5 a 11 anos, no qual pergunta: “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, o diretor presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
“Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente – Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil”.