Coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima pede demissão em meio à COP-26

Lucon disse que estava saindo devido à falta de interlocução do governo Bolsonaro com os representantes da sociedade civil - Foto: Reprodução

O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo na última terça-feira (2), ainda no início das negociações da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). Ele foi nomeado para a função ainda em maio de 2019 por Jair Bolsonaro.

Em entrevista, Lucon disse que estava saindo devido à falta de interlocução do governo Bolsonaro com os representantes da sociedade civil.

O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) é um organismo oficial de aconselhamento científico do presidente da República. O objetivo do fórum é assessorar o chefe do Executivo no tema da emergência climática, por meio do diálogo com a comunidade científica. 

Lucon, que é pesquisador da área de energia, comunicou a saída do cargo ao ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, por e-mail. “Ele (ministro) ligou para mim agora à noite pedindo para confirmar, e eu confirmei (a saída)”, disse ele.

O ex-coordenador está em Glasgow como representante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), e disse que não foi seu objetivo criar um “fato político-partidário” com o pedido de demissão do cargo. “Não houve nenhum episódio pontual que me tenha feito tomar essa decisão, e nem foi nada premeditado, mas eu achei que, pelo bem do País, foi melhor eu sair”, disse.

Lucon conta que a participação brasileira em Glasgow se dá em dois estandes diferentes: um com representantes do governo e outro com a sociedade civil e alguns governadores de Estados. Os dois grupos pouco se conversam.

“Havia uma interlocução aquém do que se espera para uma instituição – o FBMC – que busca criar um diálogo entre governo e sociedade (…). Chegou um momento em que parte da sociedade também não buscou mais o governo”, disse Lucon.

“Então nós temos essa divisão física aqui dentro da COP, ela ficou muito evidente. Isso é tudo menos um fórum. O que eu deveria fazer? Ficar no estande A ou no estande B? A minha ideia não era essa, era juntar todo mundo. Mas eu não consegui juntar todo mundo. Então, eu não tenho mais o que fazer (no Fórum)”, disse.

Lucon não quis comentar a atuação do governo brasileiro na COP-26. Brasília apresentou uma proposta de revisão da meta climática que não amplia o corte de emissões de gases do efeito estufa em relação ao compromisso anterior, assumido no Acordo de Paris. Como representante do IPCC, o pesquisador não pode emitir opinião sobre a atuação de um determinado governo na conferência.

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