Ex-chefe do Centro de Inteligência da PM admite à comissão de inquérito erro da corporação no dia da tentativa de golpe de Estado por parte de bolsonaristas. “Não tem como dizer que não houve falha da PM”
Eis que membro do alto escalão da corporação admitiu que a PMDF (Polícia Militar do Distrito Federal) falhou no 8 de janeiro, dia em que a República sofreu tentativa de golpe de Estado.
Chefe do Centro de Inteligência da PMDF na data, o coronel Reginaldo de Souza Leitão foi claro: “Não teve como dizer que não houve falha da Polícia Militar”.
Leitão prestou depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Atos Antidemocráticos, da CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal), na manhã desta quinta-feira (16).
Ele foi um dos poucos militares da PMDF que, em oitiva na Casa, admitiu que houve erro da corporação. Até então, a estratégia vinha sendo admitir falhas no dia 8 de janeiro, mas jogando a responsabilidade para outros órgãos.
A Secretaria de Segurança Pública do DF, a quem a PM era subordinada, era dirigida na época por Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro. Na véspera do dia 8, Torres evadiu-se para aos EUA, onde Bolsonaro se encontrava, e deixou o setor sem plano de contenção diante dos golpistas.
‘HOUVE FALHA NOSSA’
“Não teve como dizer que não houve falha da Polícia Militar, porque houve. Nós vimos o rompimento das barreiras [de contenção de manifestantes]. […] Houve falha nossa que tem que ser estudada, caberá aos próximos gestores identificar o que aconteceu para que isso não se repita”, enfatizou.
Leitão ainda mostrou fragilidades da inteligência da corporação, como o uso de grupos de “zap” para repasse de informações sensíveis.
“Sobre o dia 12 [de dezembro de 2022] e o dia 8 [de janeiro de 2023], foi utilizada a inteligência corrente. E a inteligência corrente, infelizmente, a gente utiliza WhatsApp. Isso já foi tratado em outras sessões. Não deveria ser WhatsApp, deveria ter uma rede segura de informação, mas é fato, a gente utiliza o WhatsApp”, relatou aos deputados distritais.
DEPOIMENTO ADIADO
O coronel iria depor na CPI em 26 de outubro, mas apresentou atestado válido entre 6 e 30 de outubro. A oitiva desta quinta-feira foi a última dos trabalhos de investigação da Câmara Legislativa.
No depoimento, o coronel fez longo discurso antes das perguntas dos distritais. Hoje lotado na Divisão de Infraestrutura da Polícia Militar, ele defendeu a atuação da Inteligência da PMDF contra atos antidemocráticos, mas comentou sobre limitações do setor.
“Para ter infiltrado [no quartel-general], ele tem que estar protegido por uma ação judicial. A PM não tem essa competência. A gente tinha policiais da inteligência nas áreas próximas, em volta, ao redor, e, eventualmente, a gente fazia aproximações nas áreas. Eu não tinha agente do CI [Centro de Inteligência] infiltrado no acampamento.”
GOLPISTAS ESTAVAM ARMADOS
Leitão também disse que os golpistas estavam armados no 8 de janeiro, com uso de arma de choque, e pontuou a periculosidade dos estilingues com bolas de gude.
O coronel ainda ressaltou que a PM não tem competência para realizar trabalho de investigação. “A investigação é ação das polícias judiciárias. Às vezes se entende que, por ser da área de ‘Inteligência’, se sabe tudo. E não é assim”, declarou à CPI.
Sobre a tese de “apagão na Inteligência”, ele foi enfático: “Esse apagão não houve”. O coronel citou que o principal grupo de WhatsApp com informações sobre o dia 8 de janeiro tinha mais de mil mensagens, sendo que cerca de 800 eram do Centro de Inteligência.
O coronel da PM foi a última pessoa a ser ouvida pelo colegiado.
O relatório da CPI da Câmara Legislativa, que vai ser elaborado pelo deputado distrital Hermeto (MDB), que está em fase de conclusão e vai ser apresentado e votado dia 29 de novembro.
M. V.