Um dia depois da saída de Regina Duarte, o ator Mário Frias divulgou vídeo em suas redes sociais afirmando que existe “possibilidade real” de ele assumir a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro.
Frias atualmente trabalha como apresentador do “A melhor Viagem”, um programa juvenil na RedeTV!. Ele negou que já tenha assumido a secretaria, mas celebrou “a oportunidade” que teve de passar dois dias junto de Bolsonaro.
“Estão divulgando notas na imprensa, dizendo que eu já assumi a secretaria, isso não é verdade. O que aconteceu é que tive a oportunidade de passar os últimos dois dias com o presidente Bolsonaro, o que já me enche de orgulho e esperança”, disse em vídeo divulgado aos seus seguidores no Instagram.
A maior parte do público vai se lembrar de sua época de protagonista na novela juvenil “Malhação”, no fim dos anos 1990, na TV Globo. Sua estréia na TV foi em 1996, no seriado “Caça-talentos”, estrelado por Angélica. Ele também trabalhou em outras novelas da Globo. Em “Senhora do Destino”, interpretou um dos seus personagens de maior destaque, o deputado corrupto Thomas Jefferson.
O ator acumulou passagens pelas novelas da TV Record, além de apresentações no SBT.
Em seu perfil no Instagram o ator nunca escondeu sua admiração pelo presidente. No dia 20 de abril, ele postou uma entrevista de Bolsonaro na porta do Palácio do Planalto com o seguinte texto: “Não existe esta palhaçada de intervenção!!! #Foramaia somos uma democracia consolidada… O maior presidente da história”.
“Fritada”, Regina foi indicada para cargo inexistente
Ao anunciar a demissão da Regina Duarte do comando da Secretaria Especial de Cultura, Jair Bolsonaro negou que estaria “fritando” a atriz de seu governo. No entanto, o cargo prometido para que a ex-atriz global saísse de cena, a direção da Cinemateca Brasileia, sequer existe.
Desde 2018, a Cinemateca Brasileira, que é responsável pela preservação e difusão do nosso patrimônio audiovisual, é administrada por uma Organização Social (OS) a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) que é uma entidade privada.
O contrato, vigente até 2021, transferiu para a Acerp a gestão integral dos núcleos de Preservação, Documentação e Pesquisa, Difusão, Administração e Tecnologia da Informação da Cinemateca.
O único cargo existente que poderia ser ocupado pela atriz é o de superintendente da Cinemateca, hoje ocupado por Roberto Barbeiro, indicado pelo Partido Republicanos, ligado ao bispo Edir Macedo, da Igreja Universal.
Caso Regina vá para a Cinemateca não encontrará nenhum “presente” prometido por Bolsonaro. Desde o início do governo, a Cinemateca, assim como os demais equipamentos culturais, foi alvo da perseguição bolsonarista. No ano passado, a previsão era de entrada de R$ 13 milhões, mas só R$ 7 milhões foram transferidos até dezembro.
SOCORRO
Cineastas e familiares de artistas brasileiros demonstraram ao longo do dia preocupação com as ações que ex-secretária pode tomar no comando da instituição, dedicada, enfim, à história do Brasil.
Em carta divulgada na sexta-feira, 15 de maio, final de semana, profissionais ligados à história da instituição denunciam a grave falta de recursos e de políticas públicas para o setor da memória cinematográfica.
Entre os signatários do documento, estão a escritora Lygia Fagundes Telles e Ismail Xavier, ambos ex-presidentes do Conselho da Cinemateca, Carlos Augusto Calil, ex-diretor da instituição, o cineasta Ugo Giorgetti, o diretor de fotografia Lauro Escorel, também cineasta, a professora da USP, Esther Hamburger, e os ex-conselheiros Dora Mourão e Eduardo Morettin.
“Cinemateca Brasileira pede socorro
A Cinemateca Brasileira, maior arquivo de filmes do país, cuja trajetória é reconhecida internacionalmente, enfrenta uma situação limite. Em meados de maio não recebeu ainda nenhuma parcela do orçamento anual, cujo montante é da ordem de R$ 12 milhões.
Após sofrer uma intervenção do Ministério da Cultura em 2013, que destituiu sua diretoria e retirou-lhe a autonomia operacional, vem enfrentando um processo contínuo de enfraquecimento institucional que culmina na atual ameaça de total paralisia.
A Cinemateca tem sob sua guarda o maior acervo audiovisual da América do Sul, cuja preservação demanda cuidados permanentes de técnicos especializados e manutenção de estritos parâmetros de conservação em baixa temperatura e umidade relativa.
Estão sob sua custódia coleções públicas e privadas que constituem a memória audiovisual do país. Além do seu intrínseco valor cultural, as obras dos produtores nacionais agregam valor econômico; são fonte de renda industrial que mantém a dinâmica do setor. A ameaça que paira sobre a Cinemateca não é a destruição de valores apenas simbólicos, mas igualmente tangíveis.
O contrato do Governo Federal com a Organização Social que a administra – Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (ACERP) – foi encerrado por iniciativa do MEC. A atual Secretaria Especial da Cultura, responsável pela Cinemateca, tem seus vínculos administrativos divididos entre os ministérios da Cidadania e do Turismo.
Essa situação esquizofrênica dificulta a atuação do governo com a urgência necessária para impedir a falência da Cinemateca, enquanto a administração pública se dedica a desenhar uma solução de longo prazo. Se o orçamento da Cinemateca não for imediatamente repassado a ACERP, assegurando a manutenção do quadro mínimo de contratados e as condições físicas de conservação, não haverá necessidade de uma perspectiva de fôlego, pois já teremos alcançado a solução final.
O descaso da Secretaria do Audiovisual do extinto Ministério da Cultura para com a Cinemateca acarretou o incêndio de fevereiro de 2016 – o quarto sofrido pela instituição em sua história – em que se perderam definitivamente mil rolos de filmes antigos, fato que na ocasião foi relegado pelas autoridades, que não tomaram nenhuma providência de reparação ou de prevenção de novos acidentes.
Em fevereiro deste ano, as instalações da Cinemateca na Vila Leopoldina (São Paulo), que abrigavam parte do acervo, foram atingidas por uma enchente. Novamente a Secretaria do Audiovisual se absteve de suas responsabilidades, não esclareceu eventuais perdas, nem adotou medidas para proteger as coleções em perigo.Se a indiferença com o futuro do patrimônio audiovisual brasileiro persistir, as consequências serão ainda mais graves. Sem os cuidados dos técnicos e as condições de conservação todo o acervo se deteriorará de modo irreversível.”