O grupo promete se organizar para atuar no sentido de resolver problemas concretos no combate à pandemia, como garantia de insumos básicos aos hospitais. Vão cobrar, também, do governo que apresente cronograma real de vacinação da população
O grupo, por enquanto, é composto por 16 deputados de várias correntes políticas e ideológicas, que anunciaram, nesta quarta-feira (24), a criação do grupo suprapartidário de resistência ao presidente Jair Bolsonaro.
Os parlamentares variam do PCdoB ao PSL. A lista de nomes conta com Rodrigo Maia (DEM-RJ), Tabata Amaral (PDT-SP), Paulinho da Força (Solidariedade- SP), José Guimarães (PT-CE) e Marcelo Freixo (PSol-RJ). O grupo promete atuar para “conter” Bolsonaro e exigir que o governo garanta insumos básicos aos hospitais e apresente cronograma real de vacinação para o País.
O grupo anunciou-se em grande estilo e repercussão. Em artigo publicado no jornal O Globo, desta quarta-feira, com o título “Asfixia”, os deputados criticam o “método” Bolsonaro de agir.
“Por mais que muitos achem que Bolsonaro é um bufão e que suas correções são apenas palavras ao vento, seu péssimo exemplo influencia muita gente. Conter esse desastre é nossa missão dentro do Parlamento. Este grupo nasce para combater a política de castas e restabelecer uma ordem legal e democrática no país”, escreveram.
Segundo os deputados, os quase 300 mil mortos por Covid-19 no Brasil, em meio ao descaso do governo, tornam irrelevantes as diferenças entre esquerda, centro e direita.
A impressão que se tem é que o invulgar e catastrófico número de brasileiros mortos — mais de 300 mil óbitos —, até o momento pela Covid-19, começa a romper a apatia que, em grande medida, ainda é a tônica do desenrolar dos acontecimentos sob a pandemia.
Eis a íntegra do artigo:
“ASFIXIA
O bolsonarismo asfixia o Brasil. Tenta nos sufocar com sua agenda negacionista e atitudes inconsequentes. Tudo o que estamos vivendo hoje já era uma crônica de muitas mortes anunciadas. Se você ainda tem alguma dúvida, recomendo o documentário Timeline Covid-19 Brasil, disponível no YouTube, para lembrar o que vivemos no ano passado. Está lá, para todos verem.
Nós, autores do artigo, fomos informadas do método bolsonarista de “gestão”, um “método” baseado no quanto pior, melhor. O resultado está estampado nos números da pandemia. Se alguém ainda quer bancar a Poliana e acreditar que o bolsonarismo vai se enquadrar na racionalidade, vai cair do cavalo de novo. A conversa não é mais sobre o futuro, é sobre a dor de agora. Aqueles que tapam o sol com a peneira e fingem não entender o que acontece ao nosso redor carregarão a culpa da tragédia que se instalou no país.
Se, por um lado, o bolsonarismo trouxe até aqui, ele também provocou a mexida de placas tectônicas da política que estava adormecidas. Centro, direita ou esquerda já não fazem mais nenhum sentido quando temos 300 mil mortos, crise de desabastecimento, índice de desemprego, 14% de desempregados, milhões de alunos fora da escola, um plano de imunização fantasma, interferências nas estatais, suficientes constantes à ciência, às instituições, aos direitos humanos, uma polícia política do governo perseguindo adversários e tantas outras aberrações.
O bolsonarismo não entende a política como meio de resolução de conflitos. As palavras consenso e adversário não existem no dicionário da seita. A política é só um meio de aniquilar seus inimigos. Eles inauguraram uma outra corrente de “pensamento” que está fora de qualquer eixo ideológico e que não cabe dentro de um estado democrático. E é por essa razão que esquerda, o centro e a direita agora uma oportunidade única de se sentar à mesa e pensar o país, construir um projeto de Brasil e uma religião unida contra este método perverso de se fazer política.
Dentro deste contexto de desilusão e falta de perspectiva nasce um grupo de parlamentares independentes, de partidos diferentes, ideologias e pensamentos para somar contra a tragédia que estamos vivendo. Não é sobre o que virá, é sobre o que está ocorrendo agora. Nós, que assinamos esta carta, e vários deputados e deputadas que a representam, temos diferenças públicas sobre a gestão pública, mas para se falar de gestão é preciso garantir que a democracia seja viva e que as instituições funcionem livremente.
Nosso objetivo é fortalecer essa corrente onde todos os parlamentares que querem discutir o Brasil a fundo, sem distinção de credo, religião ou ideologia, se sentar à mesma mesa. O brasileiro que depende do auxílio emergencial, e que está sem capacidade de planejar seu futuro, não está nem aí se o auxílio é à direita ou à esquerda. O brasileiro que perdeu um familiar para um Covid não tem tempo para teorias da conspiração. Quando a miséria e a falta de perspectiva dominam, esqueçam o debate ideológico do Twitter.
A seita que nos governa adotou a lógica de casta para exercer o poder. Só serão servidos aqueles que compartilharem da sua visão de mundo. O restante, ou se converte ou ‘que se dane’, como diria o presidente. Por mais que muitos achem que Bolsonaro é um bufão e que suas correções são apenas palavras ao vento, seu péssimo exemplo influencia muita gente. Conter esse desastre é nossa missão dentro do Parlamento.
Este grupo nasce para combater a política de castas e restabelecer uma ordem legal e democrática no país, começando por: 1) exigir que o governo garanta os insumos básicos para o funcionamento dos hospitais, como respiradores e anestésicos e 2) e apresente um cronograma real de vacinação do país.
Hoje, quando publicamos esta carta, mais de 300 mil brasileiros perdem a vida e os famosos estão intubados tentando respirar. Bolsonaro e seu séquito vão seguir asfixiando o país com o método que lhes é peculiar. Cabe a nós, do centro, da esquerda e da direita civilizada, agir para evitar que o país perca ou por completo.
Tabata Amaral (PDT-SP)
Orlando Silva (PCdoB-SP)
Fabio Trad (PSD-MS)
Prof. Israel Batista (PV-DF)
Mario Heringer (PDT-MG)
Paulinho da Força (Solidariedade-SP)
Raul Henry (MDB-PE)
Kim Kataguiri (DEM-SP)
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Júnior Bozzella (PSL-SP)
Tadeu Alencar (PSB-PE)
José Guimarães (PT-CE)
Joenia Wapichana (Rede-RR)
Marcelo Freixo (PSol-RJ)
Wolney Queiroz (PDT-PE)
Gastão Vieira (Pros-MA)