Eduardo Costa, da Fiocruz, diz que a eficácia contra os quadros moderados e graves é muito boa e que a vacina do Butantan é a que tem maior segurança. Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância do Ministério, aponta a necessidade de iniciar o mais rapidamente a vacinação
O médico epidemiologista Eduardo Costa, professor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ouvido pelo HP, avaliou que a CoronaVac “continua sendo a melhor vacina contra a Covid-19, mesmo com os resultados de eficácia mais baixos, divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Butantan”. Além dele, Wanderson de Oliveira, ex-secretário do Ministério da Saúde, também avaliou a eficácia da CoronaVac e a apontou como uma boa solução.
“Num primeiro momento a sensação, vendo o número geral, foi de decepção, pelo contraste com o número que nós tínhamos antes, de 78%. Achávamos que era o índice geral de eficácia. Não era. Eles tinham definição de casos diferentes, há diferenças de estudo para estudo e eu percebi então que eles não incluíram naquele momento os casos monossintomáticos, os casos levíssimos, digamos assim”, afirmou Eduardo Costa.
“Mas ela demostra, na verdade, uma proteção boa exatamente nos casos que são chamados de médios para cima, o que pode render muito na perspectiva de que isso vai se repetir na população, uma proteção bastante grande e importante nos serviços de saúde”, acrescentou Eduardo.
“De outro lado”, prosseguiu o professor da Fiocruz, “ela continua sendo a que tem menos reatogenicidade, portanto a mais segura para poder ser aplicada. Na verdade ela pode ser um instrumento com impacto muito grande nos serviços de saúde”. “E os comentários gerais havidos na apresentação pública foram muito bons. E nós devemos continuar na perspectiva de que, ainda assim, essa é a vacina que tem possibilidades de até avançar”, apontou o especialista.
“Já as outras vacinas, mesmo que se use, e dando uma eficácia um pouco maior, elas podem ter restrições em função de impossibilidade de uso de uma segunda dose, ou por uma reação maior, como eventualmente pode acontecer com a vacina de Oxford, ou mesmo ter muitas reações, como pode acontecer com a vacina da Pfizer”, avaliou Costa. “Estamos no bom caminho. Acho que é a melhor vacina ainda que nós temos em mão”, arrematou o epidemiologista da Fiocriz.
O ex-secretário nacional de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, demitido por Bolsonaro, também opinou sobre a CoronaVac e apresentou uma interpretação dos números, após a divulgação dos resultados pelo Instituto Butantan, nesta terça-feira (12), em São Paulo.
Foi utilizado densidade de incidência, pois a exposição variou no tempo. Por esse motivo, os dados que foram falados na coletiva dão o valor correto:
Eventos: 85
Incidência (casos/pessoas): 0,018267784
Densidade de Incidência (casos/pessoas-ano): 11,74
Dados dos vacinados com o Placebo:
Vacinados com Placebo: 4.599
Pessoas-ano (100): 7,0642978
Eventos: 167
Incidência (casos/pessoas): 0,036312242
Densidade de Incidência (casos/pessoas-ano): 23,64
Razão de incidência:
11,74 / 23,64 = 0,4966
Eficácia global da vacina coronavac:
1 – 0,4966 = 0,5034
= 0,3%
No entanto, se você não compreende todos esses números, vou traduzir:
SITUAÇÃO 1: Imagine que você tenha um parente ou amigo que corre o risco de ficar doente e com isso, vai ficar em casa sem poder trabalhar ou estudar e deverá se isolar por 14 dias.
Resposta: Saiba que para essa situação a vacina do Butantan apresenta 50,4% de eficácia. Ou seja, praticamente metade das pessoas não ficarão doentes. Isso é incrível, mas compreendo se você não estiver convencido. Você quer mais, então bora lá!
SITUAÇÃO 2: Imagine que você tenha um parente ou amigo que corre o risco de apresentar quadro leve e precisará procurar assistência médica e pode ser que tenha que tomar remédios etc.
Resposta: Saiba que para essa situação a vacina do Butantan apresenta 77,9% de eficácia. Incrível, não?! Isso só foi possível, pela experiência acumulada desde a pandemia de 2003 com outro coronavírus, o SARS-CoV1. Isso deu mais possibilidades para avançar nas pesquisas e resultar nesse resultado maravilhoso que vimos na semana passada e hoje foi detalhado. Mas ainda assim, você não está convencido? Então vamos para a terceira situação.
SITUAÇÃO 3: Imagine que você tenha um parente ou amigo que corre o risco de apresentar quadro moderado da doença e necessite de ser internado. Ao ser internado, ele corre o risco de ficar grave e até morrer. Pois então…
Resposta: Saiba que para essa situação a vacina do Butantan apresenta 100% de eficácia. Nenhum dos voluntários do estudo apresentou quadro moderado, grave ou evoluiu para óbito. Isso é uma vitória incrível. Só isso, já deveria ser motivo suficiente para querer tomar logo. Mas vamos lá, pode ser que você não esteja convencido.
São 6 milhões de doses já em solo brasileiro e outros 4 milhões em produção. Junto com as vacinas da Fiocruz, o Coronavírus não será páreo. Por isso, na hora “H” do dia “D” será iniciada a batalha. Só resta saber que dia. Não é mesmo?!
S.C.