Afirmação foi feita no “Ato em homenagem ao dia da Ciência e do Pesquisador”, onde Lula elogiou os investimentos anunciados pela ministra Luciana Santos de R$ 41 bilhões em Ciência em Tecnologia este ano. Cientistas perseguidos e discriminados pelo fascismo foram homenageados no ato
O presidente Lula discursou nesta quarta-feira (12) no Palácio do Planalto no “Ato em homenagem ao Dia da Ciência e do Pesquisador”, transcorrido na semana passada. Ele fez uma homenagem a todos os pesquisadores que foram perseguidos no país e destacou a indicação da ministra Luciana Santos e do ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende Machado, como um dos coordenadores da solenidade.
Lula fez duras críticas ao uso de recursos de vários fundos específicos existentes no país, inclusive o da Ciência e Tecnologia, para se fazer superávit primário, ou seja, para pagamento de juros da dívida aos bancos.
“Vou aproveitar aqui de público para pedir à Simone Tebet para fazermos um levantamento dos fundos que existem neste país. Existem muitos fundos e, desde o tempo em que eu fui eleito presidente em 2003, toda hora que a gente falava em utilizar um fundo, qualquer que fosse o fundo, ele estava guardado para fazer superávit primário”, denunciou.
O presidente chamou a atenção do fato de que “os fundos que foram criados pelo Congresso Nacional, não foram criados para fazer superávit primário”. “Eles foram criados para investir em áreas específicas, determinadas pelo Congresso Nacional. E essa é uma coisa que nós vamos precisar rever porque senão, o Congresso Nacional não precisa mais criar fundos. Porque era melhor criar logo o superávit primário do que ficar criando um fundo para investimento que nunca acontece”, acrescentou Lula.
Ele lembrou ainda que em 2010, numa conferência do governo com cientistas, a comemoração era pelo “cumprimento de um PAC que nós aprovamos em 2007 de investimentos de 41 bilhões de reais na Ciência e Tecnologia”. ‘E esse PAC”, prosseguiu Lula, “foi cumprido cada centavo, porque nós colocamos para administrar os recursos uma equipe de cientistas escolhida pelos cientistas”.
“E, pela primeira vez, a gente gastou cada centavo daquilo que foi definido, e o gasto sempre foi feito por conta das decisões desse grupo de cientistas que coordenou os gastos”, destacou o presidente e, dirigindo-se à ministra Luciana Santos, disse, “Luciana, isso pode servir de modelo para que gente possa fazer com que o dinheiro aconteça, para que o dinheiro possa ir para as mãos daquelas pessoas que vão utilizá-lo em benefício da coletividade”.
Assista ao “Ato em homenagem ao dia da Ciência e do Pesquisador”
Presidente Lula participa do Ato em homenagem ao dia da Ciência e do Pesquisador https://t.co/ya1BgEU87o
— Lula (@LulaOficial) July 12, 2023
Lula agradeceu à ministra da Ciência e Tecnologia a lembrança do ex-ministro Sérgio Rezende. “Sérgio Rezende foi o melhor ministro da Ciência e Tecnologia que este país já teve. Fico feliz da nossa ministra tê-lo escolhido para coordenador. Naquela época, em que ele foi ministro, passamos países desenvolvidos em publicação de artigos em revistas especializadas, mostrando que um país será do tamanho que a sua sociedade quiser que ele seja”, disse Lula.
“Uma sociedade tem que pensar grande, tem que sonhar grande e ela tem que buscar as coisas, porque se ela não buscar, as coisas não acontecem”, prosseguiu o presidente. “Eu sou uma pessoa que nunca aceito um não antes e tentar um sim. Temos que fazer um esforço porque não temos limite para fazer as coisas acontecerem. Esse país pode ser muito maior do que ele é. Esse país pode crescer muito mais do que ele cresce. Esse país pode distribuir riqueza muito mais do que ele distribui hoje. É só a gente querer”, destacou Lula.
“Eu digo sempre, o dinheiro de uma nação tem que circular na mão de todos. Dinheiro não pode ficar sentado num banco ou na mão de meia dúzia. Quanto mais o dinheiro circular, mas a economia vai crescer, mais emprego vai gerar, mais consumo vai ter. Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza e miséria espalhada na rua, é desemprego, é prostituição, é desnutrição, é mortalidade infantil”, denunciou o presidente da República.
“Agora”, prosseguiu Lula, “dinheiro na mão de muitos, é o inverso, significa progresso, significa distribuição de riqueza, significa consumo, significa geração de emprego, significa melhorar a vida de todo mundo. Não adianta o PIB crescer se não é distribuído para a totalidade da população. Esse país pode ser melhor”.
Ele lembrou que 72% da população está endividada e cobrou da ministra do Planejamento o lançamento do Programa Desenrola. “O desenrola tem que sair logo, e tem que dar certo, porque, se não der certo, quem estará enrolado somos nós, Simone”, brincou o presidente. “Temos que fazer isso para tentar ajudar os 72% da população que estão endividados. Pessoas que têm dívida até 5 mil reais, pessoas que têm dívidas de mil, de cem reais e que estão penduradas no Serasa”, observou.
“Nós temos a obrigação de estendermos a mão para essa gente e trazer essa gente outra vez para a atividade econômica brasileira. Para que as pessoas possam consumir o que têm vontade. Até falei pro Alckmin, que tal a gente fazer uma abertura para a linha branca outra vez? As pessoas precisam de vez em quando trocar os seus utensílios domésticos. Se está caro, vamos baratear, vamos encontrar um jeito. Simone, você tem que abrir a mão um pouquinho, para facilitar a vida dessas pessoas”, afirmou Lula , antes de ler o seu discurso no ato.
Discurso do presidente Lula durante entrega da Ordem do Mérito Científico e retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, realizado no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 12 de julho de 2023
Nesta solenidade, retomamos as reuniões do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Convocamos a próxima Conferência Nacional, que deve ter sua etapa final daqui a um ano. Celebramos o Dia do Cientista e do Pesquisador, transcorrido na semana passada. E condecoramos, com a Medalha do Mérito Científico, algumas das mentes mais brilhantes de nosso país.
O real significado desse evento, contudo, vai muito além de atos formais. Estamos reunidos aqui hoje para dizermos, em alto e bom som: chega de obscurantismo. Basta de negacionismo.
Chega de jogar cientistas às fogueiras – não mais aquelas da Idade Média, mas as que a mentira e o discurso de ódio acenderam na Internet e em grupos radicais de nossa sociedade.
“Chega de jogar cientistas às fogueiras – não mais aquelas da Idade Média, mas as que a mentira e o discurso de ódio acenderam na Internet e em grupos radicais de nossa sociedade”
Chega de aceitar que cientistas como Adele Benzaken ou Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda terem suas condecorações revogadas. Ela porque se preocupou com a saúde dos homens trans. Ele, porque ousou publicar a verdade: a de a cloroquina não combatia a Covid.
Basta de testemunhar pesquisadores como Ricardo Galvão perdendo seu cargo porque mostrava aquilo que os satélites registravam – e que todos com a mínima honestidade intelectual podiam ver: nos últimos anos, a Amazônia estava sendo degradada a um ritmo cada vez maior.
O Brasil não merece mais ter suas instituições aviltadas a ponto de tanta gente séria da ciência devolver a Ordem do Mérito Científico. Gente que, felizmente, aceitou receber a condecoração de novo hoje. E aceitou porque sabe que a ciência voltou.
“O Brasil não merece mais ter suas instituições aviltadas a ponto de tanta gente séria da ciência devolver a Ordem do Mérito Científico. Gente que, felizmente, aceitou receber a condecoração de novo hoje. E aceitou porque sabe que a ciência voltou”
Voltou porque temos pesquisadores e pesquisadoras brilhantes e combativos que, apesar das perseguições nos últimos anos, não se deixaram abater. Porque temos organizações da sociedade civil que sabem como e quando lutar.
Voltou porque nossas instituições de pesquisa, apesar de todo o desmonte, de toda a falta de verbas, têm décadas de experiência, credibilidade e excelência. E conseguiram resistir.
Mas não basta a ciência voltar. Precisamos ser incansáveis para que ela siga sempre conosco.
E para que ninguém – nem mesmo quem ainda têm a cabeça na idade das trevas – tente mais uma vez fazer o relógio da história andar para trás.
Minhas amigas e meus amigos,
Somos uma nação muito grande. Temos desafios demais. E não podemos, nunca, acreditar que teremos alguma chance de futuro sem a ciência e os cientistas.
“Somos uma nação muito grande. Temos desafios demais. E não podemos, nunca, acreditar que teremos alguma chance de futuro sem a ciência e os cientistas”
Foi por meio da ciência que conseguimos nossos maiores feitos. Feitos que transcendem a academia e os laboratórios e se fazem presentes na saúde, na indústria, no campo e no dia-a-dia de cada pessoa desse país.
Se temos uma grande produtividade agrícola, isso se deve a décadas de pesquisa nas universidades e na Embrapa.
Se temos tanta energia renovável e biocombustíveis, também precisamos agradecer a quem, por tanto tempo, apostou e desenvolveu esse tipo de tecnologia.
Do mesmo modo, se não fossem nossos institutos de pesquisa, se não tivéssemos uma Fiocruz ou um Butantã, a pandemia da Covid-19 teria sido ainda mais severa com as vidas de nossa população.
A verdade é que a ciência é aliada da vida e do desenvolvimento. E é nesse momento histórico que ele se faz mais necessária para o futuro do Brasil.
O mundo todo vive uma encruzilhada histórica. Ao mesmo tempo em que precisamos combater a fome e a desigualdade, precisamos repensar totalmente as formas de produção que o mundo vem adotando desde os tempos da revolução industrial.
O planeta não aguenta mais a pressão ambiental, o desmatamento e a emissão desenfreada de carbono. E o futuro da humanidade só será garantido a partir de novas ideias, de novas tecnologias, de muito mais ciência.
O Brasil, nesse aspecto, ocupa uma posição privilegiada. Nenhum país do nosso porte conta com uma matriz energética tão limpa e renovável como a nossa.
“O Brasil, nesse aspecto, ocupa uma posição privilegiada. Nenhum país do nosso porte conta com uma matriz energética tão limpa e renovável como a nossa”
Ainda estamos longe, muito longe, de aproveitarmos todo o nosso potencial eólico e solar. E, quando pudermos fazer isso, poderemos gerar ainda mais energia limpa – energia que poderá nos tornar, em um horizonte não muito distante, em uma potência mundial do hidrogênio verde.
Para isso, contudo, precisamos de mais pesquisa. De mais tecnologia.
De desenvolvimento de processos e produtos que possam ser feitos em nosso país, gerando empregos e distribuindo riquezas entre nós. Precisamos, enfim, de mais ciência e mais pesquisa.
Temos uma gigantesca biodiversidade. Fomos presenteados pela natureza com tesouros como a Amazônia. E não podemos mais seguir destruindo esses biomas, arrancando suas árvores e prejudicando seus povos em uma sanha predatória.
Precisamos, isto sim, desenvolver meios para aproveitar o seu enorme potencial genético sem causar destruição. Temos que apostar em produtos da sociobiodiversidade. E, novamente, é a ciência e a tecnologia quem nos ajudará a fazer isso.
Precisamos, enfim, voltar a crescer. A gerar empregos em massa e distribuir riqueza entre a população.
E isso passa, sem dúvida alguma, por uma retomada de nossa indústria, mas em novas bases: uma indústria mais limpa, mais intensiva em tecnologia e com baixa emissão de carbono.
“Precisamos, enfim, voltar a crescer. A gerar empregos em massa e distribuir riqueza entre a população. E isso passa, sem dúvida alguma, por uma retomada de nossa indústria, mas em novas bases: uma indústria mais limpa, mais intensiva em tecnologia e com baixa emissão de carbono”
É esse o caminho que precisaremos tomar. O caminho da ciência, da pesquisa e da tecnologia. E é ele que tomaremos.
Foi por acreditar nesse caminho que, ainda em fevereiro, reajustamos as bolsas da Capes e do CNPq, que estavam congeladas desde 2013 e irão beneficiar 258 mil estudantes e pesquisadores da graduação.
Por isso também, encaminhamos ao Congresso Nacional em março o Projeto de Lei que recompõe o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. O projeto foi aprovado, e o fundo passou a contar com perto de R$ 10 bilhões de reais.
“Por isso também, encaminhamos ao Congresso Nacional em março o Projeto de Lei que recompõe o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. O projeto foi aprovado, e o fundo passou a contar com perto de R$ 10 bilhões de reais”
Por isso também, anunciamos em abril a imediata recomposição dos orçamentos das universidades e dos institutos federais, aportando recursos de 2 bilhões e 440 milhões de reais para o fortalecimento do ensino superior e profissional e tecnológico.
Para além destas e de outras ações, contudo, o que mais importa é que a ciência e a tecnologia voltaram, de fato, a fazer parte da espinha dorsal do estado.
A ministra Luciana Santos e a equipe do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estão fazendo aquilo que a pasta nunca deveria ter deixado de fazer: dialogando com todas as áreas do governo. Traçando estratégias conjuntas com meio ambiente, agricultura, educação, saúde, indústria e comércio e muitas outras.
Não há como pensarmos em crescer, em retomar a indústria, em produzir mais no campo, se não pensarmos em ciência. Não há como pensar em reduzir as desigualdades sem pensarmos em ciência.
A verdade é que desenvolvimento sustentável e desenvolvimento científico andam de mãos dadas. E, junto com os dois, sempre estarão aqueles que merecem as nossas palmas: vocês, pessoas extraordinárias que fazem ciência e pesquisa em nosso país.
Muito obrigado