O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), coordenador da área de vacinas do Fórum Nacional de Governadores, reagiu indignado ao ofício da subprocuradora-geral da República, Lindora Araújo, questionando os Estados sobre o fechamento de hospitais de campanha criados para atender aos doentes de Covid-19.
“A grande pergunta é porque fechamos hospitais de campanha, estados e municípios. Porque não tinham pacientes. Graças a Deus, ali num dado momento, fizemos dois movimentos em meio a uma pandemia: dobrar ou triplicar a rede permanente pública de hospitais, ou em parcerias com o setor privado, e já não precisavam mais hospitais provisórios, como eram hospitais de campanha. Se não tinha pacientes, qual era o sentido de ficar três, quatro, cinco, seis meses pagando por cada leito de hospital de campanha se já não tinha necessidade?”, disse o governador do Piauí.
Enviado na última sexta-feira (16), o documento coloca um prazo de cinco dias para que sejam prestados esclarecimentos sobre quatro questões e exige que os governadores assinem pessoalmente a resposta.
A subprocuradora é braço direito do procurador-geral Augusto Aras, que por sua vez foi escolhido para cargo por Bolsonaro por fora da lista tríplice organizada pelos procuradores.
A iniciativa da PGR foi interpretada como uma tentativa de intimidação e mais um flanco de ataque aos governadores, no momento da instalação da CPI da Pandemia no Senado. Para os governadores, jogar questionamentos sobre a atuação dos executivos Estaduais na pandemia é para tirar o foco da catástrofe no combate à Covid-19 provocada pela péssima ação de Bolsonaro.
Wellington Dias observou que o colapso do sistema hospitalar ocorreu em decorrência da velocidade da transmissão da doença, a escassez de profissionais de saúde e a falta de coordenação nacional pelo governo federal no combate à pandemia.
Em nota, o governador afirmou que boa parte do dinheiro aplicado nos hospitais de campanha veio dos cofres estaduais e que foram prestadas contas com toda a transparência aos órgãos de controle. Wellington Dias também apontou a responsabilidade do governo federal.
“O colapso se deu pela falta de profissionais em praticamente todos os Estados brasileiros, levado pela velocidade de transmissibilidade das novas variantes e pela ausência da coordenação central, do governo federal, que foi avisado e não ajudou na contenção”, diz trecho da nota.
O ofício exige que sejam informados, detalhadamente, quais valores foram repassados pelo governo federal e como foram distribuídos aos municípios. A subprocuradora cobra ainda explicações sobre gastos com insumos e equipamentos de hospitais de campanha que foram desativados.
“Infelizmente lá na frente, mesmo com essa rede ampliada que fizemos, com a suspensão de cirurgias eletivas, tivemos uma situação em que de novo colapsou a rede em todo o Brasil. Por quê? Por falta de cama? Por falta de equipamentos? Não, por falta de profissionais. É esse o problema ainda hoje”, acrescentou Dias.
Um dos pontos do ofício que mais desagradaram governadores é o que questiona o entendimento dos representantes estaduais de que a pandemia tinha acabado entre setembro e outubro de 2020, tendo como consequência a desativação dos hospitais.
Os governantes lembram que quem sempre negou a gravidade da crise sanitária foi Jair Bolsonaro.
Em dezembro passado, com quase 180 mil mortos (atualmente são mais de 375 mil), o presidente afirmou que o país vivia “um finalzinho” da pandemia.