O Ministério do Turismo, que é responsável pela Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro, exonerou cinco funcionários da Fundação Casa de Rui Barbosa. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (8).
A Fundação Casa de Rui Barbosa é responsável por manter acervos de intelectuais e escritores brasileiros e um importante centro de pesquisa. Desde outubro é presidida pela roteirista de TV Letícia Dornelles, afilhada política do pastor Marco Feliciano.
Foram dispensados: a crítica literária Flora Süssekind, a jornalista Joelle Rouchou e o sociólogo José Almino de Alencar e Silva Neto – todos da função de chefe do Centro de Pesquisa em Filologia, História e Ruiano, respectivamente. E foram exonerados Antonio Herculano Lopes, até então diretor do Centro de Pesquisa; e Charles Gomes, chefe do Centro de Pesquisa em Direito.
Dornelles assumiu o lugar de Lucia Maria Velloso de Oliveira, que estava no cargo interinamente desde o afastamento, em 2018, por questões pessoais, de Marta de Senna.
José Almino, que presidiu a Casa de Rui Barbosa entre 2003 e 2011, disse que desde o início do governo de Jair Bolsonaro, e ainda mais depois da nomeação de Letícia, ele e seus colegas esperavam que “alguma coisa fosse acontecer”. Ele também disse que Letícia tinha uma disposição aparentemente “amigável” para com o Centro de Pesquisa. Os afastamentos foram, portanto, “um espanto”. “Não esperávamos uma atitude tão explícita, tão negativa, contra o Centro de Pesquisa”, afirma.
Herculano, diretor do Centro de Pesquisa, contou que “a nomeação dela para nós já anunciava que viriam mudanças por aí. Mas ela chegou dizendo que não veio para destruir, mas para construir conosco, que reconhecia o nosso trabalho e nosso méritos e qualidades de intelectuais, de produtores de conhecimento”.
Segundo Herculano, “nesses poucos meses, houve um pacto de convivência pacífica. Continuamos tocando o nosso trabalho. O que aconteceu agora foi, na verdade, a explicitação de um projeto que já existia desde o início, mas estava mascarado”.
O medo dos funcionários, agora, é que a dispensa dos chefes seja o primeiro sinal de um desmonte do Centro de Pesquisa, um dos mais importantes fora de universidade no Brasil e referência em história da escravidão, por exemplo.
Um dia depois de exonerar os chefes dos Centros de Pesquisa, considerados a “alma do local”, a Fundação Casa de Rui Barbosa anunciou, nesta quinta-feira (9), que vai abrigar exposições e palestras sobre os dois maiores ícones do liberalismo conservador: a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan.
O projeto, que fará parte de uma iniciativa chamada “Países & Personalidades”, foi desenvolvido pela presidente da instituição.
Para José Almino, existe um risco de que a Fundação Casa de Rui Barbosa, hoje uma ponte entre intelectuais, comunidade acadêmica, arquivos e instituições, que promove a pesquisa e faz publicações, seja desmantelada.
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