O jornalista Julian Assange, encarcerado na Inglaterra e ameaçado de extradição e cadeia perpétua nos EUA, o repórter investigativo Greg Palast e a veterana argentina Stella Calloni foram agraciados com a premiação internacional do Clube dos Jornalistas do México, por suas contribuições em defesa do direito à verdade e à informação.
Como assegurou a presidente da associação de jornalistas, Celeste Sanz de Miera, a premiação a Assange “representa a inabalável vontade de fazer valer o direito à informação”.
Com essa homenagem, acrescentou Celeste, os jornalistas mexicanos “reconhecem o valor histórico de sua plataforma – o WikiLeaks – e nos somamos à exigência de que seja libertado”. Ela advertiu, ainda, que atualmente “é mais perigoso denunciar massacres do que cometê-los”.
A premiação a Assange foi recebida pelo ex-chanceler durante o governo de Rafael Correa, Ricardo Patino, que foi quem abriu as portas da embaixada londrina ao jornalista e garantiu sua proteção diplomática contra as pressões de Washington durante anos.
Por videoconferência, o atual editor do WikiLeaks, o sueco Kristinn Hraffnson, se dirigiu aos mexicanos, afirmando que a luta pela libertação de Assange “se trava no mundo inteiro”. Batalha em que – ressaltou – “se vai definir se os informadores que defendem a transparência serão capazes de seguir sendo jornalistas; lutamos por nossa própria existência”. Ele se despediu saudando o compromisso dos jornalistas mexicanos com a verdade “porque é altamente contagioso”.
Palast foi agraciado por suas revelações sobre o roubo nas eleições nos EUA e no México, e ainda suas reportagens sobre a Venezuela. A homenagem a Stella Calloni foi por uma vida inteira de investigações, inclusive arriscando sua vida, para expor a “Operação Condor”, em que foram cúmplices ditaduras latino-americanas para assassinar oposicionistas.
“VULNERÁVEIS”
Os premiados são escolhidos anualmente por um painel de toda a América Latina e a cerimônia de entrega, na capital do México, no dia 7, foi transmitida ao vivo. Entre os jornalistas mexicanos premiados, está a equipe de repórteres que resgataram a memória de Tlateloco 68 (Arturo Sánchez, Emir Olivares, Gustavo Castillo, Hermann Bellinghausen, Blanche Petrich em colaboração com o fotógrafo Alfredo Domínguez) e Ana Lilia Pérez, autora de denúncias sobre a corrupção na Pemex.
No ato, Ana Lilia Pérez denunciou que “os seis colegas assassinados nos últimos seis meses são um lembrete de como ainda somos vulneráveis”. Já o jornalista Pedro Miguel, do La Jornada, anunciou a criação do grupo Direito à Verdade, em apoio a Assange, Chelsea Manning e Edward Snowden.
O presidente Andréas Manuel López Obrador (AMLO), que estaria presente à premiação, não pôde ir em decorrência das súbitas negociações para deter a ameaça do governo Trump de sobretaxas as exportações mexicanas, para chantagear o país a reprimir as caravanas de imigrantes. Palast recebeu enorme aplauso ao dizer que “a maioria de nós nos EUA se opõe à mais recente birra tarifária do Trump”.
“TORRENTE DE PROPAGANDA BARATA”
Em seu discurso, Palast disse que seus conterrâneos “não recebem a verdade através das notícias, apenas são expostos a uma torrente de propaganda barata”. Ele pediu que eles fossem perdoados por parecerem “tão ignorantes e loucos quanto os chihuahuas ao escolher pessoas com George W Bush e Donald Trump”.
Palast revelou que em 2000, descobriu “como Bush roubou a eleição na Flórida”. “Minha história para a BBC foi publicada em todo o mundo – exceto em minha própria nação”. Em 2006, eles roubaram outra eleição: “aqui no México.” “Eu dirigi uma investigação para o The Guardian inglês, que provou, sem qualquer dúvida, que AMLO havia vencido”, acrescentou.
“Não culpe os americanos. Eles realmente acreditam que Donald Trump foi eleito presidente. Deixe-me dizer hoje que isso não aconteceu. Antes das eleições de 2016, os agentes políticos de Trump eliminaram 1.100.000 de cidadãos negros e hispânicos das listas de eleitores”, denunciou o jornalista.
“Se não fosse pelo expurgo desses eleitores e pelo desaparecimento de suas cédulas, Trump não seria o presidente”, acrescentou. Descoberta que Palast relatou na Al Jazeera e na revista Rolling Stone, “mas o noticiário da televisão americana manteve os americanos no escuro.”
Encerrando, Palast disse se sentir “honrado em aceitar este prêmio – de uma nação corajosa de jornalistas muito mais corajosos do que eu, que deram suas vidas para relatar as notícias”. “Tudo o que posso fazer é me comprometer a honrar seu prêmio, continuando a lutar para descobrir a verdade, seja em Caracas, no México ou em Washington.”
ANTONIO PIMENTA