Esta política “coloca o país em uma possível recessão muito séria”, advertiu o economista
O economista André Lara Rezende criticou as altas taxas de juros mantidas pelo Banco Central. Em entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, que vai ao ar neste domingo (2), o economista reforça o alerta. E diz que a taxa alta, combinada com balanços negativos dos bancos, pode colocar, sim, o país em recessão.
“O fato de que tivemos quebras no varejo leva os bancos a retraírem drasticamente o crédito. Assim, você agrava o processo de desaquecimento da economia e coloca o país em uma possível recessão muito séria”, diz o economista que criou o Plano Real e que assumiu uma função estratégica no comando do BNDES a convite de Aloysio Mercadante.
Assista um trecho da entrevista
Sobre o chamado risco fiscal, Lara Resende rebateu dizendo que ele não existe. “Pera aí, me explica por que não é sustentável? O que quer dizer risco fiscal? Risco de sustentabilidade? É a dívida. [O economista norte-americano] Jeffrey Sachs, que tivemos uma reunião ontem desse Comitê Estratégico do BNDES para investimento a longo prazo, repetiu o que me disse em um jantar no início deste mês”, disse.
“Se você olha as contas brasileiras, os números brasileiros e pergunta sobre o país, falam que o país está perfeitamente bem, com a economia em ordem. Há um endividamento muito inferior ao de todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento. E a dívida brasileira é integralmente em moeda nacional”, argumentou Lara Resende.
Ele afirmou que o argumento de que o Brasil passa por uma crise fiscal não se sustenta. “Primeiro, esse terrorismo é feito permanentemente, o ‘risco fiscal’. A relação dívida do PIB brasileiro, os resultados do ano passado, foi de superávit primário de 1,3%. A dívida-PIB caiu para 73%, há anos falam que vamos bater em 100%, 90%, mas esse é o nível mais baixo dos últimos seis, sete anos”, segue o economista.
Lara Resende minimizou o fato de a dívida brasileira seja maior do que a de países de desenvolvimento. “A nossa é pouco acima dos países emergentes. Somos um país maior, e quanto mais sofisticado no mercado financeiro, maior a dívida interna. A dívida interna é o ativo sem risco do sistema financeiro, deve ter uma proporção”, argumentou.
“É mais coerente medir a proporção de dívida com ativos privados. Porque a dívida pública é uma dívida do governo e um ativo do setor privado, as pessoas se esquecem isso. Se o governo superavitar e reduzir a dívida interna para zero, o setor privado perderia 70% do PIB em termos de riqueza financeira”, prosseguiu o economista.
“Portanto, a situação fiscal brasileira é muito razoável. O Brasil tem nos últimos anos, sempre teve no século 21, em quase todos os anos, superávit primário. Alguns anos teve déficit primário e depois voltou e nesse ano voltou a ter superávit de 1,3% do PIB. Como se pode dizer que é um risco fiscal e por isso a taxa de juros tem que ser alta? A taxa de juros básica quem determina é o Banco Central, a de longo prazo é fixada pelo mercado na expectativa do custo de carregamento, por isso ela também é determinada pelo Banco Central”, defendeu Lara Resende.
“O brasileiro é todo financiado por brasileiro. Quem financia o Brasil são os brasileiros, em moeda nacional. Quem compra dívida pública não é investidor, é rentista. Investidor é quem investe com risco, na dívida pública não tem risco”, concluiu o economista. A entrevista de Lara Resende completa será exibida às 20 horas no BandNews TV e à meia-noite, na Band e também pelo YouTube.