“A Operação Secreta Etiópia-Maranhão – A guerra dos respiradores no ano da pandemia”, do jornalista Wagner William, descreve os bastidores de operação que venceu a sabotagem do governo federal já no início da pandemia
Escrito pelo jornalista Wagner William, o livro “A Operação Secreta Etiópia-Maranhão – A guerra dos respiradores no ano da pandemia”, da Editora Vestígio, acaba de ser lançado e descreve os bastidores da operação que driblou o governo federal e permitiu a importação de aparelhos respiradores pelo estado do Maranhão. A obra apresenta também as estratégias que colocaram o Estado entre os primeiros no enfrentamento da pandemia.
Wagner William é escritor, produtor de TV e jornalista. Ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com a reportagem “O primeiro voo do condor”, publicada na revista Brasileiros, em dezembro de 2012. É autor de outras obras importantes como “O Soldado Absoluto” (ed. Record) que conta a vida do Marechal Henrique Teixeira Lott, militar que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek e Jango na Presidência e vice-presidência do Brasil, eleitos em 1955. É dele também a obra “Uma mulher vestida de silêncio: a biografia de Maria Thereza Goulart”, também da Editora Record.
Em entrevista ao HP, William disse que a ideia de escrever sobre esse assunto dos respiradores surgiu com a leitura de uma reportagem da Folha de S. Paulo de 16 de abril de 2020.
“O que me motivou foi aquele texto de manchete que ficou famoso ‘Maranhão comprou da China, mandou para Etiópia e driblou governo federal para ter respiradores – Depois de ter sido atravessado por Alemanha, EUA e governo federal, estado montou operação de guerra'”, conta o escritor.
Com o relato de Wagner William, o leitor terá a oportunidade de conhecer os bastidores e segredos da ação empreendida pela gestão do governador Flávio Dino (PCdoB) e que permitiu a importação de 107 respiradores e 200 mil máscaras para a população maranhense.
ENTRAVES DO GOVERNO FEDERAL FORAM VENCIDOS
Com a ajuda de uma importadora maranhense, o Governo Flávio Dino havia negociado com uma empresa de Guangzhou que enviou os respiradores para a Etiópia. O objetivo era escapar do radar da Europa e dos EUA. O cargueiro aterrissou em São Paulo e a mercadoria foi colocada em um avião fretado da Azul e enviada diretamente para o Maranhão.
“Eu passei a acompanhar com atenção essa sequência de notícias porque quatro dias depois se falava que a Receita ia processar quem fez a operação. Uma operação isenta de impostos e que foi paga por empresas privadas do Maranhão”, explicou o autor. Ele acrescentou que achou estranho processar um governo que não tirou dinheiro do bolso para fazer essa operação e trazer os respiradores.
“E o mais interessante é que exatamente uma semana depois da primeira publicação se falava que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizava, atendendo o pedido do governo do Maranhão contra o governo federal, e determinava a entrega de 68 respiradores retidos”, relatou.
William explica que se aprofundou no assunto após perceber que o governo do Maranhão travava várias lutas ao mesmo tempo contra o negacionismo e os entraves do governo federal à luta contra a pandemia.
“Em agosto eu estive no Maranhão fiz entrevistas e visitei hospitais e chequei a história e realmente cheguei à conclusão que é uma história surpreendente”, relatou o autor. Ele disse que é a primeira vez que escreve um livro “a quente”, “sem deixar o livro descansar”, e que “a evolução dos fatos, a troca de ministros, o desastre da condução federal fez com que o livro fosse até o comecinho deste ano”.
William confessa que teve a certeza que estava fazendo algo correto quando “eu entreguei os originais do livro para a editora no dia em que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no ‘Monitora Covid’ apontava que o Maranhão era o estado com menos mortes por milhão de habitantes”. “No livro há muito dessa explicação sobre isso”, diz o autor da obra.
Operação Secreta Etiópia-Maranhão cobre todo o “ano da Covid-19”, ou seja: vai do último dia de 2019 ao último dia de 2020, trazendo em seu contexto as mudanças que a pandemia provocou nas relações internacionais – e também no Brasil, onde o filme de suspense se transforma rapidamente em uma comédia sem graça, que termina em uma tragédia com mais de 220 mil mortes.
A ação contou com o envolvimento de 30 pessoas e custou R$ 6 milhões. Teve início na China, passou por dois países da África e fez um pouso em São Paulo, até finalmente chegar a São Luís. Com isso, se tornou a mais cinematográfica resposta ao governo brasileiro, que, sem aceitar o sucesso do plano, reagiu com perseguições, recursos jurídicos e até mesmo ações de contraespionagem.
O livro também traz detalhes sobre as manobras e omissões do governo federal e os vários alertas recebidos pelo Ministério da Saúde, ao longo do ano, sobre a farsa da cloroquina, o vencimento do prazo de validade dos testes, a escassez de kit intubação, a falta de cilindros de oxigênio e a “guerra da vacina”. Questões que, se contornadas a tempo, poderiam ter amenizado o impacto e a tragédia da Covid-19 no Brasil.
DESEMPENHO MARANHENSE NO COMBATE AO VÍRUS
O Maranhão registrou uma trajetória positiva no enfrentamento à pandemia. No dia 5 de maio, foi a primeira capital brasileira a decretar um lockdown, que havia sido pedido pela Justiça. Em agosto, ocupava a primeira posição em índice de melhor desempenho no combate à Covid-19, segundo pesquisa nacional divulgada pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e que avaliou as 27 unidades federativas do Brasil. Em 18 de dezembro, era o único estado a registrar queda nas mortes.
Em 21 de janeiro de 2021, o Maranhão tornou-se o Estado com menos mortes por milhão em decorrência da Covid-19 – segundo o site Poder360 –, com um número de 651 óbitos por milhão de habitantes. Enquanto Rio de Janeiro, Amazonas e Distrito Federal ocupavam as piores colocações no triste ranking, a maneira como o Maranhão havia enfrentado a pandemia mereceria ser estudada no futuro.
Wagner Willian disse que é muito importante que o máximo de fatos sejam registrados nesta tragédia. Tanto pelos historiadores como pelos cientistas que se debruçarão sobre a história da pandemia no país. Era o que ficaria para a História. Uma História sobre quem foi à guerra e sobre quem se acovardou e se escondeu. Nesse mesmo dia, o Brasil tinha 8.697.368 casos confirmados e 214.147 mortes. Hoje, o país já amarga mais de 255 mil mortos pela Covid-19.
Informações sobre o livro e como adquiri-lo: Editora: Vestígio
Grupo Autêntica http://www.grupoautentica.com.br
SÉRGIO CRUZ