“Queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes que temos coisas para vender, e as coisas que nós temos para vender têm preço. Queremos um certo equilíbrio”, disse, em entrevista em Dubai, sobre o acordo Mercosul-UE
O presidente Lula afirmou neste domingo (3) que os países ricos não querem um acordo ou fazer concessões aos países em desenvolvimento.
“Assumam [os europeus] a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais”, afirmou.
“E nós não somos mais colonizados, nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes que temos coisas para vender, e as coisas que nós temos para vender têm preço. Queremos um certo equilíbrio”, disse o presidente em entrevista coletiva em Dubai, Emirados Árabes, após a realização da Conferência do Clima COP28.
Lula estava comentando as declarações do presidente da França, Emmanuel Macron, no sábado (2), de que é contra o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Macron disse que o acordo é “antiquado” e “mal remendado”.
As negociações entre Mercosul e União Europeia para fechar o acordo de livre comércio se estendem desde 1999.
O acordo envolve 31 países, e prevê isenção ou redução na cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.
A UE recentemente fez novas exigências ambientais ao acordo, entre elas, prega sanções aos países que não cumprirem as metas ambientais definidas no Acordo de Paris. A nova carta da UE, exige do Mercosul, entre outros pontos, o compromisso de reverter perda de florestas e a degradação da terra até 2030 e a redução de 50% do desmatamento em relação aos níveis atuais, até 2025.
“A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável”, disse Lula em junho em resposta. “Nem eles cumpriram o acordo de Paris. Os países ricos não cumpriram o acordo de Paris, o protocolo de Quioto, a decisão de Copenhague”, afirmou.
Lula também disse outro ponto que não abre mão é o das compras governamentais.
O Brasil quer incluir cláusulas de compras governamentais. No ano passado, representaram algo entre 12% e 15% do PIB, totalizando R$ 9,9 trilhões, mas a UE é contra.
Após a declaração de Macron, Lula disse que se não houver acordo, a culpa “não é do Brasil”. “Se não tiver acordo, paciência, não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar clara é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul”, afirmou Lula na entrevista.
Lula declarou que a posição da França já era conhecida.
“Primeiro, a posição do nosso companheiro presidente da França é conhecida historicamente. A França sempre foi o país que criou obstáculo no acordo do Mercosul com a União Europeia. Porque a França tem milhares de pequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. É isso”, disse Lula.
“Agora, o que eles não sabem é que nós também temos 4,6 milhões de pequenas propriedades de até 100 hectares que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimentos de qualidade, e que nós também queremos vender”, prosseguiu.