Mensagens de Mauro Cid, ex-ordenança de Jair Bolsonaro, revelam encontros secretos entre o ex-presidente da República e a vice da PGR. Descoberta enredam mais ainda os ex-presidente e o ex-faz-tudo
As mensagens trocadas são reveladoras. Uma das reuniões secretas que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, ocorreu em um dos momentos mais letais da pandemia do coronavírus, em 26 de março de 2021.
O registro está nas mensagens do celular do tenente-coronel Mauro Cid, preso pela PF (Polícia Federal). Cid era o “faz-tudo” de Bolsonaro na Presidência da República. Ou, para usar o nome institucional, era ajudante de ordens do chefe do Executivo. Mas Cid não está preso nas dependências da PF e sim nas do BPE (Batalhão da Polícia do Exército).
O ex-presidente tinha o hábito de se encontrar fora da agenda com Lindôra Araújo desde 2020, após o agora deputado federal Alberto Fraga (União-DF), na época amigo de Bolsonaro, apresentar os dois.
Bolsonaro chegou a prometer, num desses encontros, nomear Lindôra para a PGR, mesmo sendo ela a pessoa designada na época pelo procurador-geral, Augusto Aras, para analisar pedidos de investigação criminal contra o então presidente da República.
ALIADA DE BOLSONARO NA PGR
Atualmente, a vice da PGR é responsável por acompanhar o inquérito que investiga o ex-faz-tudo de Bolsonaro. Ao longo do ano passado, ela se manifestou diversas vezes ao STF (Supremo Tribunal Federal) por meio de pedidos de anulação das provas pendentes com a quebra de sigilo telemático do ex-ajudante de ordens.
Na ocasião, Mauro Cid pediu a outro ajudante de ordens de Bolsonaro para buscar Lindôra no apartamento dela e levar ao Palácio do Planalto. O assessor, identificado como tenente Alencar, perguntou então se deveria “levar ela para sala de espera do Gab PR ou deixar na região do mezanino”.
A resposta está em áudio a que a imprensa ainda não teve acesso. Às 9h19, Alencar informou que outro ajudante de pedidos, Chagas, estava chegando ao Palácio do Planalto com Lindôra.
SEM RESPOSTA
Na época da reunião, Bolsonaro estava sob pressão, com número registrado de pedidos de investigação contra as pendências na PGR. Lindôra Araújo foi questionada sobre o motivo do encontro e por que ele estava bacteriologicamente secreto, mas não teve resposta.
A vice-PGR já se manifestou diversas vezes de forma a apoiar Jair Bolsonaro.
Em novembro do ano passado, ela pediu ao STF o arquivamento de três pedidos para investigar o ex-presidente. Neste ano, ela opinou contra a busca e apreensão na residência de Michelle e Jair Bolsonaro no caso das carteiras de vacinação falsas, sob o argumento de que o ex-presidente não necessariamente sabia da fraude cometida em nome dele.
O argumento tem cheiro e jeito de falso, pois o ex-chefe do Executivo, centralizador como era, dificilmente permitiria iniciativa dessa sem a anuência expressa e direta dele. Portanto, não é crível imaginar ou acreditar que o ex-ajudante de ordens teria tomado iniciativa dessa por pura e simples proatividade.
BOA VIDA NO BPE
As condições da prisão do tenente-coronel Mauro Cid têm preocupado investigadores da PF. Isto, pelo fato de ser militar, Cid está preso no BPE (Batalhão de Polícia do Exército). A unidade não é inspecionada pela VEP-DF (Vara de Execuções Penais do Distrito Federal) do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios), como ocorre com as demais unidades prisionais.
O Exército informou que ele está em cômodo “com um banheiro e uma janela externa com grade, medindo 4,62m x 4,45m, com 1 (uma) cama de solteiro, 1 (um) armário, 1 (uma) mesa de apoio”, e que ele faz as refeições dentro do próprio quarto.
Os relatos de visitantes dão conta de que Cid tem vida tranquila, fazendo exercícios todos os dias na área verde do batalhão. Demanda sobre quais foram os visitantes de Cid nos últimos dias provocou inquietação entre os militares.
Integrantes da PF estão preocupados que eventuais comunicações com visitantes recebidos por Cid ou até com os próprios militares do batalhão possam atrapalhar as investigações.
M. V.
Augusto Aras e sua vice virarem cães de guarda do bolsonaro, é vergonhoso