Ela também afirmou à PF, em depoimento, que o marido foi responsável por inserir dados inverídicos no sistema do Ministério da Saúde
A mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Cid, admitiu em depoimento à PF (Polícia Federal), nesta sexta-feira (19), que usou certificado falso de vacinação contra a covid-19.
No depoimento, ela disse que seu marido, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi quem fez a inclusão de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde – o ConecteSUS.
Gabriela é investigada no inquérito que apura se foram inseridas no sistema da pasta informações fraudulentas sobre a imunização de Bolsonaro, Cid e quatro familiares dele.
Na última quinta-feira (18), Mauro Cid optou por ficar em silêncio em oitiva na PF. A ida à sede da corporação foi a primeira vez em que ele deixou a cadeia desde 3 de maio, quando foi detido por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Além do ex-mandatário, a PF também apura a inclusão de informações fraudulentas no sistema do ministério em relação ao casal Cid e das três filhas.
OPÇÃO PELO SILÊNCIO NA OITIVA
A defesa de Bolsonaro alega nos bastidores que a opção pelo silêncio da parte de Mauro Cid se deu porque seus advogados não tiveram acesso à íntegra do conteúdo que foi extraído do celular do militar. No dia em que Cid foi preso, a PF fez operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro e prendeu outros assessores do ex-presidente.
A investigação aponta que foi inserido no sistema como se Bolsonaro tivesse tomado duas vacinas contra a covid-19, a primeira dessas, em 13 de agosto, e a segunda, em 14 de outubro de 2022.
A inserção desse registro retroativo de vacinação na rede do Ministério da Saúde, porém, só ocorreu em 21 de dezembro, pouco antes de o então presidente viajar para os Estados Unidos. No dia seguinte, em 22 de dezembro, o certificado de vacinação de Bolsonaro foi emitido de dentro do Palácio do Planalto.
EVIDÊNCIAS DA FRAUDE
Dias depois, em 27 de dezembro, novamente houve emissão de certificado e, em seguida, o usuário em nome da chefe de vacinação de Duque de Caxias (RJ) apagou o registro do sistema com a justificativa de “erro”.
Em representação a Moraes, a PF aponta Mauro Cid como principal articulador do esquema. Sabe-se que Cid não fazia nada sem que Bolsonaro mandasse.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha ciência da inserção fraudulenta dos dados no sistema. “Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento”, diz a PF.
MENTIRA MENTIROSA
Na última terça-feira (16), Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre a investigação do caso. O ex-presidente disse que não determinou a inserção de dados falsos no cartão de vacinação dele e da filha. Também afirmou que só teve conhecimento da adulteração quando esse tema começou a ser divulgado pela imprensa, em fevereiro deste ano.
Bolsonaro afirmou ainda não acreditar que o ex-auxiliar dele tenha arquitetado a ação criminosa, que não a determinou, e que se ele o fez, “foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação” dele.
Não é crível, nem tampouco razoável imaginar que o ex-ajudante de ordens fez o que fez sem a ordem, anuência e concordância do centralizador Jair Bolsonaro.
INCÓGNITA
O depoimento de Mauro Cid passou a ser visto como incógnita, em particular após a troca na defesa do militar. O advogado Rodrigo Roca anunciou na semana passada que deixaria o caso. E deixou.
Roca é conhecido por ser próximo à família de Bolsonaro e já advogou para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso que ficou conhecido como “rachadinhas”, no antigo gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), onde exerceu o mandato entre fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.
A defesa de Jair Bolsonaro apostava na admissão de culpa do tenente-coronel Mauro Cid, avaliando que ele não teria alternativa a não ser reconhecer ter adulterado certificados de imunização.
ATAQUES AS TRÊS PODERES
Também na última quinta-feira, a CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou a convocação do tenente-coronel Mauro Cid. A fala dele, no entanto, não vai se dar por causa da adulteração dos cartões de vacinação.
O objetivo é ouvir Cid sobre os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro e o episódio de 12 de dezembro, quando vândalos tentaram invadir a sede da PF, em Brasília, e atearam fogo em ônibus e carros.
Bolsonaro e os bolsonaristas que atentaram contra o Estado de Direito e a democracia terão muito trabalho e despesas pela frente. Esse processo só está começando.
M. V.