Após um projeto de lei de financiamento temporário – articulado pelo quase empossado Trump e seu primeiro-bilionário, Elon Musk – não passar na quinta-feira no Congresso, na noite de sexta para sábado (21), poucos minutos depois da meia noite, o Senado norte-americano aprovou novo projeto bipartidário, vindo direto da Câmara de deputados, que evita o fechamento do governo dos EUA por atingir o limite legal de endividamento e mantém o funcionamento até 14 de março de 2025.
Antes dessa epopéia, outro projeto para manter o governo funcionando provisoriamente, negociado entre democratas e republicanos, de 1500 páginas e supostamente com muita “carne de porco” [gíria norte-americana para jabuticabas adicionadas a leis, em benefício de alguém], havia sido barrado, na quarta-feira, sob ordens de Trump.
Segundo os democratas, eram itens destinados a manter operando programas sociais. Cinicamente, o magnata laranja disse querer que o projeto de financiamento temporário fosse um “pacote de gastos de curto prazo ‘limpo’”, sem medidas extras incluídas.
Mas, para analistas, o que Trump queria, mesmo, era a suspensão temporária ou o aumento do limite de endividamento do governo, para abrir espaço para a pretendida extensão do corte de impostos de trilhões de dólares para bilionários, instaurado no primeiro mandato dele na Casa Branca, e com data marcada para expirar no próximo ano.
No projeto de lei de 118 páginas recém votado (e que Biden já assinou), não houve como Trump manter sua manobra. A lei fornece US$ 100 bilhões para auxílio a áreas atingidas por desastres ambientais, bem como uma extensão do projeto de lei agrícola.
Na manhã de sexta-feira, Trump havia postado que se “vai haver uma paralisação do governo, que comece agora, sob o governo Biden, não depois de 20 de janeiro, ‘sob Trump’. Este é um problema para Biden resolver, mas se os republicanos puderem ajudar a resolvê-lo, eles o farão!”.
11ª HORA
No Senado, controlado pelos democratas, a aprovação foi por 85 a 11. Na Câmara, a votação foi de 366 a 34. Os 34 deputados que se opuseram são republicanos que consideraram que os programas sociais em benefício dos trabalhadores e aposentados não haviam sido cortados o suficiente.
Um desses cortes foi uma verba para ressarcimento aos Estados pelo acréscimo nos beneficiados com o Vale-Sopão [Food Stamps], que em 2023 favoreceu 300 mil famílias.
Um programa bipartidário de apoio à pesquisa contra o câncer infantil e que existe desde Obama, apesar de retirado da lei, foi votado e aprovado em separado, garantindo funcionamento até 2028.
A proibição a investimentos norte-americanos na China caiu, para consternação da deputada democrata Rose DeLauro, que insinou que Musk tem “muitos investimentos” na nação asiática.
Segundo o senador Chuck Schummer, que negociou pelos democratas, embora o projeto de lei “não inclua tudo pelo qual os democratas lutaram”, ele ainda teve “grandes vitórias”.
NATAL SEM SUFOCO
O acordo alcançado evitou que mais de dois milhões de servidores passassem o Natal e Ano Novo com o emprego suspenso ou pagamento em atraso – dos ministérios da Saúde e da Educação, ao Pentágono; da Nasa à Agência de Proteção Ambiental e ao Departamento do Tesouro; serviços federais seriam congelados.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que uma paralisação do governo na semana das festas de Natal “significaria que os militares e controladores de tráfego aéreo iriam trabalhar sem remuneração, os serviços essenciais do governo para os americanos trabalhadores seriam interrompidos e ocorreria uma interrupção econômica”.
“Seguindo uma ordem do presidente eleito Trump … os republicanos se afastaram de um acordo bipartidário e ameaçaram fechar o governo na 11ª hora, a fim de abrir caminho para fornecer incentivos fiscais para bilionários. Esta legislação revisada não faz isso”, disse ela.
MUSK
A ingerência de Musk nas negociações recebeu percepções diferenciadas, dependendo do lado do alambrado considerado.
“A mando do homem mais rico do mundo, em quem ninguém votou, o Congresso foi lançado em um pandemônio”, disse a deputada DeLauro no plenário da Câmara. “Isso leva você à questão de: quem está no comando? Eu pensei que havia uma maioria republicana neste órgão. Não uma maioria do ‘presidente Musk’.”
Já o presidente da Câmara, Johnson, sob assédio dos MAGA-boys mais estridentes, lançou um balão de ensaio sobre Elon Musk, dizendo inclusive ter lhe perguntado se queria “ser o presidente da Câmara”. Cuja resposta teria sido de que “este pode ser o trabalho mais difícil do mundo”. E Johnson concluiu, prometendo trazer “a agenda America First para o povo em janeiro”.