Pedidos de recuperação judicial crescem 167,7% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Existem 6,9 milhões de empresas inadimplentes no país
A manutenção dos juros altos no país levou as micro e pequenas empresas a baterem um novo recorde no número de pedidos de recuperação judicial (RJ). Em julho deste ano, foram 166 requisições pelos pequenos negócios, o que corresponde a 72,8% do total geral de solicitação de RJs (228), soma de todos os portes de empresas. Dentre as mais de 6,9 milhões de companhias negativadas, 6,5 são micro e pequenos negócios, diz Serasa.
Para os pequenos negócios, esses são os maiores resultados para o mês da série histórica da pesquisa Recuperação Judicial e Falência da Serasa Experian, com início em 2005. Os dados foram divulgados pelo site Valor Econômico, nesta terça-feira (20).
Segundo a Serasa, neste ano, o volume de pedidos de RJs deve superar os pico histórico. Somando todos os portes de empresas, até agora foram 1.242 pedidos para reestruturação judicial contra 1.098 pedidos registrados no acumulado de sete meses de 2016.
Até julho deste ano, ao todo, as micro e pequenas empresas solicitaram 879 RJs, um resultado também sem precedentes na série histórica da pesquisa. O número é 25% maior do que o observado para o mesmo intervalo de meses de 2022 e 2023 somados (704) e maior que o registrado para os sete meses de 2016 (657), que foi o maior nível já visto no país. Frente a julho do ano passado, a alta é de 167,7%.
A maior parte destas empresas estão na área de Serviços. Em julho, o setor demandou 94 RJs, um a mais que o mesmo mês de 2016, época que foram requisitados à Justiça 93 pedidos, até então o maior nível da série.
No acumulado do ano, foram 516 pedidos, o que é 61% maior do registrado pela Serasa há oito anos (321). Por outra via, o comércio e a indústria acumulam 329 e 202 pedidos de recuperação até julho, na ordem. Já o setor primário, onde se concentram as empresas do agronegócio, soma 195 solicitações no ano.
O novo recorde no número de RJ, segundo Luiz Rabi, da Serasa Experian, “é preocupante, porque reflete que tem cada vez mais empresas à beira da insolvência”. O economista aponta que, em números absolutos, existem 6,9 milhões de empresas inadimplentes no Brasil – também o maior volume da série histórica.
Segundo Rabi, ainda, o comércio e serviços são mais afetados pela taxa de juros. “São setores que dependem muito mais do mercado interno para poder direcionar sua produção”, explicou.
Desde agosto de 2021, o número de empresas inadimplentes não para de crescer, por influência do elevado nível da taxa básica de juros da economia (Selic) do Banco Central (BC). A Selic disparou de 2%, em março de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, elevando o custo de capital e as dívidas das empresas, mas também inibindo internamente o consumo de bens e serviços no país – isso, em meio ao período de crise econômica, agravada pelos efeitos da pandemia de Covid-19.
Só em agosto de 2023, o BC – pressionado pela sociedade – deu o pontapé inicial para o ciclo de corte da taxa Selic, mas, depois de sete cortes minguados, em junho deste ano, interrompeu os cortes da Selic, deixando-a nos onerosos 10,5% ao ano. Na sua última reunião, o Copom do BC sinalizou que não deve seguir reduzindo a Selic este ano, mas que pode abrir um ciclo de elevação da taxa.