
Foi graças ao apoio de Henrique Fonseca de Araújo, pai de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, indicado por Bolsonaro, que Gustav Franz Wagner, denominado por suas vítimas de “A Besta de Sobibor”, responsável pela morte de 250 mil pessoas, a maioria judeus, escapou de ser julgado e condenado.
Ao negar as extradições solicitadas, Henrique Araújo violou a Convenção Internacional pela prevenção e repressão do Crime de Genocídio, aprovado pela Assembleia Geral da ONU em 12 de dezembro de 1948, da qual o Brasil é signatário, em especial os artigos 3º, 6º e 7º que regulamentam os crimes, a jurisdição e extradição para os crimes de genocídio.
Artigo 3.º Serão punidos os seguintes atos: a) O genocídio; b) O acordo com vista a cometer genocídio; c) O incitamento, directo e público, ao genocídio; d) A tentativa de genocídio; e) A cumplicidade no genocídio.
Artigo 6.º As pessoas acusadas de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no artigo 3.º serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território o ato foi cometido ou pelo tribunal criminal internacional que tiver competência quanto às Partes Contratantes que tenham reconhecido a sua jurisdição.
Artigo 7.º O genocídio e os outros atos enumerados no artigo 3.º não serão considerados crimes políticos, para efeitos de extradição.
Gustav Wagner era membro das hediondas SS e tinha o cargo de Oberscharführer, o segundo na hierarquia do comando do campo de extermínio de Sobibor, logo abaixo do chefe do campo, Franz Stangl, que foi julgado e condenado à prisão perpétua na Alemanha.
Henrique Araújo era procurador-geral no governo de Ernesto Geisel quando Wagner foi localizado e se apresentou à polícia em São Paulo, em 1978. Na ocasião, quatro países, Polônia, onde fora localizado o campo de extermínio, Áustria, onde ele nascera, Alemanha, cujo governo à época elaborara a Solução Final, que consistia no extermínio dos judeus em todos os territórios ocupados pelos nazistas e Israel, este último, na condição de Estado Judeu, e se autodenominando representante dos judeus, pediram a sua extradição.

O pai de Ernesto Araújo, que recebeu para análise as solicitações, negou deferimento aos pedidos de Israel, Polônia e Áustria e procrastinou até a data de sua saída do posto que ocupava um parecer sobre o pedido alemão. É este comportamento vergonhoso, para se dizer o mínimo, que relatamos a seguir.
A extradição e condenação de Stangl, o chefe de Wagner em Sobibor
Dez anos antes, quando Henrique Araújo ainda não ocupava a função, o chefe de Wagner em Sobibor e que continuou o morticínio em Treblinka, o Hauptsturmfüher, Franz Stangl, fora localizado e tivera destino diferente, foi extraditado e julgado na Alemanha e, condenado à prisão perpétua, morreu preso, em Dusseldorf, em 1971.
O campo da morte de Sobibor
Sobibor integrava um grupo de três campos, junto com o de Treblinka e o de Belzec, na região leste da Polônia, construídos especificamente com a finalidade de extermínio em massa e nos quais morreram cerca de 2.000.000 de pessoas em câmaras de gás.
A construção dos campos, assim como os de Auschwitz e Maidanek, resultou da decisão de exterminar todos os judeus que estivessem em regiões dominadas pela Alemanha, tomada na Conferência de Wannsee, 20 de janeiro de 1942, denominada de Solução Final, para a chefia da qual foi indicado Heinrich Himler.
Na conferência, foi decidido criar os três campos na região leste da Polônia, o que incluiria ferrovias através das quais seriam transportados em massa os presos vindos de vários campos de concentração espalhados pelo Reich ou detidos em países que estavam sob ocupação alemã. Este sistema, seria denominado de Einsatz Reinhardt (Operação Reinhardt), sob o comando de Reinhard Heydrich, que foi morto por integrantes da Resistência Tcheca (cuja ação foi relatada no filme dirigido por Fritz Lang, com roteiro dele e de Bertolt Brecht, denominado Os Carrascos Também Morrem). Heydrich foi substituído no comando genocida por Odilo Globocnik.

Os trens chegavam a Sobibor abarrotados de homens, mulheres, crianças e idosos. Judeus que trabalhavam no campo ajudavam a descer os pertences dos passageiros. Quando a multidão estava reunida na estação, começavam as ordens, dadas por Gustav Wagner: que as mulheres e crianças fossem para um lado e os homens para outro.
Neste momento eram também separados os que teriam alguma utilidade para os trabalhos do campo: serviços gerais, separação dos materiais que vinham nos pertences que eram apartados de seus donos, ourivesaria, sapataria, carpintaria, coleta de madeira, cozinha e etc.
Os que não iriam prestar serviços iriam para o campo 3.
Ainda na estação, aos que iam ao campo 3 lhes era dito, por Wagner, que teriam que tomar “banho de desinfecção” para seguirem adiante para outros locais onde iriam trabalhar, ‘evitando epidemias’ nestes locais. Lhes era orientado tirarem as roupas e as deixarem dobradas para após o banho. As mulheres tinham o cabelo cortado curto (que seria aproveitado para produzir escovas e vassouras) e eram direcionadas para a ‘ducha’. Os homens tinham o mesmo destino.
Este consistia na morte em câmaras de gás. Em Sobibor eram três. Cada uma medindo 16 m² onde eram atulhadas 180 pessoas. Ou seja, nas câmaras de gás de Sobibor era possível matar 540 pessoas a cada leva. As portas de vedação eram fechadas e o gás CO (monóxido de carbono) despejado por encanamento desenhado para o morticínio.
Após a morte, os corpos eram direcionados aos fornos crematórios vizinhos às câmaras e as cinzas despejadas por trás daquele dispositivo macabro. No auge da matança, segundo sobreviventes, se podia sentir, por todo o campo, o cheiro nauseante dos cadáveres e de sua incineração.
Os que ficavam para trabalhar eram alimentados com pão e sopa rala e constantemente submetidos a tratamento cruel, chibatadas, coronhadas, espancados muitas vezes até a morte, ou simplesmente eram mortos a tiros sem qualquer motivo que não fosse a satisfação aos acessos de sadismo dos capos das SS.
Os que escapavam, de imediato, às câmaras de gás eram, portanto, submetidos a um regime de fome, excesso de trabalho, terror e humilhação.
Os que passaram por este inferno relatam ainda que, para sobreviver, eram às vezes levados até o canibalismo: não rejeitavam quando recebiam restos dos mortos nas câmaras de gás para comer.
A Besta
De todos os oficiais das SS encarregados do campo, o mais temido era exatamente aquele que Henrique Araújo protegeu: Gustav Wagner, que, por sua truculência, foi denominado, pelos confinados, como vimos acima, de “A Besta de Sobibor”.
Um dos sobreviventes, Moshe Bachir, relatou que ele matou dois dos prisioneiros “porque eles – que não falavam perfeitamente o alemão – simplesmente não haviam entendido corretamente suas orientações”.
Segundo outra sobrevivente, Esther Raab, uma das mulheres, Naomi, foi morta com um tiro no rosto porque recusou-se a entregar seu bebê ao assassino depois que este lhe dissera, que “não há bebês em Sobibor”. Antes de ser morta, Naomi viu seu filho ser assassinado, com um tiro na cabeça, por Wagner.
Também foi Wagner quem criou a chamada “Brigada Penal”, grupos de prisioneiros que haviam – a seu ver – feito qualquer coisa de errado e eram obrigados a trabalhar carregando pedras durante 18 horas seguidas, com poucos minutos de descanso. Segundo o sobrevivente Thomas Blatt, “ninguém permaneceu vivo após ser designado para a Brigada Penal”.
Sua bestialidade é retratada em diversas das cenas do filme, dirigido por Jack Gold, denominado ‘Fuga de Sobibor, o Campo do Inferno’, com base no livro de Richard Rashke, ‘Fuga de Sobibor’.
Enfim, as atrocidades cometidas pela Besta eram tão horripilantes que, como descreveu Regina Zielinsky: “Eu não posso dizer que ele era um animal porque um animal só ataca quando está faminto ou amedrontado. Ele era pior do que um animal”.
Wagner se credenciara para dirigir o hediondo campo de extermínio de Sobibor através de sua participação anterior em um dos centros da Fundação para Cuidados Institucionais, o castelo Schloss Hartheim. Era um dos seis falsos hospitais que, na verdade, serviram como escola de assassinos.
De acordo com a ideologia nazista da ‘pureza da raça’, os deficientes físicos ou mentais deviam morrer. Eles eram para lá encaminhados e ali levados ao que os nazistas chamavam de uma “morte compadecida”. Foi com estes pobres diabos que os carrascos começaram a praticar o assassinato com gás, o que seria posteriormente usado na matança de judeus nos campos de extermínio. Wagner atuou aí com destacada frieza de 1940 a 1942, quando foi enviado para compor a direção de Sobibor.
A rebelião e fuga
Segundo o relato de um dos combatentes do levante, Stanislaw Shlomo Szmajzner, uma rebelião começou a ser tramada em 15 de maio de 1943, quando chegou a Sobibor um pelotão de soldados soviéticos judeus comandados por Alexander Perchevsky (Sasha). Ele teve apoio de um líder judeu no campo, o polonês Leon Feldhendler, filho de um rabino que já morrera ali, em uma das câmaras de gás.
Leon assistiu, junto com os demais judeus do campo, às retaliações perpetradas por Wagner, as quais atingiam não só os que tentavam ou conseguiam fugir, mas também, em igual número, presos escolhidos entre os que não haviam tentado a fuga. Estes eram metralhados junto com os fugitivos pegos “para que sua morte servisse de exemplo a todos que pensassem em fugir”. A partir daí, Leon decidiu que qualquer plano de fuga deveria dar chance a todos.
Sob o comando de Sasha e Leon, foi então delineado um plano audacioso: matar os integrantes das SS no campo com armas produzidas pelos próprios presos, o que deixaria os seus subalternos, os guardas ucranianos, em pânico, permitindo que, após o corte da energia elétrica e comunicações telefônicas, os presos saíssem em massa pelo portão da frente.
No dia escolhido para a rebelião, dos onze que permaneciam no campo, no dia 12 de outubro de 1943, quando Stangl e Wagner se ausentaram para atender a uma reunião, 5 foram pegos de surpresa, um a um, e mortos. O grupo comandado por Sasha e Leon não conseguiu matar a todos os SS, mas foi o suficiente para desarticular a direção do campo e detonar a fuga.
Às 17:10h, o soviético Sasha subiu em um veículo e proferiu: “Nosso dia chegou! Os carrascos estão mortos e quem de nós morrer, será com honra. Quem sobreviver, terá que contar ao mundo o que aconteceu aqui”.
Avalia-se que, dos 500 que tentaram fugir, pelo menos 200 alcançaram a floresta próxima (sobrevivendo aos tiros dos guardas ucranianos postados nas guaritas em torno do campo e ao campo minado vizinho a este) e daí se espalharam para aguardar a libertação da Polônia das hordas nazistas. Caçados, com apoio de nazistas poloneses, calcula-se que, mesmo assim, mais de 50 sobreviveram à guerra, alguns dos quais lutaram ao lado dos guerrilheiros da Resistência até a vitória, a exemplo de Szmajzner.
Com aquele que foi o mais vitorioso dos levantes ocorridos nos guetos (houve insurreições nos guetos de Varsóvia, Treblinka e Bialystok, entre outros), os nazistas decidiram encerrar as atividades do campo e plantaram no lugar uma floresta de pinheiros.

A descoberta e a cobertura ao assassino nazista
Em 1978, o conhecido caçador de nazistas, Simon Wiesenthal, em uma operação com o apoio do jornalista Mario Chimanovitch, foi publicado, a pedido de Wiesenthal, uma matéria no Jornal do Brasil, onde se dizia que Wagner havia sido visto e fotografado em uma festa, no aniversário de Hitler, em um hotel em Itatiaia.
Wagner, entregou-se, em junho daquele ano, à polícia em São Paulo com medo de ser preso e enviado para Israel, como acontecera com Adolph Eichman, antes detido pelo Mossad (serviço secreto israelense), em Buenos Aires, julgado em Jerusalém e condenado à morte.
Szmajzner – que foi um dos principais combatentes do levante de Sobibor, levante que foi seguido de seu encerramento pelos próprios nazistas – ao ler sobre a localização e detenção de Wagner, dirigiu-se ao Dops de São Paulo onde provou conhecê-lo.
À época, tanto a Folha de São Paulo, como o jornalista Zevi Guivelder (Manchete), assim descreveram este dramático encontro:
Szmajzner chegou ao local e, vendo Wagner distraído, gritou: “Gustl!”
Ele se voltou e Szmajzner perguntou, de bate-pronto, se o alemão se lembrava dele, que, surpreendido, confirmou. “Eu salvei sua vida. Eu separei você para trabalhar na oficina de joias. Você era ourives, apesar da pouca idade. Eu salvei você porque separei você”, disse o nazista.
Szmajzner disse então: “Se você diz que me ‘separou’, salvando minha vida, quer dizer que acaba de admitir que mandou os demais, para a morte”.
“Você não salvou a minha vida coisa nenhuma. Você me separou porque estava faltando ourives na oficina. Meus pais não eram ourives, e você mandou meus pais para a câmara de gás”, acrescentou o sobrevivente.
O diálogo prosseguiu:
Wagner: “Eu não matei ninguém. Eu só cumpri ordens. Eu não tinha posição de comando. Eu trabalhei com o comandante Franz Stangl, mas só ele mandava. Eu nunca mandei nada em Sobibor”.
Szmajzner: “Você mandava, sim, e era você quem recebia os trens cheios de judeus, separando os que iam morrer e os que iriam esperar para morrer depois, porque ali todos iam morrer, mais cedo ou mais tarde. E você separava os judeus a porretadas, batendo em todos às vezes com um pedaço de pau, às vezes com um chicote”.
Wagner: “Eu separava, mas não batia, você lembra bem de mim, eu sempre fui humano e nunca matei ninguém. Eu só cumpri ordens em Sobibor”.
Szmajzner: “Seja homem e diga a verdade. Eu sou judeu e sou homem. Você é nazista e não é homem. Seja homem e diga a verdade. Diga toda a verdade. Seja macho uma vez na vida. Diga toda a verdade. Onde está sua valentia de Sobibor, dos tempos de Sobibor, quando você matava os judeus, quando você era subcomandante de Sobibor? Você não é macho, você mente, mas você não vai fazer isso por muito tempo”.
Depois de provocado a admitir seus atos, Wagner ainda ameaçou Szmajzner: “Você ainda vai me pagar por tudo isso. Eu mandei em Sobibor, sim, você sabe disso, e mandei muito. Mas o que é que você está pensando, que tudo acabou, que estou acabado? Eu tenho pena de você. Minha vida acabou, está bem, e a sua? A sua vida não acabou, você vai viver muito tempo e, por isso, vai dar tempo de você pagar o que está me fazendo”.
Apesar das ameaças de Wagner, nada aconteceu a Szmajzner que contou a história daqueles terríveis dias no seu livro, “Inferno em Sobibor: a tragédia de um adolescente judeu”, publicado logo no ano seguinte, em 1979.
Assim que foi detido, Wagner teve seu caso repercutido na imprensa internacional e logo chegaram ao governo brasileiro quatro pedidos de extradição vindos da Polônia, Áustria, Alemanha, e Israel.
Henrique Araújo, o procurador-geral de então, indeferiu o pedido de Israel alegando que “não existia enquanto Estado na época” (Israel foi fundado em 1948, três anos após o término da Segunda Guerra), negou deferimento aos da Áustria e da Polônia dizendo que os crimes de Wagner haviam prescrito tanto aqui como lá.
A Alemanha negou tais alegações e enviou farta documentação demonstrando que os crimes de Wagner, eram imprescritíveis, tanto pelas leis internacionais como pelas da Alemanha. Henrique Araújo pediu mais documentos à Alemanha, dando assim proteção a Wagner. Ele levou esta procrastinação até o fim do governo de Geisel, então presidente, e sua substituição por Firmino Ferreira da Paz, durante o governo Figueiredo.
Já com o novo procurador, os pedidos de extradição chegaram ao STF. Lá, vergonhosamente, também foram negados.
Ocorre que, àquela altura, o tribunal já era composto somente por ministros indicados pelos governos ditatoriais (quando do julgamento do pedido de extradição do chefe de Wagner, Stangl, ainda havia ministros indicados por João Goulart e por Juscelino Kubitscheck e a extradição do chefe de Sobibor foi aprovada, 10 anos antes).
Em 1979, os pedidos de extradição de Wagner foram derrotados com os votos contrários tanto do relator, Cunha Peixoto, como dos ministros Thompson Flores, Rafael Meyer, Suarez Munhoz, Moreira Alves, Leitão de Abreu e Djaci Falcão. A favor da extradição votaram, corajosamente, Cordeiro Guerra e Xavier de Albuquerque. Não votou o presidente do STF, ministro Antonio Neder (não encontrei o registro do voto do ministro Décio Miranda, nem nos trabalhos sobre o assunto do historiador Felipe Abal, nem na Revista Trimestral de Jurisprudência de Volume 92, junho de 1980, que traz as atas das sessões onde os pedidos foram julgados).
Cordeiro Guerra e Xavier Albuquerque defenderam em seu voto que o crime de genocídio era imprescritível e, ao negar a extradição, o Brasil negava seu compromisso “com a assinatura à Convenção para a prevenção e repressão ao genocídio de 1948”.
Em entrevista à Folha, na matéria publicada no dia 12 sobre o assunto, o autor do livro “The Death Camp of Sobibor” (O campo da morte de Sobibor), Chris Webb, afirmou: Wagner era conhecido como “besta humana”. “Ele era um dos nazistas mais temidos de Sobibor”.
“Os prisioneiros tentavam ficar fora do seu caminho, temendo sua crueldade. Dado seu papel em Sobibor, deveria ter sido extraditado. É uma vergonha que não tenha sido.”
Para Felipe Cittolin Abal – autor de “Altas Cortes e Criminosos Nazistas” (Gramma, 2018) e de “Visitantes Indesejados: Os pedidos de extradição de Franz Stangl e Gustav Wagner, uma análise histórico-jurídica” (Passo Fundo, 2012), professor de pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo – o procurador e o STF entenderam os crimes do nazista como homicídio, que prescrevem em 20 anos.
Porém, conforme explica em seu livro, “caso fossem observadas as normas internacionais, poderia se chegar facilmente à conclusão de que se tratava de um crime imprescritível, podendo ser qualificado como genocídio e crime de lesa humanidade”.
O fim do carrasco nazista
Após as audiências do STF, sob a alegaçãode insanidade, Wagner foi transferido para um hospital psiquiátrico e, de lá, secretamente, de volta para o sítio onde era caseiro, em Atibaia (SP). Lá, morreu em outubro de 1980, com uma facada no coração. As circunstâncias da morte de Wagner nunca foram desvendadas.
Ernesto Araújo e o flerte com as nefastas concepções nazistas
É óbvio que o chanceler indicado por Bolsonaro, Ernesto Araújo, não tem responsabilidade por esta e outras barbaridades do pai (que, além da contribuição decisiva para a impunidade de um dos mais hediondos carrascos nazistas, ainda participou na censura de jornais, revistas, livros, peças de teatro, incluindo obra de Chico Buarque de Holanda).
No entanto, o pendor do filho pelo alinhamento automático com os supremacistas de hoje, os governos de Washington, que invadem, a seu talante, demais países, alegando suposto “excepcionalismo”; seu apreço pelo Estado de Israel, cujos governantes se apoiam em suposto direito bíblico à “Terra Prometida” para oprimir por, há já mais de 70 anos, o povo palestino, além de sua manifesta simpatia por premiar este Estado com a transferência da embaixada brasileira, de Tel Aviv para Jerusalém (entre outras motivações para bajular seu ídolo, Trump), mesmo com a ilegal anexação da Jerusalém Árabe por parte do governo de Israel; mesmo com as amplas denúncias de limpeza étnica e crimes de guerra israelenses contra o povo palestino, além dos quilos de Resoluções Contra a Ocupação por parte da ONU, nunca respeitadas por Israel, formam um roteiro que deixa à mostra que, infelizmente, Ernesto não apenas absorveu os piores dos exemplos paternos, como desceu ainda mais fundo.
Isso, aliás, ficou mais explícito ainda no seu artigo “Trump e o Ocidente”, extremamente elogiado por Bolsonaro, onde, entre outras sandices, Ernesto diz que “…a gigantesca máquina de propaganda marxista conseguiu apagar qualquer traço do caráter essencialmente socialista do fascismo e do nazismo…”.
Uma aberração dificilmente expressa em qualquer outro momento, após as denúncias e fartas comprovações dos crimes de guerra cometidos pelos nazistas. Perorações ainda mais absurdas quando é inegável que foi o governo, os patriotas e o exército de um país que resultou da união de um conjunto de repúblicas socialistas, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que deu o mais aguerrido e vitorioso combate ao nazismo e ao fascismo.
De tão estúpida, a declaração de Ernesto Araújo deixou até mesmo o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, estupefato. Em entrevista à agência Deutsche Welle, o embaixador deixou claro: “nunca ouvi uma voz séria na Alemanha argumentando que o nacional-socialismo foi um movimento de esquerda”.
NATHANIEL BRAIA
Chocante matéria.
Gostaria de mais sobre o tema.