Um documento enviado pela Casa Civil ao Ministério da Saúde, que está sob posse da CPI da Pandemia, mostra que Jair Bolsonaro tentou censurar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para que todas as declarações sobre a pandemia do coronavírus saíssem do Palácio do Planalto.
O ofício, datado de 23 de março de 2020, é assinado pelo então ministro da Casa Civil, Braga Netto.
Naquele momento, Luiz Henrique Mandetta orientava a população a não se aglomerar, mas Jair Bolsonaro estava incentivando no sentido contrário.
O documento também dizia que as declarações oficiais do governo, inclusive as do Ministério da Saúde, deveriam passar pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) para a “unificação da narrativa”.
Mandetta realizava coletivas de imprensa diárias para falar sobre o avanço da doença no país. O ofício também falava que “todas as coletivas de imprensa dos Ministérios ou Agências Federais sobre o COVID 19 (sic) deverão ser realizadas no Salão Oeste do Palácio do Planalto”.
Luiz Henrique Mandetta foi demitido no dia 16 de abril porque não se dobrou à política negacionista de Jair Bolsonaro.
Para o ex-ministro, as ordens enviadas a ele foram uma “tentativa atabalhoada” do governo federal de ter protagonismo no combate à pandemia.
“Desde o começo foram mal. Primeiro, negaram. Depois ficaram com raiva. Aí passaram a esperar por milagre, com a cloroquina, e agora é a depressão que estamos vendo. Eles estavam na fase da raiva de quem dá a notícia”, avaliou.
“Eles queriam despersonalizar. Mas quando você tem uma emergência sanitária, o ministro da Saúde é o coordenador. Eu estava exercendo o que mandava este papel”, disse.
Depois da demissão de Mandetta, Jair Bolsonaro anunciou o médico Nelson Teich para o cargo.
Teich deixou o cargo depois de um mês por conta da pressão de Jair Bolsonaro para que o uso de cloroquina fosse assumida como política de combate à Covid-19, o que não tem nenhum fundamento científico, e porque não tinha autonomia para atuar.
Ele ficou sabendo através da imprensa que Jair Bolsonaro tinha incluído academias e salões de beleza como atividades essenciais, liberados para funcionar apesar da quarentena vigente naquela época.
O terceiro ministro foi Eduardo Pazuello, que cumpriu todas as ordens dadas por Jair Bolsonaro. Depois de ter feito uma gestão durante a qual 260 mil pessoas morreram por Covid-19, ele saiu dizendo que tinha cumprido sua “missão”.
O atual ministro, Marcelo Queiroga, anunciou a infectologista Luana Araújo para comandar a Secretaria extraordinária de Enfrentamento à COVID-19, mas seu nome foi barrado dentro do Palácio do Planalto.
Luana Araújo sustenta que a cloroquina, ivermectina e outras drogas propagandeadas por Jair Bolsonaro não têm nenhum efeito contra a Covid-19.