A diretora de Operações do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para Direitos Humanos, Georgette Gagnon, declarou que a entidade internacional está “preocupada” com as “mensagens conflitantes de autoridades do Brasil, por vezes reduzindo a seriedade da situação provocada pelo coronavírus, e isso pode minar os esforços do país para lidar com a pandemia”. De acordo com ela, isso poderia potencialmente levar o país a uma situação difícil.
A ONU fez outro alerta referindo-se aos valores defendidos pelas autoridades federais. “É nossa posição que governos, em todos os lados, precisam proteger valores democráticos e direitos humanos, evitar respostas que alimentem tendências antidemocráticas, certamente em um pais e em uma região”, disse Gagnon
A representante da ONU certamente referia-se à participação de Jair Bolsonaro, no dia 19 de abril, em manifestações que defendiam a ditadura com o fechamento do Congresso e do STF, além de pedir a volta do AI-5, decreto de 1968 que definiu um dos momentos mais duros da ditadura que se instaurou no Brasil em 1964, dando poder de exceção ao governo para punir arbitrariamente os que fossem adversários políticos do regime ou considerados como tal por ele.
E não foi só a ONU que se manifestou sobre as posições do governo Bolsonaro. O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, foi questionado nesta segunda-feira (27) sobre uma fala desrespeitosa do presidente brasileiro que negou a necessidade do Brasil seguir as orientações da entidade em meio à pandemia do coronavírus e, para justificar-se, o agrediu.
“Estou respondendo processos dentro e fora do Brasil por ter defendido uma tese diferente da OMS. O pessoal fala tanto em seguir a OMS. O diretor presidente da OMS é medico? Não é medico! Sabia disso?, disse Bolsonaro, na quinta-feira (23), declaração que repercutiu internacionalmente.
Tedros assinalou que a organização não pode ordenar que os países sigam suas recomendações – ela pode apenas aconselhar.
O presidente da OMS, mostrando um nível de paciência e elegância acima da média, não esgrimiu seu currículo para responder à boçalidade. Mas, a verdade é que ele formou-se em biologia na Universidade de Asmara, na Eritréia (que então fazia parte da Etiópia), tem mestrado em imunologia e doenças infecciosas pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, da Universidade de Londres, e doutorado em saúde comunitária pela Universidade de Nottingham, também no Reino Unido, onde pesquisou malária. Antes de entrar para a OMS, em 2017, Tedros foi ministro da Saúde e de Relações Exteriores da Etiópia.
Durante coletiva em Genebra na segunda-feira, 27, Tedros lembrou que a OMS decretou a Covid-19 uma emergência de saúde internacional no dia 30 de janeiro – antes de qualquer pessoa morrer pela doença fora da China, onde a contaminação foi registrada pela primeira vez. Também não havia casos da doença na África ou na América Latina.
“O mundo deveria ter ouvido a OMS com cuidado na época”, disse Tedros. “Porque a emergência de saúde internacional, o nível mais alto de alerta, foi ativado quando só tínhamos 82 casos e nenhuma morte no resto do mundo”.
“Todos os países poderiam ter ativado todas as suas medidas de saúde pública possíveis. Eu acho que isso é suficiente [para demonstrar] a importância de ouvir os conselhos da OMS”, acrescentou.
“E, então, nós aconselhamos todos os países a implementar uma abordagem de saúde pública abrangente. E nós dissemos: ‘ache, teste, isole, trace os contatos, e assim por diante’. Vocês podem ver por si mesmos que os países que seguiram isso estão em uma situação melhor que outros. Isso é fato”, disse Tedros.
Na segunda, 27, Tedros também destacou a importância de manter o calendário de vacinação, principalmente das crianças, em dia, mesmo durante o combate ao coronavírus.
“Embora a Covid-19 esteja cobrando um alto preço, a OMS está profundamente preocupada com o impacto que a pandemia terá em outros serviços de saúde, especialmente em crianças”, disse o diretor-geral. “Elas podem correr um risco relativamente baixo de ter um caso grave ou morrer por Covid-19, mas podem estar em alto risco de outras doenças que podem ser prevenidas com vacinas. Esta semana é a Semana Mundial de Imunização”, lembrou.