“Ele responde pelos atos dele”, afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia. O presidente disse ainda que “se a PF prendeu, tem motivo.” Essas falas do presidente têm o propósito de tentar se descolar dos malfeitos do ex-ministro, por quem o chefe do Executivo colocava “a cara no fogo”
O título desta matéria é um tuíte do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) relativo à prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, nesta quarta-feira (22).
Além de Ribeiro, o pastor Gilmar Santos, operador do “balcão de negócios” no MEC (Ministério da Educação) e na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) foi preso na operação batizada de Acesso Pago. O outro pastor, Arilton Moura, que também fazia lobby e cobrava propina no MEC, a PF não informou seu paradeiro.
O FNDE é órgão ligado ao MEC e controlado por agentes políticos do chamado “centrão”, bloco político que dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Esse fundo concentra os recursos federais destinados às transferências para municípios.
A ação investiga a prática de “tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos” do FNDE. Milton Ribeiro e pelo menos um dos pastores, Gilmar Santos, já foram detidos.
Em outro tuíte, o deputado fustiga o governo e àqueles que dizem que sob Bolsonaro não há corrupção no Executivo: “Ministro do governo sem corrupção indo preso por ter instalado uma quadrilha do corruptos no MEC. Bolsonaro colocou a mão no fogo por Milton Ribeiro e acabou incinerado”.
CPI
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) voltou a recolher assinaturas para a instalação de CPI para apurar esquema de corrupção no MEC.
O pedido de CPI ainda dependia do apoio de dois senadores, e, agora, com a assinatura do senador Eduardo Braga, depende apenas de uma. Em março, o requerimento chegou a contar com 27 assinaturas, o mínimo exigido pelo Regimento Interno do Senado. Mas alguns parlamentares retiraram o apoio antes de o pedido ser protocolado na Secretaria Geral da Mesa.
“O governo fez um mutirão em um final de semana, em uma mobilização pouco vista aqui na história do Congresso. Em um final de semana, retirou três assinaturas. Nós conseguimos repor uma assinatura em seguida. Estamos a duas”, destacou Randolfe, antes da assinatura de Braga.
“O requerimento está à disposição, nós vamos oferecer mais uma vez, já estamos oferecendo publicamente. Vamos oferecer hoje para instalar. Com os acontecimentos de hoje, me parece que é inevitável, necessário e urgente a instalação dessa comissão parlamentar de inquérito”, acrescentou.
ENTENDA O CASO
O ex-ministro da Educação de Bolsonaro foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira, em Santos, no âmbito de operação, batizada de Acesso Pago, que investiga a prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do FNDE, órgão ligado ao MEC.
A prisão de Ribeiro foi determinada pela Justiça por causa de envolvimento em esquema para liberação de verbas do MEC. O ex-ministro é investigado por suspeita de corrupção passiva; prevaricação (quando funcionário público ‘retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício’, ou se o pratica ‘contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal’); advocacia administrativa (quando servidor público defende interesses particulares no órgão da Administração Pública onde exerce as funções); e tráfico de influência.
A investigação envolve áudio no qual Ribeiro dizia liberar verbas da pasta por indicação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, a pedido de Bolsonaro.
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, disse o então ministro no áudio.
Alguns prefeitos também denunciaram pedidos de propina — em dinheiro e em ouro — em troca da liberação de recursos para os municípios. Milton Ribeiro disse que pediu apuração dessas denúncias à CGU (Controladoria-Geral da União).
Ribeiro já havia prestado depoimento à PF no final de março, quando confirmou que recebeu o pastor Gilmar a pedido de Bolsonaro. No entanto, ele negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento.
‘CARA NO FOGO’
Em vídeo, Bolsonaro chegou a dizer, na ocasião, que botava “a cara no fogo” por Ribeiro e que as denúncias contra o ex-ministro eram “covardia”.
Nesta quarta-feira, questionado sobre a prisão do ex-ministro pela PF, Bolsonaro afirmou que Ribeiro é quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC.
“Ele responde pelos atos dele”, afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia. O presidente disse ainda que “se a PF prendeu, tem motivo”, mas não explicou a razão que o levou a afirmar, antes, que colocava “a cara no fogo” pelo ex-ministro.
M. V.