Jair Bolsonaro não sossega enquanto não acabar com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão que descobriu as falcatruas de seu filho, Flávio Bolsonaro, na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Onde já se viu esse pessoal investigar com isenção e descobrir os crimes da família?
Desde que assumiu, Bolsonaro não para de atacar o Coaf e o Ministério Público do Rio. Flávio faz coro com o pai na tentativa de desmoralizar os órgãos que investigam seus crimes.
O “mito” fez demagogia entregando o órgão de Inteligência da Fazenda ao Ministério da Justiça. Depois viu que seria mais confiável colocá-lo nas mãos de um escroque mais escolado. Entregou-o então a Guedes, mas concluiu que essa medida também era insuficiente.
Na sexta-feira (09), sinalizou que vai cortar a cabeça de Roberto Leonel, responsável pelo Coaf, indicado por Moro.
O motivo foram as críticas feitas por Leonel à decisão de Dias Toffoli de suspender, a pedido de Flávio Bolsonaro, as investigações de seus crimes baseadas em informações do órgão. O revanchismo de Bolsonaro selou a queda do diretor do Coaf.
Na noite de quarta-feira (07), após reunião com o chefe do Coaf, para tentar enquadrá-lo, Paulo Guedes já adiantava que “cabeça pode rolar”, mas que ele buscava uma solução institucional para o órgão.
A “solução institucional”, anunciada por Bolsonaro e Guedes, é enterrar o órgão nas mãos de escroques realmente mais confiáveis. Vão entregá-lo aos banqueiros “chegados” de Guedes do BC.
O Coaf vai para o Banco Central. “O que nós pretendemos é tirar o Coaf do jogo político”, foi o pretexto de Bolsonaro. “Vincular ao Banco Central, aí acaba [jogo político]”, disse ele.
Não há jogo político mais descarado do que este que Bolsonaro está fazendo. Tudo para impedir que seu filho seja punido por seus crimes, que são notórios.
Ele e seu filho vêm atacando violentamente o Coaf pelo fato do órgão ter cumprido sua obrigação e informado o Ministério Público do Rio sobre movimentações financeiras suspeitas envolvendo o então deputado estadual Flávio Bolsonaro e seu auxiliar Fabrício Queiroz.
Foram descobertos R$ 7 milhões movimentados na conta de Queiroz, motorista que não tinha renda compatível com essas movimentações, entre os anos de 2014 e 2017.
Do próprio Flávio Bolsonaro o Coaf detectou operações imobiliárias típicas de lavagem e depósitos suspeitos de 96 mil reais em 43 operações de 2 mil reais numa agência bancária da Alerj. O movimento foi considerado como manobra para esconder a orígem do dinheiro depositado. Operação que é considerada como lavagem de dinheiro, segundo o Ministério Público.
Depois foram descobertos, no âmbito da Operação Furna da Onça, da Policia Federal, que investigava corrupção na Alerj, que havia dezenas de funcionários de Flávio que depositavam parte, ou todo, o seu salário na conta de Queiroz.
Muitos desses funcionários eram fantasmas, ou seja, nem compareciam ao trabalho. O Ministério Público suspeitou de um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos da Assembleia Legislativa do Rio.
Até familiares de milicianos faziam parte do corpo de funcionários laranja de Flávio Bolsonaro, como era o caso da mulher e da mãe do ex- PM Adriano Nóbrega, assassino profissional foragido, ligado à milicias do Rio das Pedras e do Escritório do Crime, espécie de central de assassinatos por encomenda.
O miliciano, cuja família estava lotada no gabinete de Flávio, chegou, inclusive, a ser homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, maior honraria do Estado do Rio de Janeiro.
A declaração de Bolsonaro na sexta-feira (09), de que vai “blindar” o Coaf, mandando-o para o Banco Central, foi dada ao lado do ministro da Justiça, Sergio Moro, no Palácio do Alvorada, que não esboçou nenhuma reação.
Moro, cada vez mais ridículo e adaptado às manobras da família Bolsonaro, que visam impedir o combate aos seus crimes, não disse nada. Tão zeloso, ele não está vendo nada de errado em tudo isso. Com seu silêncio, Moro decidiu participar do acobertamento dos crimes da família Bolsonaro.
O acobertamento dos crimes do filho é chamado por Bolsonaro de “blindagem contra pressões políticas”. “Tudo o que tem política, mesmo sendo bem intencionado, sempre sofre pressões. A gente quer evitar isso aí”, disse Bolsonaro.
“O Coaf, porventura caso vá para o Banco Central, vai fazer o seu trabalho sem qualquer suspeição de favorecimento político”, ressaltou, ao anunciar o cala-a-boca que ele arranjou para o órgão.
Bolsonaro não disse se usará uma medida provisória, por exemplo, para levar o Coaf ao BC. Ele só adiantou que a permanência do presidente do Coaf, Roberto Leonel, não está garantida.
Ele indicou também que o órgão pode mudar de nome. Deve estar pensando em substituir “investigação” por “acobertamento”.
Ou seja, o que ele quer é acabar com o órgão, como ele explicita em seguida. “Se vai ser o Banco Central, quem vai decidir é o Roberto Campos [presidente do BC]. Agora, o que parece que ele pretende é ter um quadro efetivo do Coaf, que mudaria de nome inclusive”, afirmou o presidente.
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