
Na avaliação da deputada federal e da vereadora do Recife, as ações de Bolsonaro representam ameaça contínua à ordem democrática e à estabilidade institucional do País. Além disso, o ex-presidente excita gente perigosa e desgovernada
Em reação a mais um ato antidemocrático promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), e a professora de direito e vereadora Liana Cirne (PT), do Recife, ingressaram com pedidos de prisão preventiva contra o ex-chefe do Executivo, respectivamente, na PGR (Procuradoria-Geral da República), e no STF (Supremo Tribunal Federal).
Ambos os pedidos foram motivados por declarações e atos realizados por Bolsonaro em manifestação em Copacabana, neste domingo (16), que juntou 18,3 mil pessoas, segundo estudo realizado pela USP.
Na avaliação das parlamentares, as ações de Bolsonaro representam ameaça contínua e permanente à ordem democrática e à estabilidade institucional do País.
A propósito, o mandato presidencial dele foi usado o tempo todo, contra a democracia e o Estado de Direito.
O ex-presidente está parado no tempo. Trata-se de saudosista do regime militar instaurado no Brasil, por meio de golpe de Estado, em 1º de abril de 1964. E que durou até 1985.
RISCO À ORDEM DEMOCRÁTICA
No pedido endereçado à PGR, Salabert argumenta que as declarações de Bolsonaro representam risco à ordem democrática. Segundo a parlamentar, a manifestação alimenta a insatisfação de grupos extremistas e potencializa atos violentos.
Ela também pede a proibição do uso de redes sociais e a participação em eventos públicos por parte de Bolsonaro
TENTATIVA DE OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA
Na representação encaminhada ao Supremo, Liana alega que as convocações de Bolsonaro via Instagram configuram tentativa de obstrução da Justiça e incitação a novos atos antidemocráticos, que visam anistia para aqueles envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 2022.
Ela também solicita medidas cautelares para restringir a atuação de Bolsonaro em novas convocações.
ATAQUES A MORAES
Durante a manifestação, Bolsonaro atacou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF, que o envolve e também a outros 33 implicados.
“Todos os inquéritos do Moraes são confidenciais, secretos. Ninguém pode saber de nada que está ali. Ele começou a investigar o presidente da República, em julho de 2021, e não tinha fato definido. Eles nos acompanhavam 24 horas por dia”, afirmou.
Segundo ele, Moraes atuou para evitar a reeleição dele em 2022. “Houve sim mão pesada do Alexandre de Moraes nas eleições. Por exemplo, segundo decisão dele, eu não podia mostrar imagem do Lula defendendo aborto, não podia botar imagem do Lula defendendo ladrão de celular”, emendou.
MANIFESTAÇÃO ESVAZIADA
A manifestação em Copacabana, organizada pelo pastor Silas Malafaia e com a presença de diversas autoridades, ocorreu em meio à expectativa pelo julgamento no STF sobre a trama golpista após as eleições de 2022.
Bolsonaro é um dos 34 denunciados e apontado como líder da organização criminosa. O Supremo vai analisar, nos próximos dias 25 e 26, a denúncia contra o ex-presidente e outros 7 acusados.
De acordo com monitoramento da USP (Universidade de São Paulo), cerca de 18,3 mil pessoas participaram do ato em Copacabana. O Datafolha generosamente indicou a presença de 30 mil pessoas.
Ambos os números ficam abaixo do que Bolsonaro conseguiu reunir antes.
Em 7 de setembro de 2022, quando era presidente, Bolsonaro convocou ato que juntou 64,6 mil pessoas no mesmo local, também segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP.
Em abril de 2024, outra manifestação a favor dele reuniu 32,7 mil apoiadores.
FORA DA REALIDADE
O próprio Bolsonaro chegou a falar em reunir público de 1 milhão de pessoas na manifestação deste 16 de março. Depois reviu a previsão para 500 mil. A ficha do ex-presidente ainda não caiu. As grandes mobilizações quando ele era presidente, não eram só em função dele.
Havia outros atrativos e elementos que o exercício do cargo atraía, que agora, sem mandato, inelegível e, tudo indica, próximo de ser processo, condenado e preso, os apelos a favor dele diminuíram sobremodo. Mas ele ainda não se deu conta disso.
A PMRJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro), sob o comando do governador Cláudio Castro (PL), aliado do ex-presidente, informou que cerca de 400 mil pessoas passaram pela manifestação em Copacabana. Um cálculo absurdo que só desmerece a imagem da instituição.
PARA QUE SERVIU
O ato em Copacabana, objetivamente, não serviu para ampliar a pressão sobre o Centrão pela votação no Congresso do projeto de anistia dos condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro.
A avaliação é de dirigentes de 3 partidos de centro-direita. Com adesão aquém do alardeado pelo grupo do ex-presidente, a manifestação acabou por expor que “Bolsonaro está perdendo o mando das ruas”, avaliou um aliado do grupo.