Dezenas de idosos argentinos tiveram sua marcha ao Congresso Nacional reprimida pela Polícia com gás de pimenta e químico que produz queimaduras. “Querem a privatização das pensões e aposentadorias, voltando ao modelo que fracassou nos anos 90”, alertam organizadores do ato.
A Polícia Federal argentina usou gás de pimenta e um novo produto químico que produz queimaduras para reprimir nesta quarta-feira (28) uma marcha de aposentados e pensionistas que se dirigia ao Congresso Nacional, em Buenos Aires, para protestar contra o iminente veto do presidente Javier Milei à lei que altera a fórmula de pagamento, ampliando o arrocho ao retirar o reajuste conforme a inflação.
“Nos jogaram gás de pimenta no rosto, é uma loucura isso”, descreveu às redes de televisão um dos aposentados. O idoso denunciou que começaram a ser empurrados pelo contingente policial, conforme determinação do “protocolo anti-piquetes” da ministra da Segurança, Patricia Bulrich, que abusou ainda de cacetetes.
“Tenho 80 anos, quero morrer de pé, não de joelhos”, disse um manifestante. “Tenho 75 anos, vivi a era Videla e isto já parece igual, atiraram-nos gás nos olhos, é muito triste”, acrescentou outro reformado, que necessitou atendimento após atingido nos olhos.
Jorge Rafael Videla é considerado até hoje um dos ditadores mais sanguinários da América Latina, um general que, com o apoio e o estímulo da CIA, foi responsável por todo tipo de atrocidades, desde a tortura e assassinato de milhares de oposicionistas, até o sequestro de crianças.
A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, ressaltou que “vivemos um momento muito difícil, arriscado e também muito perigoso, porque o mal é contagioso”. Aos 93 anos, a veterana combatente apontou que teme cada vez que sai de casa e que o governo procura “implantar o ódio, tentando passar que as vítimas foram aqueles que deixaram 30 mil pessoas mortas e desaparecidas, mas as que tiveram os seus bebês e bens roubados”.
“Isso é uma vergonha. Somos trabalhadores, trabalhamos a vida inteira. Agora esse ladrão diz que o país vai derreter porque nos dá um reajuste miserável. Isso tudo é mentira. Quem pode acreditar nessa barbaridade? Quem pode sobreviver com tão pouco tendo que comer e comprar remédios?”, acrescentou outro aposentado à televisão.
Presente ao ato, o deputado nacional da oposicionista União pela Pátria, Germán Martínez, recordou que todas as quartas-feiras há mobilização e nunca há problemas. “Hoje houve uma decisão da polícia de adotar uma atitude distinta”, esclareceu Martínez, sublinhando que o ocorrido foi uma covarde repressão.
CORTE DOS SAGRADOS RECURSOS DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO
Membro da Mesa Coordenadora Nacional de Organizações de Aposentados e Pensionistas da República Argentina, Marcos Wolman, assinalou que “o governo está levando à retirada do financiamento do sistema previsional”.
“O plano deles é marchar para a privatização do sistema, vimos isso na Lei de Bases, no Decreto de Necessidade e Urgência (DNU de Milei) e no Pacto de Maio”, repudiou Wolman, que entre outros pontos conceitos considerados “intransigentes“, definidos por Milei inclui a inviolabilidade da propriedade privada, o equilíbrio fiscal, a redução dos gastos públicos, a exploração dos recursos naturais do país, a reforma trabalhista e… a reforma previdenciária”.
“Querem a privatização das pensões e aposentadorias, voltando ao modelo que fracassou nos anos 90”, rechaçou.
A mobilização dos aposentados, além de reivindicar o veto da política de desmonte da Previdência, também tem como objetivo promover a campanha de assinaturas contra a asfixia do sistema. “É importante que a sociedade descubra como o governo está agindo para desfinanciar as reformas. As contribuições previdenciárias estão sendo reduzidas, pois estão retirando o imposto do dólar”, explicou. Além disso, apontou Wolman, “o aumento do desemprego e do trabalho informal também desfinancia o sistema, porque diminui o número de trabalhadores contribuintes por cada reformado. Tudo isto acontece enquanto a contribuição mínima paga pela Previdência cobre tão somente um terço da cesta de pobreza”.