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“O que a gente experimentou no DSEI Yanomami nos últimos anos foi um verdadeiro aparelhamento político, de verdadeiras oligarquias políticas que detém o poder em Roraima. As dificuldades que nós identificamos da área de gestão é resultado desse aparelhamento.”
A declaração é do secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, durante coletiva de imprensa realizada em Boa Vista (RR) nesta quarta-feira (8), na qual apontou que os DSEIs (Distrito Sanitário Especial Indígena), incluindo o Yanomami, foram alvos de controle político em todo o estado.
Apesar de não ter citado nomes, Tapeba ainda disse que esses políticos — que teriam dificultado a atuação das equipes dos DSEIs— também mantêm ligação com garimpeiros. Ele justificou que não poderia apontar nomes ou dar mais detalhes sobre o mencionando aparelhamento porque a PF (Polícia Federal) já estaria investigando o caso.
Na coletiva, Tapeba defendeu a necessidade de instalação de um segundo hospital de campanha na região yanomami para atendimento aos indígenas a fim de evitar o deslocamento deles a Boa Vista. Um plano de infraestrutura para melhoria das condições nas unidades de saúde também será montado.
“Vai resultar numa solução de água para as unidades de saúde, energia elétrica, internet e telefone e melhora nas condições físicas para diminuir a rotatividade de profissionais”.
Um levantamento prévio feito pelo Ministério da Saúde sobre a situação encontrada na Terra Indígena Yanomami registra remédios vencidos, seringas orais reutilizadas indevidamente e fezes espalhadas em unidades de atendimento. O relatório aponta também desvio de comida e de medicamentos para tratamento de malária.
O documento, ao qual a Folha de São Paulo teve acesso, foi elaborado após vistoria realizada no Dsei dentro do território Yanomami entre 15 a 25 de janeiro.
Além desses problemas, o texto relata que uma série de polos-base, que são unidades de saúde instaladas nos territórios, foi fechada por causa do medo gerado pela presença dos garimpeiros que atuam na região, que mantém ligações com o tráfico de drogas e têm apoio de militares. A relação do garimpo ilegal com o crime organizado já havia sido admitida em 2021 pelo então vice-presidente da República, general Hamilton Mourão.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o país assistiu ao aumento explosivo do número de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. A atividade criminosa, que foi estimulada e facilitada pelo ex-presidente, é responsável pela situação caótica das unidades de atendimento.
A conivência com o garimpo e a falta de assistência à saúde indígena na área yanomami levaram a uma crise de saúde no local, com o avanço de casos de malária, desnutrição grave e outras doenças associadas à atividade de exploração —que provoca desmatamento e contaminação por mercúrio.
Profissionais da Saúde estiveram no polo-base de Surucucu, em Roraima, que atende 23 comunidades indígenas e tem capacidade para 60 pessoas. O relatório da pasta da Saúde revela que, a falta de condições obriga os indígenas a fazerem fogueiras para se aquecer, o que já resultou – inclusive –em queimaduras em crianças.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva –que assegurou que uma das prioridades da sua gestão será a expulsão dos garimpeiros da terra Yanomami – estima em ao menos 15 mil a presença dos invasores no local, mas o número pode chegar a 40 mil.
Em janeiro, o governo federal decretou estado de emergência em Roraima e passou a desenvolver uma série de medidas emergenciais para assistência aos yanomamis, com a instalação de um gabinete de crise, que envolve gestores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS).
O presidente Lula já esteve em Roraima, acompanhado de uma comitiva ministerial para acompanhar de perto a situação. Houve reforço da presença de profissionais da Saúde, envio de alimentos, medicamentos e ações diversas.
A Força Aérea Brasileira já lançou duas toneladas de alimentos e remédios no território Yanomami, que é o maior território indígena do país, com cerca de 9,6 milhões de hectares, equivalente ao Estado de Pernambuco, e também já resgatou mais de mil pessoas que precisavam de atendimento de saúde.
“É muito triste ver a forte presença de garimpeiros e uma grande destruição… as áreas de garimpo parecem infinitas, o território está todo tomado”, declarou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, que esteve no local para coordenar as ações humanitárias. “É uma situação de emergência permanente”, acrescentou.
De acordo com as autoridades, as equipes de saúde continuam resgatando “entre 30 e 35” pacientes de diversas comunidades Yanomami em estado “grave” por dia.
Atualmente, muitos garimpeiros já estão abandonando a região por conta própria depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou na semana passada uma zona de exclusão do espaço aéreo sobre a reserva. A medida impediu a circulação de pequenos aviões que os invasores utilizam para transportar comida e suprimentos.
O ministro da Defesa, José Múcio, viaja nesta quinta-feira (9) a Roraima junto com os três comandantes das Forças Armadas para coordenar a megaoperação de retirada de garimpeiros iniciada nesta semana.